Nas Pegadas do Mestre

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CAPÍTULO 136

O bom senso

"Porque não ajuizais por vós mesmos daquilo que é justo?"


(Evangelho.)

"Tu, porém, guarda o bom senso em todas as coisas. " (Paulo a Timóteo.) O pedreiro, no desempenho de seu labor, lança mão, a cada passo, do prumo e do nível. O navegante tem os olhos na bússola que lhe dirige a derrota. Manejando o leme, aparelho simples e de pouca aparência, os timoneiros imprimem direção, tanto aos barcos modestos como às grandes naus que singram a imensidade dos mares. Graças aos movimentos isócronos do pêndulo, os relógios marcam, com exatidão precisa, as mínimas frações do tempo.

Da mesma sorte, existe algo no homem que orienta seus passos, que determina a natureza de sua conduta, que regula suas palavras, que joeira seus pensamentos: é o bom senso.

Sem aquele predicado, tão modesto que qualquer pessoa o pode possuir, o homem é o pedreiro sem prumo e sem nível, é o barco sem leme, é o navegante sem bússola, é o regulador sem pêndulo.

O bom senso é que valoriza as qualidades do espírito. Onde não há bom senso, os mais preciosos predicados se desmerecem, os mais brilhantes dons se desluzem. É semelhante às vias férreas que valorizam todas as regiões por onde passam. Sem elas, que valor têm as terras, por mais férteis e produtivas que sejam? Do mesmo modo, que valor tem a inteligência, o saber e a erudição, sem uma dose, ao menos, de bom senso?

Que falta ao rico avarento que imobiliza sua fortuna, e ao rico perdulário que dissipa seus bens em regabofes e orgias? Um e outro carecem de bom senso.

Que representa a mais peregrina beleza feminina, refulgindo através da graça e do espírito, mas desacompanhada de bom senso? É fogo-fátuo, é fosforescência do mar: nada mais.

Tudo o que é em demasia, sobra; tudo o que é de menos, falta. Como achar o justo peso, a justa medida, a retidão, a equanimidade ? Com o bom senso, mas só com o bom senso.

O critério em tudo se faz mister. Com ele, as coisas boas são mesmo boas; sem ele, as coisas boas e belas se desvirtuam e se deslustram. A mesma virtude, seja esta ou seja aquela, está na sua dependência. O trabalho — que é uma virtude — sem o bom senso torna-se infrutífero. Quanta gente há que moureja desde que o Sol se levanta, no oriente, até que se põe, no ocidente, sem que, de tanta faina, lhe advenha o desejado conforto material, o almejado sossego espiritual? Qual a causa do insucesso? A carência de bom senso no trabalho.

Porque há pessoas que ganham pouco e vivem bem, e outras ganham muito e vivem mal? É porque aquelas têm, e estas não têm o bom senso necessário para equilibrar a receita com a despesa.

A própria fé, despida de bom senso, ao invés de elevar o crente aos páramos da luz, precipita-o nas regiões confusas e ensombradas do fanatismo.

A capacidade de ajuizar e discernir com acerto, o critério, o bom senso, em suma, é um predicado suscetível de ser desenvolvido como qualquer outro. Depende da autoeducação do nosso espírito. O que denominamos inteligência, razão, consciência, vontade, etc, não passa, em realidade, de manifestações do espírito. O espírito é tudo.

A religião do espírito, promovendo a obra de nossa autoeducação, desenvolve a inteligência, aclara a razão, afirma a vontade, aperfeiçoa a consciência e cria o bom senso.

O Espiritismo, restaurando o vero Cristianismo, é a religião do espírito.

Flammarion, apelidando Kardec de bom senso encarnado, falou como profeta.




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Lucas 12:57

E por que não julgais também por vós mesmos o que é justo?

lc 12:57
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