Colheita do Bem

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Capítulo XLII

Dessas fontes sempre recebemos


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26/04/1950


Meus caros filhos, Deus abençoe a vocês, conferindo-lhes muita saúde, paz e alegria.

Meu caro Rômulo, tenho meditado em suas reflexões, como sempre, e partilhado as suas experiências interiores com o mesmo aproveitamento habitual. A luta não pode ser diferente. Estamos ingressando num domínio muito diverso de quantos nos guardam a ação no passado, em nos referindo às fontes espirituais da vida superior. . Hoje delas desejamos dar. Para isso, porém, é imperioso conhecermos as mesmas inquietações e sacrifícios de quantos nos proporcionaram a bênção de suas obras no pretérito.

Antigamente, a nossa posição não era outra. Também ouvíamos, no âmago do ser, lições mil e iluminação profunda que não conseguíamos compreender. Nessa matéria, é indispensável jogar com o verdadeiro amor fraternal e com o tempo que tudo transforma. Não pense que a paisagem próxima se modifique de modo fundamental. O necessitado mais difícil de ser socorrido é aquele que transporta consigo a exigência de amparo espiritual. O faminto do corpo tem o relógio do estômago a espicaçá-lo; o caçador de recursos, para a manutenção dos seus, conta com o azorrague dos familiares a lhe reclamarem a cooperação; o doente possui a dor a estigmatizá-lo; daí uma compreensão imediata para todos os portadores de semelhantes impositivos. As necessidades espirituais, porém, são complexas, profundas. A vida mental, entre os encarnados, assinala-se ainda por grande analogia com a experiência fetal do homem físico. As realizações nessa esfera comum na atividade terrestre ainda são vagas, imprecisas, tanto quanto as do homem ativo para o feto, que, embora não tenha pulmões, não sente ainda a necessidade de respirar no berço em que vive.

Tivemos longos milênios de preparação no passado, estamos em milênios de preparação no presente e possuímos vasto patrimônio de séculos no futuro. Tudo o que transcende a rotina respeitável deve ser doado com extrema cautela, porque, um dia, entenderemos com mais propriedade que há multiplicidade de desígnios para as múltiplas coleções dos indivíduos. Cada alma, quanto acontece a cada mundo, é conhecida por vibrações e movimentos que lhe são peculiares e intransferíveis. O que é útil agora para nós é ruinoso para o que vai à frente de nossos passos ou para aqueles que marcham à nossa retaguarda. O remédio de um enfermo não é aplicável a todos e a alimentação conhecerá gradações quase infinitas ou a vida carnal se extinguiria na Terra. Daí, meu filho, esse imperativo de aproveitarmos todos os valores em nós mesmos com vastíssima paciência e invulnerável serenidade à frente dos outros, se não desejamos perder a gloriosa oportunidade de crescimento que nos foi facultada. Creia que, por minha vez, se fui professor de letras na Terra, tenho aprendido enormes e minuciosas lições no Plano a que minha singela colaboração foi chamada. Hoje compreendo que se para a nossa felicidade já conseguimos amealhar alguns conhecimentos na ciência de distribuir os dons e vantagens da vida material que, presentemente, não procuramos concentrar em torno de nós, mas sim estendê-los a benefício de todos, começamos a penetrar o ministério da distribuição dos bens espirituais. Então reconheci claramente por que Jesus preferiu o madeiro. A cruz e a cadeira dourada são tronos diferentes com a mesma função de administrar e governar. Erigindo decretos ou ordenações, sob o ponto de vista humano, transformamos a face da Terra e operamos a renovação e a transposição dos elementos que nos cercam na existência, mas pelas atitudes no sacrifício próprio é que atingimos a capacidade de atuar na vida propriamente considerada. Estamos, pois, no momento, buscando valores para ensinar e ajudar, prover e socorrer na pauta do Mestre divino, e nessa pauta o século é quase um dia, se não pudermos compará-lo a um minuto na eternidade.

Não acredite que isso seja razão a desalento. Há que considerar no assunto os interesses da massa para quem devemos simbolizar o fermento diminuto. A fermentação excessiva destrói o pão e é imperioso cogitar de todas as medidas atinentes à sustentação da vida, nesse particular, com muita calma.

Tome o seu próprio caso de cooperador espiritual, no campo das curas, por exemplo. Se você visse os amigos que o assistem, os que se congregam ao seu lado para contribuir no socorro a distância, os companheiros que lhe renovam os elementos vitais do vaso fisiológico para que as suas emissões vibratórias não se percam na qualidade e na intensidade, os que nos auxiliam para que a calma esteja firme, tanto quanto possível, em sua mente, a fim de que as suas possibilidades presentes não se percam, os auxiliares que influenciam na direção da assistência, acertando arestas e equilibrando providências de serviço e, sobretudo, os que se abeiram das suas horas de prece, rogando medidas mil de alívio para os seus males e para os males daqueles a que se imantam na segunda hora de visão integral de todos os meandros do serviço, você provavelmente não suportaria mais. A sua mente se dilataria, cresceria, buscaria outros processos de manifestação longe dos obstáculos benéficos que a retêm e, à maneira do óleo fervente, se incorporaria a outros setores de energia vital. É indispensável, pois, muita serenidade e muito entendimento para jornadearmos com êxito em caminhos tão vastos e complicados! Concluo, hoje, que inúmeras experiências me enriquecem a senda, que só nos deve interessar a alegria de dar, porque aquele que dá sente sempre e isso é essencial! Temos verdadeiros mundos dentro deste mesmo mundo para descobrir, conhecer, desbravar e utilizar. Somos locatários de uma enorme e acolhedora residência que é a Terra, com vastos compartimentos e, enquanto encarnados, só ocupamos um desses compartimentos. Notem que não digo pavimentos para não oferecer-lhes a ideia de Esferas superpostas. Reporto-me aos círculos de vida que se ajustam na própria linha horizontal das atividades comuns do homem. Nesse sentido, pois, tenhamos sempre a doce coragem de repetir as lições, sem desânimo e sem desagrado. O ensinamento de quem ajuda é pão sublime à fome imanifesta do espírito humano.

Repitamos sempre. A pedra que alcança o mar, guardando a perfeição do esferoide sem garras agressivas, é aquela que repetiu os movimentos da aprendizagem milhões de vezes no curso da corrente. A natureza é pródiga de sugestões nesse particular. O princípio vital demora-se nas árvores centenas de ano, ensaiando rudimentos da memória. A fonte corre sobre o seio adusto da Terra, voltando à atmosfera para tornar ao chão, milhões de vezes. E nesse movimento incessante os seres e as vidas se auxiliam reciprocamente. Repetindo, pacificamente, criamos o bem para a comunidade. A repetição é aprimoramento e criatura alguma lhe fugirá aos mandamentos justos. E para sermos lógicos não podemos esquecer que o Cristo terá repetido para nós, lição a lição, milhares de vezes, sem que pudéssemos entender-lhe os alvitres. Assim, aprendamos a repetir, com o infinito bem, porque só nesse curso avançado de auxílio fraterno é possível incorporar definitivamente à economia de nossa própria alma a essência do amor divino que, por agora, ainda não podemos compreender em sua grandeza total. Não julgue que alinhavo essas palavras na posição dum mestre. Em semelhante capítulo, não passo de seu irmão, e irmão obscuro no setor do aproveitamento, porque à medida que se acendem mais luzes mais se nos mostram as complexidades do serviço a fazer. Refiro-me aqui a esses pontos de estudo, em favor de nossa própria tranquilidade, de modo a fixarmos em nós mesmos todos os bens decorrentes da luta.

Ajudemos sempre. Apaguemo-nos para que o bem resplandeça. Façamos do dia uma lanterna amiga para clarear o nosso caminho e a senda de outros que marcham no roteiro evolutivo não distante de nós. Recapitulemos o gesto de fraternidade no testemunho da boa intenção tantas vezes quantas se fizerem necessárias. Trabalhemos pelo bem geral. Sirvamos a todos, na compreensão justa do nosso papel à frente do Cristo, em cujos padrões santificantes buscamos hoje a inspiração da mordomia ou do serviço e estejamos certos de que no entardecer não nos faltará visão para contemplarmos a glória silenciosa das estrelas a nos indicarem o nascente em que nova madrugada de bênçãos ressurgirá.

Desejo a vocês excelente viagem no campo dos compromissos assumidos e tanto quanto me é possível estou em preparação para ajudar a todos, em qualquer rumo, já que os nossos examinam a possibilidade de longa visita ao mar.

Muita saúde e paz para todos é o que lhes deseja, muito afetuosamente, o papai de sempre, num grande abraço,




A. .Joviano
Francisco Cândido Xavier


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