Nas Pegadas do Mestre

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CAPÍTULO 26

A figueira estéril

"Um homem tinha uma figueira plantada na sua vinha, e foi buscar fruto nela, e não o achou. Então, disse ao viticultor: Há três anos que venho procurar fruto nesta figueira, e não o acho; corta-a; para que está ela ocupando a terra inutilmente? Respondeu-lhe o viticultor: Senhor, deixa-a por mais este ano, até que eu cave em roda e lhe deite adubo; e, se der fruto, bem está; mas, se não, cortá-la-ás. "


(Evangelho.)

A verdade central da alegoria acima é a seguinte: ninguém deve, inutilmente, ocupar lugar na sociedade. Estamos na Terra, como as árvores, para produzir frutos. Em tal importa o motivo de nossa encarnação.

Cada indivíduo é uma célula do grande organismo chamado Humanidade; portanto, mister se faz que ele, semelhantemente às células do nosso corpo, desempenhe sua função. O parasitismo consiste em consumir, sem produzir. Todos consomem: todos têm obrigação de produzir. Aquele que foge ao cumprimento desse dever é indigno da coletividade de que faz parte.

Falamos, até aqui, de modo geral. Particularizemos. A que fruto se refere a parábola? Assim como as árvores produzem segundo sua espécie e natureza, assim o homem há-de produzir frutos distintos daqueles produzidos pelos seres de categoria inferior.

O animal, agindo no círculo estreito de seu gênero, limita-se à luta. pela conservação própria. O homem, cujos horizontes se dilatam para muito além desse acanhado ambiente, há-de engendrar frutos mais preciosos. O animal vive de sensações;

estas, uma vez satisfeitas, dão-lhe o pleno gozo da vida. O homem tem aspirações irrealizáveis neste mundo. Sua porfia, por isso mesmo, é grande e complexa. Nele palpita, além de uma inteligência e de uma vontade, um coração que vive de amor, e uma consciência que aspira à justiça.

O fruto, portanto, que o homem deve apresentar é a melhoria própria, é o aperfeiçoamento do seu caráter, é o desenvolvimento de todos os atributos e faculdades de seu Espírito, de modo que, ao sair deste orbe, se mostre aos olhos de sua consciênci a — esse juiz impoluto —, melhor do que quando para aqui veio.

E não será, acaso, esse o alvo da verdadeira religião? Que outro objetivo mais elevado poderá ela colimar? Porque, pois, confundir e obscurecer o objetivo da fé, quando o incomparável Mestre no-lo mostra simples em sua estrutura, belo, esplêndido e grandioso em suas consequências?

Particularmente à juventude, cumpre meditar no assunto desta parábola. A doutrina que dela ressalta nada tem de comum com a velha escola religiosa, cujos dogmas caducam e se desfazem ao sopro vigoroso do racionalismo contemporâneo.

A religião que ora ressurge das páginas do Evangelho não é a religião da velhice: é a religião forte e varonil dos moços. Tal é a natureza da fé que ela inspira. A figueira do apólogo evangélico era nova. Não se trata dum velho tronco cansado e exausto, mas de uma árvore viçosa e fresca, que nada ainda havia produzido, apesar de se achar em plena época de fertilidade. Isto quer dizer que Jesus apela para a mocidade, pois esse é o estágio de existência em que cumpre estabelecer as bases dum caráter são e íntegro.

O descaso por este apelo do Senhor demanda o emprego de adubos, e o revolvimento da terra em torno da figueira, para que gere figos; isto é, da incúria na obra de nossa evolução nasce a dor, sob aspectos vários e multiformes.

Assim como a charrua rasga as entranhas da terra, cortando fundo, abrindo sulcos, revolvendo a superfície endurecida pela canícula, assim o sofrimento, abalando profundamente o íntimo de nosso ser, desperta a consciência adormecida, acorda a razão, afina os sentimentos.

Como a charrua e os adubos tornam produtiva a árvore estéril, a dor converte as almas frias e egoístas em corações generosos, fecundos em obras de amor.




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