Colheita do Bem

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Capítulo XXXIX

A enfermidade institui verdadeiro reajustamento da alma

29/03/1950


Meus caros filhos, Deus abençoe a vocês todos, conferindo-lhes muita paz e alegrias aos corações.

Ainda temos o nosso pensamento voltado para os nossos amigos General Aurélio e irmã Júlia, e ainda agora também colhemos aqui os pensamentos de carinho e amor com que nos acompanham aqui dentro, embora estejam distanciados de nós sob o ponto de vista físico.

Consideramos os laços sublimes da família e agradecemos a coroa de conforto com que souberam operar o levantamento das energias do nosso bom amigo ainda enfermo. Edifica-me o coração observar a afetividade com que se devotam a ele, concedendo-lhe a certeza de que não se encontra só nesse novo mundo que o seu espírito vai descortinando, embora sem afirmação das notícias espirituais de que se sente possuído.

O instituto familiar, quando evolui e se sublima em verdade, se divide entre dois mundos — entre vocês, predominam os compromissos diante dos impositivos do sangue ou da lei humana, enquanto em nosso meio se sobrelevam os fatores clássicos da afinidade. Somos companheiros uns dos outros, quando nos entendemos reciprocamente.

A renovação do nosso amigo é um grande ensinamento, porque, na realidade, o seu patrimônio de energias fisiológicas tem ameaçado cair em falência, por várias vezes. Entretanto, quanto nos for possível, demorar-se-á ele na Esfera de vocês por mais tempo, de vez que . Ele tem merecido a bênção de semelhante preparação pelo muito que tem desenvolvido em favor de muitos. Ligado à extensa organização de companheiros invisíveis, não somente o nosso grupo se interessa em doar-lhe a energia de que precisa no esforço de readaptação isolada. Vários amigos, todas as noites, tomam os alicerces espirituais construídos pela assistência de vocês, de maneira a ofertar-lhe novos recursos e experiências. Tem visitado nessas digressões da alma quase todos os sítios onde tem trabalhado e lutado na encarnação do presente e é justamente premido pela emotividade trazida de nosso Plano de ação que ele se apaixona dentro das reminiscências do pretérito, ansioso por imprimir adequada forma verbalística às impressões que lhe vibram na memória. Tem conseguido bastante, em razão disso.

O seu campo interior manifesta-se agora muito mais claro. A serenidade, de algum modo, se lhe espelha no íntimo e uma expectativa calma lhe assinala as preocupações à frente do porvir. Sabe hoje apreciar as flores do jardim doméstico com uma segurança difícil de ser atingida na Terra e desfruta de uma grande paz na mente, porquanto no curso de lições que vai frequentando o seu esclarecimento individual vai ganhando regiões mais extensas. Aqui encontra ele mais recursos de enriquecimento do espírito — no Rio conta com mais facilidades para manter o corpo. Na montanha, o coração se movimenta com mais sacrifício e o pensamento ascende a alturas prodigiosas. Entretanto, ao pé do mar, o colo da mãe-natureza embala o sistema vivo da carne com mais carinho e segurança, embora o pensamento não encontre facilidades para desferir voos tão altos. Isso não quer dizer que a inteligência não possa funcionar em sua expressão sublime ao lado da vastidão marinha. Desejamos tão somente assinalar um fenômeno comum na vida de relação. Quanto estiver ao nosso alcance faremos o possível para que o nosso devotado amigo de muitas viagens regresse ao lar que vocês edificaram para mais amplos entendimentos com os setores de vida mais nobre, em nossos círculos. Assim me exprimo porque, fisicamente, as suas energias não têm progredido na direção do verdadeiro reajustamento como desejamos. Acha-se mais inclinado ao repouso, com necessidades mais imperiosas de paciência com o próprio estado, não obstante estarmos ao lado dele, realizando quanto nos é possível ao seu refazimento. Esse o nosso propósito, mas não escondemos a verdadeira posição do campo orgânico, suscetível de maiores alterações, em sentido contrário aos nossos desejos, de um momento para outro.

Estamos, de qualquer modo, sinceramente satisfeitos com a melhoria que vem revelando em seu processo de tratamento. Muitos são os companheiros militares que o auxiliam e, por diversas vezes, tem ido, quando o sono lhe cerra as pálpebras, ao curso de espiritualização mantido na 1greja da Cruz com vistas à necessidade de assistência aos seus cooperadores, diretores e associados. Em tornando ao corpo, guarda recordações imprecisas que se traduzem nas interrogações referentes à morte e aos seus problemas, e em outras cogitações anexas a esse assunto. Estejamos alerta, auxiliando-o por nossa vez quanto possamos no âmbito de nossas oportunidades. Ninguém pode prever o dia de amanhã, a não ser aqueles que colocados em ângulo muito mais elevado que o nosso conseguem observar a movimentação do comboio da experiência humana na zona atravessada, no lugar em que viajamos agora e nas linhas da frente que se mantêm ocultas ao nosso olhar. Entretanto, a situação desenrola-se exigindo-nos confiança e atenção, devoção amorosa e vigilância ativa. Mas sabemos que não é ele apenas o único objeto de nosso auxílio incessante. Alguém igualmente no Rio, pelo avanço das lutas na carne, exige de nós esse concurso silencioso. Que Jesus nos fortaleça para prestar-lhes toda a cooperação suscetível de ser desenvolvida por nossa capacidade de contribuir e ajudar sempre. De nosso lado, não descansaremos, esperando que vocês façam o mesmo.

Aqui, meus filhos, eu cerro minhas notícias de amigo, com um forte abraço em vocês. Rogando à Divina Bondade sustentar-nos os corações no abençoado caminho de trabalho e harmonia que vamos trilhando, sou o papai e vovô muito reconhecido de sempre,




A. .Joviano
Francisco Cândido Xavier


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