Chico Xavier - O Primeiro Livro

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Capítulo XLI

Capítulo XLI

(Versos a um agressor do Espiritismo)


Ó padre lutador, procurai santamente

Apregoar ao mundo herético e descrente

Os dogmas ancestrais da vossa velha Igreja!


A árvore do progresso, esplêndida, viceja.

A Ciência caminha a passos de gigante

Para se unir à Fé, operosa e triunfante.

É preciso instalar a Inquisição de novo,

Contendo a aspiração indômita do povo,

De saber a verdade acerca do Destino.


Proclamai, proclamai o dogma divino!

Fazei bulas, torcei as leis, trazei Loiolas,

Ensinai catecismo em todas as escolas;

Ponde sobre a esperança o inferno que flameja,

Cheio de excomunhões e de mastins da Igreja!

Ensinai que Deus é o bramânico sátrapa

Que enviou para o mundo os bergantins do papa,

Afirmai que um sacrista é um ministro do Eterno.

Comei Jesus no pão refogado em falerno;

Formai sob a batina as gerações vindoiras,

Tomai em vossas mãos das crísticas tesoiras,

Cortai a asa de luz de toda liberdade,

Afogai na descrença a pobre Humanidade,

Multiplicai no mundo as vossas benzeduras,

Multiplicai na 1greja os ritos e as tonsuras!


Teologicamente, anatematizai

Todo aquele que em Deus sentir o amor de um Pai,

Ponde em cada recanto um novo Torquemada,

E um trapo de batina ao pé de cada estrada;

Fazei autos-de-fé, pregai probabilismos

Dentro das ilações e dos anacronismos,

Endeusai sobre o trono a fortuna dos Cresos,

Esquecei sobre a lama os pobres indefesos.


Transformai todo templo em balcão de bentinhos,

Com representações em todos os caminhos;

Interpretai Jesus no prisma do interesse,

Traficai com o altar, vendei o ensino e a prece,

Anatematizai todas as heresias;

Aprovai, aplaudi as grandes simonias,

Porque, em verdade, são como crimes sagrados

E a estola de um sacrista é isenta de pecados.


Incensai Harpagões, absolvei magnatas,

Entre encomendações, discursos, sermonatas;

Lembrai a Inquisição e a história do papado,

Retende na memória os erros do passado.


Lede com desassombro o intrépido Barônio,

Sem o medo pueril do inferno e do demônio,

E vinde proclamar ao mundo fariseu

Que somente na 1greja há sendas para o Céu;

Só a Igreja possui a santa autoridade,

Dentro das presunções da infalibilidade.


Sobre o luxo gritai no púlpito florido,

Gritai que o mundo está perverso e corrompido.

Escrevei com furor contra as guerras tigrinas,

A abençoar fuzis, metralhas, carabinas,

A discórdia infundi! Nutri regionalismos.

Incentivai com ardor os rubros fanatismos.


Se puderdes, irmão, armai nova fogueira

A quem asseverar que o Papado é uma feira

Onde Deus é um cifrão e onde se negocia

A bênção de Jesus, e a bênção de Maria;

Onde a verdade está sob as cavilações

Dos círculos hostis de torpes convenções!

Praticai e afirmai ainda mais do que isto.

Tendes a autoridade e a mansidão do Cristo…


Mas, ouvi minha voz impávida e serena!…

Fazendo-vos ouvir, tomando a vossa pena,

Jamais vos esqueçais de que a verdade é de ouro.

Afastarmo-nos dela é andar no sorvedouro

Da calúnia que fere o coração mais rude,

Da mentira que, enfim, não alcança a virtude,

Que traz, porém, consigo o vírus que envenena!…


Quem perpetra a inverdade a si mesmo condena.


A luta da verdade, a luta das ideias,

É feita nos clarões das grandes epopeias,

Abrindo o coração ao nobre sacrifício;

Cada gesto leal é sublime interstício

Por onde a luz penetra em jorros cristalinos,

Clareando o porvir ignoto dos destinos.


Criar uma ficção e excomungar de oitiva,

É próprio das paixões e próprio da inventiva.

Nunca vos entregueis a tanto despautério,

Jamais enxovalheis o vosso ministério.


Acostumai-vos, pois, ao sol que tudo aclara;

Deixai a insensatez dos clérigos, da tiara,

Abandonai a treva e vinde para a luz!

Aprendei muito mais do exemplo de Jesus.


Olvidai convenções, congregações, papado,

Que a Verdade jamais se vende no mercado.




Recebida em 16-03-1934.

Essa mensagem foi também publicada pela FEB e é o 5ª poema do 30º capítulo do livro “”



Guerra Junqueiro
Francisco Cândido Xavier


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