Colheita do Bem
Versão para cópiaExigências do trabalho
17/05/1950
Meus caros filhos, Deus abençoe a vocês, concedendo-lhes muita paz e alegria no círculo das lutas de sempre.
Nossa irmã Amélia pretendia escrever para o filho querido, mas, não podendo fazê-lo, em razão de serviços que lhe não permitem hoje a manifestação, recomendou-me trazer-lhes o seu pensamento amigo com a promessa de uma visita em primeira oportunidade.
A palestra em que se empenham guarda para mim um atrativo forte. É um tema sempre novo esse que se reporta às para que o progresso e a iluminação não sejam utopias em nossos corações e em nossas vidas.
O Espírito reencarna com o impositivo primordial de aquisição da experiência e sem o esforço no campo de atividade a que foi projetado não recolhe benefício algum, a não ser aquele de conhecer a grade biológica para oferecer notícias de suas manifestações.
A alma inerte é realmente o único prisioneiro digno de lástima. Daí o perigo de todas as situações que nos constranjam ou induzam à perda sistemática do tempo. Nesse sentido é que a prova dos grandes orientadores das tarefas mais terrestres que celestes, mais carnais que espirituais, se apresenta invariavelmente com aspectos mais graves, porque os missionários dessa ordem muito raramente encontram ensejo para cogitarem dos problemas essenciais que lhes digam respeito, de vez que a multidão de pessoas, de questões ou de coisas lhe absorve o tempo e a existência.
No fundo, todas as atividades se irmanam e se confundem. Cada mordomo e cada servidor da economia divina sobre a Terra se acham no melhor lugar em que possam produzir na lavoura do bem comum em nome de Deus e cada inteligência oficia no altar de si mesma na adoração ou na obediência ao Senhor, mas para aquele que administra as lutas são sempre mais fortes e mais violentas, porque é necessário manejar duas espadas ao mesmo tempo e são muito poucos aqueles que conseguem o equilíbrio para o ministério da elevação.
No quadro geral do mundo, porém, o trabalho é o motor da prosperidade eterna. Nossa mente exige ação para renovar-se em todos os momentos da luta. Nosso Espírito é conduzido à reencarnação à maneira do aprendiz retardado num grande centro de produção apressada. Tudo nos reinos inferiores ao homem é movimento e energia, em combinações incessantes, relativamente às quais são raros aqueles que dispõem de recursos para analisar convenientemente. Mas se aprofundarmos a sonda do pensamento no espaço e no tempo, observamos a rocha trabalhando para sustentar a Terra ou para converter-se em solo aproveitável e na intimidade de cada trecho de matéria, aparentemente bruta ou inconsciente, auscultamos milhões de vidas primárias em turbilhonária agitação. Mais adiante, encontramos a natureza trabalhando e agindo, aperfeiçoando, corrigindo, eliminando, selecionando e brunindo na água, no ar, nas árvores e nas coleções de seres menos evoluídos que o homem comum. Em tal espetáculo, tudo se movimenta e se desloca na direção de algo melhor, de algo mais elevado, mas a criatura vulgar que elegeu a inércia por ideal de vida acredita-se o ponto-chave, ou a sede viva, desses movimentos e passa a beneficiar-se deles, indebitamente, para consagrar a ociosidade ou o sistema de furto psíquico a que se acolhe, porquanto aproveita e não é aproveitada, recebe e não dá, entesoura e não ajuda, retém e não distribui. Ignora, deliberadamente ou não, que o chamado mundo de inércia em que respira é um verdadeiro “precipício de atividade”, se podemos classificar assim a crosta da Terra, e acreditando no repouso destrutivo cristaliza as suas melhores possibilidades e nega-se a aderir ao programa da vida que foi chamada a servir.
Então, mais tarde, sem o aparelho maravilhoso de peças fisiológicas em que se expressa no corpo vulgar, que é igualmente uma colmeia “formigante” de serviço a milhões de células vivas, ativas e atuantes, a criatura viciada pela ausência do trabalho como que se detém na corrente do Universo e demora-se longo tempo nesse “ponto-morto do eu”, copiando a atitude de um peixe que, temendo a jornada das águas sobre as pedras e sobre o lodo do chão, se deixasse ficar num poço cômodo, dentro do rio, sem desenvolver a capacidade natatória de que é portador — quando seus companheiros alcançassem o mar, para a comunhão mais alta com o planeta, ele ainda estaria circunscrito à cisterna de sua eleição, incapaz de compreender a amplitude do raio de ação dos outros peixes e repetindo sempre as mesmas operações.
Não tenhamos dúvidas. Renascimento na Terra é escola de trabalho para fins de reajustamento, corrigenda ou sublimação e sem trabalho o restaurador nada restaura, o educador não educa e o santo não santifica.
Grande é a exigência do Plano superior, mas é impossível qualquer incompreensão nesse domínio quando alcançamos alguma fagulha de claridade divina dentro da consciência. E tomo a conversação de vocês, nesta noite, para objeto de nosso intercâmbio agora, para que vocês entendam quão triste é a posição de muitos daqueles que nos rodeiam, inabilitados à aceitação de qualquer mudança benéfica na esfera dos preconceitos e dos pontos de vista a que se ajustaram. Muitas vezes, oferecem-me a ideia de Espíritos paralíticos na gaiola viva do corpo, mais dignos de compaixão que de censura. E não precisamos alongar o assunto em várias considerações, porque a percentagem dos corações renovados dentro de um século é tão estreita que não nos convém definição indiscreta do número.
Libertemo-nos de semelhantes cadeias trabalhando, agindo, atuando com as possibilidades que o Céu nos confiou, em caráter temporário, e utilizando os patrimônios a que, por auxílio do Alto, temos tido acesso.
Fazer algo — deixar alguma coisa, movermos para os cimos do entendimento, subir à compreensão, aceitar horizontes novos, pavimentar o caminho das horas com edificações valiosas a todos —, eis algumas sugestões que nenhum de nós deve desprezar, porque o tempo é um benfeitor milagroso para quem o aproveita, mas um censor implacável para quem o menoscaba, porque nele, com ele e por ele nossa individualidade eterna se afirma e se dá a conhecer, onde estivermos.
Penso que a “tirada” filosófica está pronta. Desculpem. É o desejo de colaborar com vocês na tarefa de cada dia. Renovo as minhas lembranças da carta última, no capítulo da saúde. Quem louva o trabalho não pode esquecer a máquina, através da qual o serviço se concretiza, se firma e se expande.
Boa noite para todos. Continuem recordando a “nossa comunidade” nas orações. O serviço nesse setor é maior que possa parecer. Rogando a Jesus nos fortaleça e nos sustente em todas as fases da luta redentora, deixa-lhes um grande e afetuoso abraço o papai de sempre,
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