Nas Pegadas do Mestre

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CAPÍTULO 138

A Lei e a Graça

"A Lei veio por Moisés, mas a verdade e a graça vieram por Jesus Cristo. "


(Evangelho.)

Deus, na expansão do seu infinito amor ao serviço de sua inteligência, houve por bem servir-se de dois fatores para promover a evolução do nosso espírito: a Lei e a Graça.

A Lei está personificada em Moisés, a Graça em Jesus Cristo. A Lei é manifestação da justiça, a graça é ação da misericórdia.

A Lei está expressa no Decálogo. Seu objetivo é responsabilizar o indivíduo. Antes de o homem conhecer o "não matarás", tirar a vida do seu semelhante era, para ele, ato normal. Do conhecimento daquele preceito veio a culpa, veio a responsabilidade pelo delito. Antes da Lei não havia pecado; a Lei foi promulgada para que o pecado abundasse, disse o apóstolo dos gentios.

A Lei, portanto, veio estabelecer os primeiros mandamentos da moral, mandamentos que os homens infringiam habitualmente sem compreenderem a gravidade de semelhante proceder.

Uma vez esclarecido pela Lei, cada vez que o homem peca, incorre em condenação.

Outrora se imaginava que Deus punia os infratores da Lei intervindo diretamente. Hoje, sabemos que é por meio da mesma Lei, na parte que se denomina — causalidade —, que o delinquente vem a sofrer fatalmente o efeito do delito cometido. Em tal importa a ação da justiça exercendo-se através da Lei.

Ciente e consciente da origem dos seus sofrimentos, o homem começa a fugir do pecado, para escapar à dor, opondo as primeiras resistências ao impulso das paixões e aos arrastamentos viciosos da sua natureza inferior. De tal sorte, entra em plena atividade a Lei, um dos fatores da redenção, compelindo o homem à conquista dos elevados destinos que lhe foram reservados.

Mas, isso não é bastante para ele galgar os páramos de luz, as cumiadas da evolução. Não basta abster-se do mal, é preciso fazer o bem para penetrarmos nos tabernáculos eternos. As virtudes negativas devem culminar nas virtudes positivas.

Começa, então, a Graça, desempenhando-se da parte que lhe toca. Jesus Cristo é o introdutor da Graça no seio da Humanidade, como Moisés o fôra da Lei.

Com a ressurreição do Cordeiro Imaculado, iniciou-se a época da Graça, cumprindo-se a profecia de Joel, citada por Pedro no dia de Pentecoste. A Igreja Triunfante enceta sua franca comunhão com a Igreja Militante. Um arco-íris de luz une os dois polos: o terreno e o celestial. O Céu e a Terra estreitaram-se num amplexo que perdurará até à consumação dos séculos.

A influência do Consolador — designação que se reporta aos membros da Igreja Triunfante —, agindo diretamente nos corações, representa a Graça como agente destinado a incrementar, ou melhor, a completar a obra da salvação, iniciada pela Lei.


Uma vez sob o domínio da Graça, a Lei desaparece. Não fica invalidada: embebe-se na Graça. Daí o dizer de Paulo, anunciando o evento de Jesus ressuscitado: "A salvação é pela Graça. "

O homem não se contenta mais com a atitude passiva. Ele quer subir, quer viver na Graça, quer saturar-se dela, não pode prescindir de sua magia. Tem fome e sede de justiça, de verdade, de luz. Seus esforços agora não se resumem em fugir do mal para escapar à dor; convergem para a prática do bem, para a aprendizagem da virtude. Ele entra no terreno positivo, olhos fixos em Cristo-Jesus, acumulador e distribuidor da Graça.

A Lei, portanto, lança o embasamento do edifício. A Graça levanta as colunas, constrói, põe-lhe a cúpula. A Lei, em síntese, diz: "Não faças a outrem, o que não desejas que os outros te façam. " A Graça prescreve: "Faze aos outros tudo o que desejas que os outros te façam. " Podemos estar na Lei e fora da Graça; mas não podemos estar na Graça, fora da Lei. A Graça encerra implicitamente a Lei, porém a Lei não abrange a Graça, faz os heróis e os mártires. A Lei mata o pecado, a Graça gera a virtude. A Lei faz o humano. A Graça surge onde começa o divino. A Lei prepara o homem para bem viver na Terra. A Graça ensina-lhe a alcançar o Céu. A Lei produz tipos como o Moço de Qualidade de que nos fala o Evangelho. A Graça engendra Paulo e Madalena. A Lei faz homens incapazes de iniquidades. A Graça faz os heróis e os mártires. A Lei desperta o raciocínio. A Graça faz vibrar as cordas mais íntimas do sentimento. Aquela fala à razão, esta ao coração. A Lei promete, a Graça dá. Uma gera a esperança, outra a fé. A Lei diz: Sai das trevas. A Graça diz: Vem para a Luz. A Lei desliga o homem do mundo. A Graça o arrebata para a Vida Eterna.




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