Colheita do Bem

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Capítulo CXI

Não estamos desanimados nem vencidos


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20/02/1952


Meus caros filhos, Deus abençoe a vocês todos, fortalecendo-nos na luta redentora de cada dia.

Estamos regressando de um campo imenso de batalha, onde as forças do bem e do mal se empenham no combate. Não estamos voltando ao santuário da oração, porque dentro dele estivemos em permanente e iluminada comunhão de hora a hora. Tornamos ao reequilíbrio emocional, refazendo energias para a continuidade do trabalho defensivo que o Senhor nos confiou.

Sabíamos, meu caro Rômulo, como lhe seria dolorosa a contemplação da zona escura de conflitos abertos, em cujo desdobramento os mais altos valores morais de serviço são cruelmente atacados e retalhados sem comiseração, entretanto, era necessário que você visse pessoalmente conosco a extensão do abismo, entendendo, de alguma sorte, as complexidades do problema.

. Achamo-nos, aliás, edificados e fortes em nosso caráter e em nossa consciência, contudo, é imprescindível saibamos interpretar com valor a nossa necessidade de coragem e paciência. Compreendo-lhe as inquisições amargas e, mais que nunca, tenho andado em companhia de sua mente e de seu coração para responder, no silêncio de nossa integração espiritual, sem verbo articulado, o que pensamos e o que sentimos.

Nem sempre as nossas respostas se fazem claras como seria de desejar, mas a substância permanece invariável em sua retentiva espiritual, em forma de intuição lógica e imediata. Sei quão penosa é a nós todos a ideia de nos distanciarmos, ainda que temporariamente, da paisagem que por tanto tempo amealhou bênçãos e oportunidades de trabalho para nossos espíritos. Seu coração está neste recanto de terra, em forma de arvoredos e fontes, flores e frutos, oásis e caminhos, e, em sua criação, temos encontrado recursos de estabelecer o posto abençoado de reconforto e serviço para nós mesmos. Todavia, atravessamos uma hora difícil em que se faz imperioso “olhar mais alto”. Custamos tanger teclas tão delicadas como sejam as de nosso assunto nesta noite, no entanto, é indispensável atacarmos o problema francamente.

A sua e nossa questão é daquelas em que os fatores tempo e tolerância não podem ser desprezados. Não sabemos para que lado se voltarão a ventania e a tempestade e, por isso mesmo, não nos cabe precipitar qualquer juízo. Não estamos livres da brutalidade e da sombra em nossos passos, em nos referindo à sua tarefa na região do serviço administrativo, e em razão disso toda a prudência e toda a calma se fazem, para nós, imprescindíveis.

Aqueles que lhe devem consideração e apreço não conseguem olvidar que você lhes pode legar a vaga funcional na instituição em que a sua firmeza no trabalho conseguiu se manter na mesma posição de chefia por mais de trinta anos consecutivos e, no fundo, você precisa contar com esses ataques, abertos ou disfarçados, de vez que, a qualquer preço pretendem auferir vantagens, das quais você, por felicidade, não teve tempo de cogitar. Se pudéssemos esperar garantias do centro, seria natural aceitar o duelo na periferia, mas não ignoramos as contingências da vida política de nosso país na atualidade. A hora é por demais obscura para contarmos com luzes que estejam fora de nós. Assim sendo, acendamos a lâmpada de nossa fé para a marcha necessária. Ainda que possamos caminhar apenas alguns centímetros por dia, prossigamos mesmo assim. Há uma Justiça vigilante que mede o nosso mérito pela nossa boa vontade no esforço e no sacrifício.

Não podemos admitir valores de sinceridade nos dois companheiros que lhe presidem o setor de ação. Estive em sua companhia na visita ao nosso abnegado amigo Odilon Braga e partilho-lhe a opinião. Tudo é brumoso em torno da expressão documentária com que se pretendeu justificar o seu afastamento. Não nos sentimos, assim, autorizados a plantar as sementes da confiança nos recipientes a que nos referimos. Guardemos, desse modo, a expectativa nas horas porvindouras e esperemos com fé nas circunstâncias de mais alta expressão na vida pública, únicos elementos que, na verdade, poderiam renovar os acontecimentos. A ideia da renovação, dessa maneira, é uma necessidade em nossa esfera imaginativa. Precisamos criar novos padrões e novas senhas de luta para qualquer eventualidade, considerando, embora, que a Vontade Divina pode alterar o curso das causas e das coisas, descerrando-nos novos horizontes.

Noto, na gleba onde o seu mais sublime ideal de administrador está plantado, bastante dureza espiritual para uma sintonia com a nossa esperança. A indisciplina e a ingratidão fazem coro com a política sem escrúpulos e não podemos dissimular nesta hora de conversação franca a nossa quase mágoa ante as dificuldades antepostas à sua ação e devotamento. A crueldade da rebelião encontra eco em homens representativos sem madureza íntima para a visão dos enigmas que nos assoberbam e as vozes da maldade nos perturbam a rotina preciosa. Medite, pois, meu filho, e balanceie no próprio coração as vantagens e as desvantagens da luta. Observe se convém prosseguir disputando, se você julga conveniente o continuísmo do seu trabalho aqui, e estaremos com a sua escolha, cooperando ao seu lado e amando as suas criações, não obstante reconhecermos as nuvens amontoadas no céu e as pedras espalhadas no chão.

Rendo graças a Deus por vocês haverem chegado a esta hora de decisão com nobreza moral e fidelidade cristã. Não é fácil alcançar o cume espiritual em que estão respirando sem estabelecer guerra interior na própria alma, por muitos e muitos anos. Felizmente, estamos com a nossa consciência tranquila e com a higiene de nossas mãos bem cuidada. O curso adiantado na escola terrestre a que se promoveram pela serenidade das atitudes e capacidade de renunciação é agora dos mais brilhantes, mas também dos mais difíceis e espinhosos. O momento ainda é de incerteza quanto às lições que nos foram reservadas, mas devemos estar firmes e bem dispostos. Não se deixem dominar por qualquer sentimento de tristeza ou “derrotismo”. No madeiro, o Cristo parecia vencido, entretanto, a cruz era o começo de sua maior luta pela redenção, que ainda não terminou. Defendamos a saúde e a paz, e aguardemos as horas que virão com a certeza do apóstolo Paulo quando nos afirmou que “tudo coopera para o bem dos que amam a Deus”. (Rm 8:28) Às vezes, no momento, não enxergamos com precisão o papel da dificuldade ou da dor em nosso caminho, mas o tempo se encarregará de tudo mostrar-nos com justiça e proveito em sua milagrosa missão de sereno explicador da vida.

Espero, meu caro Rômulo, que você continue calmo e ponderado no desdobrar dos fatos que nos impressionam e preocupam. Façamos o que estiver ao nosso alcance para estabelecer o direito, sem ofensa, e para restaurar a verdade, sem violência. Somos vários companheiros com os amigos que o visitam e todos me delegam a satisfação de cumprimentá-lo por sua vitória — vitória com Cristo, no mundo invisível do próprio coração. O nosso amigo Mário Telles abraça-o com carinhoso enternecimento. Ajude as suas forças físicas conservando-se de cabeça erguida e sentimento harmonioso. Cada dia tem a sua mensagem e cada mensagem tem a sua expressão.

Contando com o ânimo varonil de vocês todos, sob a tormenta em que navegamos, e pedindo-lhes confiança em Deus e em nós mesmos para a superação de nossas próprias deficiências, reúne-os num afetuoso e apertado abraço o papai amigo e o vovô muito grato de sempre,




Nota da organizadora: Sobre Odilon Braga não nos foram dados maiores informes. Vide informações sobre Odilon Duarte Braga no site:



A. .Joviano
Francisco Cândido Xavier


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Romanos 8:28

E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados por seu decreto.

rm 8:28
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