09/11/1949

Meus caros filhos, Deus abençoe a vocês, conferindo-lhes muita paz e saúde, alegria e fortaleza.

Nesta noite, reunimo-nos todos para agradecer a magnífica oportunidade de uma volta à Bahia.

Nosso amigo João de Deus Macário tem razão. e o viajor atento, que guarda a jornada nos moldes legítimos do trabalho, encontra sempre frutos preciosos nos pomares alheios, nos quais, a seu turno, deixa também a boa semente de suas experiências.

A excursão era maior do que poderia parecer à superficial apreciação de vocês. E o nosso amigo das noites de terças-feiras não poderia faltar ao cometimento. Precisamos de um padre esclarecido para servir-nos de intérprete, em várias e complexas situações, e o nosso admirável companheiro agiu sempre à altura de nossas necessidades. Felizmente, a colheita de observações valiosas foi grande e se não é possível descerrar à visão de vocês um painel adequado e vivo da plantação efetuada, por agora, mais tarde reconhecerão, conosco, a glória do serviço a que atendemos.

O homem que planta um carvalho ou um cedro se surpreende muitíssimo com o resultado de sua obra depois de alguns decênios. Estejam convictos de que os nossos trabalhos lucraram muitíssimo em colaboração e rendimento espiritual. Quanto ao passado, esperemos um pouco mais. Nossa experiência direta em tempos coloniais não foi propriamente na terra baiana, apesar dela imperar fortemente em nossos sentimentos e ações, requisitando-nos à mais santa admiração e ao melhor carinho, mas sim mais para o norte, na antiga capitania de Pernambuco, onde muitos sonhos e esperanças de vida europeia transplantada nos presidiram a movimentação. Não foram pequenas as tarefas junto ao solo cheio de surpresas e de exigências ásperas, e nem menores as lutas que tivemos de sustentar. Entretanto, foram o suficiente para entenderem a grandeza da nacionalidade nascente e a fulguração dos seus destinos sob a claridade cristã do Evangelho renovador.

Por enquanto, convertamos o amor e o ministério no ideal de servir a todos e de nos consagrarmos a mais altos padrões da vida coletiva e, com o tempo, examinaremos os detalhes técnicos de nosso desligamento do campo psíquico do Velho Mundo, sequiosos que nos achamos há muitos anos de renovação espiritual, através de recursos quais os que possuímos atualmente em mão, na largueza da terra e na solidariedade e singeleza dos corações no ambiente fraterno. Creiam que o nosso esforço de hoje é uma bênção, porque operamos num clima ideal de paz e aprimoramento, desfrutando verdadeiro curso preparatório à frente da vida mais alta.

Quanto aos ensaios mediúnicos de nossa querida Wanda, são eles de molde a inspirar-nos as melhores expectativas, porque partidos do seu espontâneo interesse de servir. A maioria dos médiuns permanece, infelizmente, atendendo aos princípios da inércia, qual ocorre ao senso empedrado que espera os golpes do alvião e das máquinas de grande tamanho para oferecerem a estrada benéfica ao trânsito público. É por isso que todos os aprendizes do Evangelho, que caminham para esse esforço nobre em voluntário impulso do coração, sem aguardar a picareta e a pá do concurso inferior, se fazem verdadeiros beneméritos da nossa causa de espiritualidade. Nesse caso, a simpatia dos benfeitores dos Planos sublimados é um fator decisivo na vitória procurada. O instrumento que se candidata ao trabalho ativo pode, assim, devotar-se a estudos importantes e preciosos, com alusão à tarefa que desempenhará, em seu terreno de interferência pessoal. Nesse sentido, todo médium lucrará expressivamente, arregimentando valores novos em conhecimento e virtude na intimidade de si mesmo. Em nos comunicando, experimentamos uma certa dependência do padrão mental e cultural do registrador psíquico, que é a organização medianímica, razão que nos induziria a aconselhar muito estudo edificante e muita meditação construtiva a todo médium que se mostrasse desejoso de colaborar na lavoura do bem e da luz, se eu possuísse bastante autoridade para orientar a comunhão dos servidores. É de toda importância apresentar na mente os mais variados tipos de expressão verbalística, aliados ao calor espiritual com que a fé precisa ser alimentada, porque os instrutores que contam com tempo reduzido na Esfera de vocês aproveitam-lhes a contribuição com eficiência e sem qualquer desperdício dos minutos.

Assim digo porque, se é fácil ao Espírito superior projetar a sua energia condutora ao espírito coletivo, auxiliando a multidão, qual acontece aos chefes de Estado na Terra, isto é, de Mais Alto e sem contato mais assíduo com os campos da dificuldade e da indigência, é quase sacrificial para os vanguardeiros da Espiritualidade Superior voltarem nos próprios passos a fim de prestarem socorro individual, sem maiores possibilidades para vencerem a limitação dos aparelhos vivos de transmissão humana, por intermédio dos quais são compelidos a se exprimir.

Um médium deve encher-se de elementos educativos, tanto quanto o tipógrafo que necessita trazer a oficina bem provida de tipos diversos, habilitados a satisfazer as singularidades das encomendas. Creio que foi por isso que o , em se comunicando para a codificação de Allan Kardec, assim se externou, certa feita: “Espíritas, amai-vos! Eis o primeiro ensino. Instrui-vos! Eis o segundo”. ()

Nesta subida, em que vamos disputando lugar na eminência em que nos situamos, o amor cristão e a sabedoria evangélica são as duas luzes, à frente e à retaguarda, descortinando-nos a vanguarda para seguirmos em passos seguros e iluminando o caminho percorrido para aprendermos a não recuar.

Espero que a minha neta consagrada aos ideais superiores da vida se eleve cada vez mais para servir ao Senhor, em campos sempre mais altos de manifestação. Bons amigos permanecem ao seu lado, adestrando-lhe a mente em atividades iniciais, e mais tarde espero, por minha vez, utilizar-lhe também a cooperação com a melhor e maior segurança.

Boa noite a vocês, esperando que se previnam contra os resfriados nesta fase de transição na experiência anual. Com os meus votos ao divino Mestre para que a alegria e o bom-ânimo vivam em nossa companhia em cada trecho de nossa estrada, sou o papai que lhes deixa um afetuoso abraço,

Nota da organizadora: João de Deus Macário foi padre na paróquia de Vila Nova de Lima. Nasceu em 4 de janeiro de 1852 e desencarnou em 12 de dezembro de 1912. Orientou os trabalhos mediúnicos com a utilização da prancheta no culto do Evangelho no lar que o casal Joviano realizou sempre às terças-feiras, de 1936 a 1959, em Pedro Leopoldo | MG, e no Rio de Janeiro. Fonte: (VINHA DE LUZ, 3. ed., 2010. p. 75).