Nas Pegadas do Mestre

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CAPÍTULO 125

Comunismo cristão

A Terra não é propriedade de ninguém: é patrimônio comum da Humanidade. Assim pensavam os primeiros cristãos, cujo modus vivendi em tudo se ajustava àquela ideia, conforme atesta peremptoriamente a seguinte passagem extratada do livro dos Atos, cap. II, vers. 43 a 47: "E todos os que criam estavam unidos, e tinham tudo em comum, e vendiam as suas propriedades e bens e os repartiam por todos, consoante as necessidades de cada um. E perseverando unânimes no templo, e partindo o pão em casa, comiam com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus, e tendo a simpatia de todo o povo. E diariamente acrescentava-lhes o Senhor os que se iam salvando. "

Tal é, em resumo, como Lucas descreve, no citado livro, a fundação da igreja cristã, no dia de Pentecostes.

O pseudo-direito de posse invocado pelos homens com relação à terra e a todos os bens temporais que dela dimanam, é uma utopia. Somos usufrutuários e não proprietários.

A Terra com suas riquezas, cujo valor deriva de sua conversibilidade em pão para a boca, representa na economia humana o mesmo papel que o ar, a água, a luz e o calor.

Assim como nos utilizamos destes elementos, despidos das egoísticas preocupações de monopólio e de usurpação, assim deveríamos fazer com respeito àqueles outros. Do material, só precisamos aquilo que é reclamado pelas necessidades reais de nosso corpo.

Tudo o mais que acumulamos representa uma apropriação indébita, conforme nos ensina a Parábola do Mordomo Infiel, inserta no Evangelho de Lucas, cap. VI. Por ali se vê que não há riqueza legítima: todas são iníquas, tenham sido adquiridas por este ou aquele meio que se convencionou justificar.

Fascinados pela cobiça, cujas raízes se perdem na voragem de nosso egoísmo, buscamos, em vão, apossar-nos de bens que nos foram confiados para administrar durante algum tempo. Dizemos — em vão — porque assistimos todos os dias à destituição de administradores que daqui partem pesarosos, deixando invariavelmente todos os bens, com tanta avareza acumulados. Nem assim nos convencemos; temos olhos e não vemos.

Do monopólio da terra e de seus bens originam-se a fome, a miséria e a anarquia, que flagelam as nações. A Rússia nos dá disso o exemplo mais frisante. No passado, atesta-o eloquentemente o regime dos latifúndios, determinando a ruína econômica dos países em cujo seio se implantou.

O solo dividido e retalhado, entregue àqueles que o arroteiam e cultivam, assegura a abundância, a prosperidade e a paz das nações. Os monopólios, os privilégios e as odiosas barreiras alfandegárias constituem os verdadeiros fatores da carestia e das guerras. O egoísmo é contraproducente e destrutivo em suas expansões: pretendendo garantir, compromete; pretendendo ajuntar, espalha; pretendendo consolidar, dissolve.

Infelizmente, o termo — comunismo — assusta os espíritos timoratos e conservadores, porque, em geral, o tomam como sinônimo de anarquia ou coisa que se lhe assemelhe. É verdade que certos indivíduos insensatos, senão tarados, têm procurado implantar pela violência doutrinas subversivas e perigosas, às quais indevidamente denominam de comunismo, socialismo, etc. Tais doutrinas, porém, nenhuma relação têm com o comunismo cristão. Este jamais se implantará à força; ele só vingará como efeito dum grande surto de progresso intelectual e de aperfeiçoamento moral da Humanidade. Por outra via, é escusado esperá-lo. A felicidade, na Terra como no Céu, há de ser a consequência lógica e positiva duma causa: a educação de nosso espírito, determinando uma razão esclarecida, uma vontade firme e um coração puro.




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