Colheita do Bem

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Capítulo XLV

A gaiola biológica


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24/05/1950


Meus caros filhos, Deus abençoe a vocês, conferindo-lhes muita paz aos corações.

Partilhamos a justa alegria de vocês ante os resultados de ontem na reunião com o médium Peixoto.

De nosso lado, somos sempre uma assembleia de servidores, acompanhando fervorosamente o serviço desenvolvido pelos companheiros, assim mesmo como num campo habitual de esportes, guardando apenas a diferença de que não somos espectadores e sim cooperadores ativos.

Tudo fazemos, falando coletivamente, para despertar os nossos amigos que dormem, não propriamente na “carne”, mas na “atitude”. Permanecer na carne é sempre um bem, gerando vantagens incalculáveis para a alma, entretanto, não podemos dizer o mesmo quanto à atitude imprópria. Infelizmente, porém, raros acordam ou se modificam.

Estamos, muitas vezes, na posição dos instrutores menos estimados nos colégios comuns. De manhãzinha, o professor arrebata os jovens estudantes ao repouso do leito, impõe-lhes o banho frio e enche-lhes o dia com disciplinas construtivas, mas o aluno, de modo geral, só percebe o valor de semelhante concurso quando já despiu a capa frágil da juvenilidade fisiológica. Enquanto no período escolar, estremece, grita, chora e se revolta e o mentor lhe surge na mente como fantasma incômodo e inconveniente.

Por nossa felicidade, essa situação não existe entre nós. Compreendemo-nos e caminhamos juntos — essa é a nota mais importante no momento, depois da nossa certeza na proteção do Senhor. Realmente, porém, considerando o assunto “deste lado” em que hoje me vejo, o esforço é dispendioso, em demasia, com raro fruto imediato. Ainda assim compensa, porque “todas as sementes da verdade, depositadas na terra viva do coração, despertam um dia, germinam, florescem e vivem para a glória de todos”.

Por mais desejemos alcançar um conceito definitivo para o que se refere à materialização, é quase impraticável o esclarecimento global do assunto na época atual do conhecimento e da expressão humanos. Creiam, contudo, que o serviço daquelas entidades que se movimentaram no recinto é bem semelhante ao de um sábio que fosse obrigado a cumprir delicada missão nas profundezas de algumas de nossas minas de atmosfera densificada e pestilencial. Por agora, a materialização espontânea seria a dos seres mais próximos da condição dos encarnados, condição essa em que muitas criaturas perturbadas e sofredoras se sentiriam contentes com o ensejo de se manifestarem no ambiente vulgar. O acontecimento, porém, seria inútil ou ruinoso por não educar e nem reconstruir espiritualmente na alma, que é eterna. Para abrir as possibilidades de um médium da situação de Peixoto, o trabalhador ou os trabalhadores daqui assumem extensas responsabilidades, com o justo compromisso de lhe utilizarem as forças, para não dizermos da própria vida, em trabalho de auxílio, instrução, aviso, consolação e socorro à humanidade. Daí a enormidade da renunciação, de vez que, para beneficiar, é necessário que os responsáveis assumam a direção e o desempenho de trabalhos efetivamente sacrificiais.

Já comentamos alguma coisa com respeito à feição técnica das tarefas em si mesma. Hoje, porém, desejamos salientar tão somente o problema da luz para que vocês todos se enriqueçam de claridade, cada vez mais.

A entidade no ambiente em exame, que já disponha de grande cabedal iluminativo, é obrigada a “apagar-se”, como aconteceu a André Luiz e aos seus companheiros quando se dirigiam à “paisagem gregoriana” [v. ]. O perispírito como que se obscurece, célula a célula, e o servo, naturalmente envergando o equipamento necessário, penetra a zona da tarefa que o espera vestindo-se com a roupagem que o “médium” lhe fornece, de modo a entrar em contato com as mentes do Plano carnal que a ele se ajustam provisoriamente, depois de muitos anos de adequada preparação.

O material recebido por empréstimo do instrumento em repouso é manejado na formação da destinada à materialização a tempo rápido; daí a impossibilidade de manifestação fácil a qualquer um. Para expressar-me, ali, com alguns aspectos de minha personalidade real, deveria submeter-me a torturado treinamento. Assim, em qualquer circunstância, abusarei da bondade dos companheiros já diplomados em materialização para fazer-me sentir. Quanto ao maior ou menor brilho das manifestações, o concurso do ambiente é decisivo.

A reunião conosco é alguma coisa que o Espírito encarnado pode inclinar para baixo ou para cima. Quando aparecerem assembleias homogêneas, o comunicante poderá exprimir-se com todo o esplendor de seus traços psicológicos integrais e com todo o seu potencial de luz. Mas imagine cada um de vocês a travessia de longo braço de mar, num escafandro delicado, sob as ondas, escafandro esse que se constitui da vida emprestada de um companheiro sob os tentáculos enormes de seres desconhecidos e quase sempre hostis, que podem surpreender-nos em ataque a qualquer momento. O braço de mar é a sala da reunião formada com o material fisiológico dos assistentes. Os seres desconhecidos e hostis são os pensamentos de duas terças partes dos assistentes em todas as sessões dessa espécie, no estado evolutivo em que se encontra a mente humana. Ora, o comunicante benemérito, que sempre comparece por amor e espírito de cooperação, deve empregar noventa por cento de suas energias no ministério da vigilância. Não há espontaneidade no ambiente (porque temos de observar que todo ambiente é vivo) para que a luz do visitante se projete, caso ele se esforce por reacendê-las, através do perispírito do medianeiro. O interesse, aliás, de quem aceita a empresa desse teor é o de vulgarizar-se e obscurecer-se para não atrair maiores vibrações destrutivas e intoxicantes.

O mundo nosso ainda é bem nosso. Se um anjo surgisse dentro dele, não lhe perdoaríamos a excelsitude. Nosso impulso primeiro seria o de lhe examinar a armação das asas, se os anjos de nossa consagrada teologia romana possuírem, de fato, apetrechos dessa natureza.

A formação do corpo gasta tempo. São necessários catorze anos, aproximadamente, para que o Espírito, realmente, se faça adaptado ao processo vital da reencarnação. Calculemos, assim, quantos anos despenderemos na formação, erguimento e engrandecimento do espírito. Sigamos devagar para avançarmos com segurança.

As aplicações das irmãs Scheilla e Nina para o Rômulo se verificaram a meu pedido. Estou satisfeito com os resultados. Desculpem-me a intromissão, mas você, meu filho, pensa em todos e se esquece, cuida da comunidade e olvida-se. É natural que do ponto de vista paterno de minhas possibilidades cuide eu de você, de alguma sorte. Vamos para frente, de alma feliz e de pensamento voltado para o progresso. Espero que a Bondade Divina nos ampare e ilumine a todos.

Nossa amiga Ottília permanece muito satisfeita com o progresso de Wanda, a quem cumprimento pela sadia compreensão de suas novas atividades espirituais. Que Deus nos abençoe a todos.

E não me sendo possível a permanência mais longa, em vista das obrigações que me retêm aos nossos, deixa-lhes carinhoso abraço o papai que lhes deseja excelente viagem, com um forte abraço ao General e à irmã Júlia, com quem se encontra a nossa irmã Amélia em missão de auxílio.

Abraços muito afetuosos do papai e amigo de sempre,




A. .Joviano
Francisco Cândido Xavier


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