Colheita do Bem

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Capítulo XCVII

Tenhamos calma e passemos

12/09/1951


Meus caros filhos, Deus abençoe a vocês, conferindo-lhes muita paz e alegria aos corações.

Meu caro Rômulo, ainda é você, como sempre, o objeto da minha correspondência afetiva de hoje.

Quando as lutas recrudescem, as cartas são lenitivo justo entre aqueles que realmente se estimam. Não se deixe, meu filho, avassalar por preocupações excessivas. Naturalmente, não convoco sua consciência à leviandade ou à indiferença. Não. Apenas desejo que o seu bom-ânimo se mantenha dentro da proverbial robustez, a fim de que a tempestade não nos surpreenda qual se fôssemos um edifício cheio de brechas. . O serviço, com os resultados benéficos de que se faz seguido para a coletividade, é a maior recompensa do Senhor ao nosso esforço. Não se detenha em divagações tristes ou desencorajadoras e a ventania passará mais depressa.

Quando provocamos crises com a nossa atuação pessoal menos edificante e menos construtiva, no âmbito das atividades a que fomos chamados, realmente somos dignos de lástima. Contudo, no caso que atravessamos, você tem o conforto de observar o serviço idealizado por você caminhando em linha de vanguarda, auxiliando e melhorando sempre. Os desastres administrativos de que muitas repartições se sentem ameaçadas na atualidade decorrem da esfera governamental, o que vale dizer, do inevitável.

Compreende você que é a cabeça doente a responsável pelas dificuldades do corpo. Quando a política se expressa em país juvenil quanto o nosso, não existem instituições apolíticas que a constranjam a retroceder. Isso é um consolo. Quem resistirá ao peso insistente da massa de força guardando-se no plano em que só nos compete obedecer? Ainda assim amigos devotados de nossa paz e de nosso trabalho, desencarnados e não, prosseguem auxiliando-nos a superar os óbices em curso. Há ocasiões em que a obtenção de tempo é o primeiro passo do triunfo que desejamos. Ganhemos tempo quanto possível para o cultivo do algodão com que abafaremos as pedradas e interferências soltas.

A política é dos homens e o trabalho é de Deus. Peço a você, quanto possível, retirar o seu pensamento do assunto, imantando-o ao seu ministério novo nas curas. Não digo que você se desligue dos seus deveres de orientador e de amigo do serviço em que, espiritualmente, nos achamos juntos há bastante tempo, mas não convém fazer a sua tranquilidade depender de fatores externos ao seu próprio coração. Preocupar-se, mas não engolfar-se. Ajudar-se para ajudar. O tempo é o nosso calmante mais poderoso e, certo, há de reunir o seu coração de trabalhador abnegado com as auras da bonança. E creia que justamente aqui é dos lugares onde a paz e a ordem se estabeleceram com louvável segurança. O seu campo de ação é arroteado sem rebeliões e sem escândalos, sem perda de tempo e sem inutilidades. Imagine, pois, o que surge não longe sob o jogo das ambições desmedidas! Não poderemos nem de leve saber o que verdadeiramente se passa à distância de nosso caminho, porque a luta é análoga à tormenta desencadeada no momento brasileiro atual. Refugiemo-nos, assim, em nosso serviço. Dentro dele temos base para o ingresso em aperfeiçoadas estações da Espiritualidade Superior. Quanto nos seja possível, conserve a sua serenidade. As nuvens se desfazem e o sol sempre fica.

Tenho cooperado, quanto me é possível, pela continuação das boas disposições de sua mãe e espero que o Mestre me auxilie a derramar os recursos do amparo espiritual em favor dos nossos. Aqui se encontra comigo a nossa Marcelina, fortalecida, alegre e bem disposta! Mais equilibrada com a realidade, vai entendendo a extensão de nossos obstáculos para remover certos espinheiros da senda. Agora compreende e justifica a luta encontrada por nós ambos no que se refere ao apoio que nos propusemos oferecer. Graças a Deus, já permanece em trabalho junto das criaturas que nos são valiosas pelos laços do passado e conto com esse concurso, que me é indiscutivelmente precioso.

Unam-se você e a Maria às nossas preces pela paz e pelo fortalecimento de todos. Assim é necessário, a fim de que se sobreponham a certas dificuldades e conflitos na esfera da saúde. Hoje, para a maioria dos nossos, me desvelo em auxiliar-lhes os recursos físicos para que não diminuam ou esmoreçam, de vez que os interesses da alma eterna não podem, por agora, atrair as atenções daqueles a quem nos reunimos para a plantação redentora do progresso espiritual antes da atual reencarnação. Adubemos a árvore e ajudemos a flor que desabrocha, mas estejamos certos de que a produção do fruto não nos pertence.

Penso, meu filho, e muito bem-humorado, que o maior benefício, mais imediato, haurido por nós depois da morte das células físicas é justamente o de sermos relegados ao desconhecimento metódico e voluntário, porque assim também o desencarnado encontra as forças de que carece para desvencilhar-se daqueles que deixou no mundo.

Embora atento aos problemas que ali se desdobram, referindo-me a Botafogo, no que condiz com o equilíbrio orgânico de nosso pessoal estou satisfeito e feliz. Motivos novos de serviço e elevação na própria mente nos ajudam a realizar a libertação de que necessitamos para evoluir. Trabalhemos e oremos cada dia, orando e trabalhando cada noite. Nesse abençoado roteiro de nossas atividades, tudo resultará em paz e felicidade para nós e para quem nos cerca.

Peço a vocês dizerem à nossa estimada irmã Júlia que a irmã Engracinha se acha presente e envia-lhe, em nome de nós todos, carinhosos “parabéns” pela passagem do feliz dia 15 deste mês. Que Jesus, o nosso divino Médico, a auxilie na recuperação das próprias energias é o que desejamos, com todo coração, contando vê-la, em breves dias, novamente restaurada para a nossa boa luta de sempre.

Agora, vamos aos retratos. Peço ao Roberto preparar-me a caneta-tinteiro. Tenho a ideia de que oferecerei a vocês, simplesmente, uma sombra do que fui, porque hoje meu aspecto é diferente, convidando-me a muita meditação. De quando a quando, porém, é útil reportarmo-nos ao passado, a fim de colhermos as flores da saudade e da alegria, do carinho e da gratidão.

Envolvendo-os em meus braços, e cumprimentando à nossa querida Maria pelas melhoras da saúde, deixa-lhes todo o coração reconhecido de sempre o papai e vovô que não os esquece,




Nota da organizadora: Vovó Júlia fazia aniversário no dia 1 S de setembro. Completaria, na data, 72 anos de idade.



A. .Joviano
Francisco Cândido Xavier


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