Colheita do Bem
Versão para cópiaNo livro do coração
14/02/1951
Meus caros filhos, Deus abençoe a vocês todos, ao lado de nossos bons amigos General Aurélio e irmã Júlia, aos quais, como sempre, renovamos os nossos votos de saúde, felicidade e paz.
Volto hoje às nossas cartas afetuosas e habituais, reafirmando no culto da prece a minha presença, com muito carinho e reconhecimento. Em verdade, o papel e o lápis não constituem recursos essenciais para o nosso intercâmbio, porque, acima de tudo, é que gravamos as mais belas e mais amplas mensagens daqueles que amamos. Além disso, nos momentos de sono físico rara é a noite em que não nos encontramos juntos em serviço ou em estudo, no grande roteiro evolutivo que vamos executando, em perfeita sintonia de sentimentos.
Venho, meu caro Rômulo, para novamente dizer a você, como em todos os dias, que a nossa viagem segue regularmente. É de lamentar que os companheiros encarnados não se recordem de nossos encontros e trabalhos, ideais e planos em comum, aqui onde me identifico à vida nova. Entretanto, ao mesmo tempo, devemos render graças ao Senhor em razão desse esquecimento temporário, porque a lembrança viva dos fatos e feitos da esfera espiritual lhes perturbaria a marcha. Inclinar-lhes-ia o raciocínio à falsa apreciação de valores dentro da vida e lhes conduziria a fé à posição do êxtase improfícuo, eliminando-se valiosas oportunidades de progresso e elevação para cada um. Muitos acontecimentos, meu filho, que você interpreta como sendo “improvisações magnéticas” em seus trabalhos de socorro fraterno e indiscriminado, representam exatas reproduções de serviços que nós ambos observamos nas excursões de estudo no meu novo campo de ação. Graças a Deus que é assim! Quantos desencarnados se beneficiam, às vezes, com um simples passe ou com uma simples oração! Jesus nos fortaleça para servirmos sem fadiga a todos aqueles que o seu infinito amor nos envia à cooperação. Quanto às lutas no caminho que você vai trilhando, na administração e no esforço, na criação e na realização, não espere mudanças ou alterações que demonstrem vantagens no plano terrestre. As lutas e problemas que o cercam jamais diminuíram. Crescem constantemente, desdobram-se, multiplicam-se e agigantam-se. Acredite que esse é um bom sinal. Não se deve aguardar louros em pleno combate e você permanece forte e bem disposto em sua batalha. Para fazer algo no mundo, é preciso sofrer muito, e para dar ao mundo alguma coisa é indispensável sofrer ainda mais. No silêncio com movimento você aprenderá sempre grandes e abençoadas lições. Não importam a sombra ou o obstáculo. Importa seguir sem desânimo, convertendo cada dia em instrumento do “fazer com o bem e para o bem”. Atendida essa base, avançaremos para setores mais altos.
Você, felizmente, vem organizando com muito valor a sua fortaleza íntima. Tenho estado muito satisfeito com o seu esforço em reestruturar o campo emotivo. Isso é muito importante. Não podemos ligar os fios da vida em todas as redes. É imprescindível evitar os choques, os “curtos-circuitos”, as descargas violentas! E, assim, com a oração e a boa vontade não há problema que sempre paire sobre nós, de modo insolúvel. Cada dia é dia de avançar para a frente. Considere a tristeza ou a desistência, perante o bem, como inimigos da nossa paz. É necessário agir, trabalhar e aprender sempre. Agindo, libertamos as energias maduras em favor do nosso destino melhor. Trabalhando, faremos as mais elevadas provisões de experiência edificante. E aprendendo, acenderemos eterna claridade dentro de nós mesmos. Nesse processo sairemos de nós próprios ao encontro da vida, armazenando os tesouros de que se fez portadora para a humanidade inteira. Parar, não. Seguir, sempre.
Você, meu caro Roberto, está sempre lembrado pelo vovô. Não se inquiete à frente das dificuldades eventuais na questão de serviço que lhe domina os pensamentos. A vida é semelhante a um escultor poderoso e sábio. Antes de tudo, examina o material em que plasmará a obra-prima. Você, muito naturalmente, em sua idade, está atravessando essa condição. O destino consulta o seu espírito e estuda as probabilidades de conduzi-lo à mais alta galeria do respeito geral, somente adquirível pelo esforço reiterado e paciente nas lutas desdobradas e exigentes em que, para a nossa ventura, fomos localizados. Aceitemos os alicerces e o edifício subirá seguro e reto. Esperemos com a total confiança de quem sabe que nos achamos sempre nas mãos do Senhor.
Wanda, vivo deveras feliz com as perspectivas do seu trabalho mediúnico. Achando-nos à frente de nossa estimada irmã Júlia, recordo o bem que poderíamos estabelecer enviando mensagens de Ottília aos cegos dos diversos recantos do país. Sou sempre um apaixonado pelas ideias novas a correrem aqui e ali por sublimes fontes de renovação mental e semelhante medida seria excelente contribuição entre os nossos amigos mais necessitados de luz. Quanto mais espalhadas as mensagens melhor para o nosso ponto de vista. Eu sei que fazer dá sempre muito trabalho, mas isso representa um privilégio para os servidores mais decididos na órbita sublime do bem. Você, em suas tarefas, escolha um horário, ainda que mínimo, cada dia. Isso facilitará de muito o seu trabalho e nos possibilitará recursos mais fáceis de contribuir ao seu lado. À noite, se possível, todos os dias, ou em dias determinados da semana, poderíamos colaborar em sua sementeira, com muito proveito. Marcada, porém, a ocasião, organize um quadro mental que não seja abalado ou transformado facilmente. No seu caso, começaria com trinta minutos e, em seguida, dilataria o tempo, à medida que a fadiga fosse sendo derrotada naturalmente. É uma sugestão. Não faça sacrifícios. Tudo deve ser espontâneo como a respiração, ou como a água pura de uma nascente.
Vocês todos previnam-se contra a gripe. Algumas gotas de limão nas águas, por alguns dias, com o uso do Gelseminum e do Eupatorium, alternados, produzirão bons resultados. A nova gripe não é diferente das anteriores e sim mais intensa pela acumulação dos tóxicos invisíveis na atmosfera comum.
Deixo-lhes a todos as minhas lembranças, carinhos e afetos de todos os dias. E reunindo-os num abraço muito carinhoso sou o papai, vovô e amigo de sempre,
Nota da organizadora: Vovô refere-se aos trabalhos de transcrição para o sistema Braille, destinado à leitura pelos cegos, levados a efeito pela Sociedade Pró-Livro Espírita em Braille, fundada pela vovó Júlia, pelo Gen. Mário Travassos, Luiz Antônio Mildeco Filho — cego de nascença —, e pelo oficial da Marinha, Marcus Vinícius Telles — cego em decorrência da explosão de uma caldeira. Dentre esses trabalhos destaca-se o da transcrição do Pequeno Dicionário da Língua Portuguesa, de autoria de Hildebrando Lima e Gustavo Barroso, que levou quatro anos de trabalho, resultando, ao todo, em 64 volumes, que se encontram na Biblioteca Benjamin Constant, no Rio de Janeiro. Vovó Júlia dividiu a tarefa em partes, que entregou à minha mãe Maria, em Pedro Leopoldo, e a várias senhoras, no Rio de Janeiro. Esse trabalho foi organizado e coordenado por vovó Júlia a pedido de sua tia Engracinha, já no Plano espiritual, e que se reconhecia devedora dos cegos, porque, mulher poderosa em vida anterior, decretara essa pena para o chefe de insurreição surgida em seus domínios e, em o fazendo, teve como vítima o próprio filho.
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