Nas Pegadas do Mestre
Versão para cópiaEquilíbrio e harmonia
Não usar é mais fácil que não abusar. Há mais facilidade em deixarmos os vícios do álcool, do fumo e do jogo, que em regularmos nossa alimentação mantendo-a nos rigorosos limites do necessário.
O objeto dos vícios não constitui inelutável necessidade, ao passo que, sem comer ninguém pode viver. Vícios não se regulam: banem-se. A alimentação requer peso e medida. É preciso, portanto, maior soma de esforços neste caso que naquele outro.
Da mesma sorte, é muito mais fácil conformarmo-nos cm a pobreza que limitarmos voluntariamente nossas ambições. Em ser pobre pela força de circunstâncias não há mérito algum; enquanto que o conservarmo-nos no justo limite de simples independência pecuniária, por vontade própria, sofreando intencionalmente os surtos da ambição, é algo de meritório.
O governo do equilíbrio requer vontade firme, saber, paciência e perseverança. Tais requisitos só se reúnem à custa de esforços e porfias.
O abstêmio acaba perdendo completamente o desejo de beber, de fumar, de jogar, etc, tornando-se-lhe, por isso, fácil manter-se livre daqueles vícios, uma vez subjugados.
Seu poder de resistência não é mais abalado, não é mais excitado, visto como desapareceu nele o hábito contraído, a necessidade fictícia, em tempo sustada.
Precisamente o contrário é o que se dá com a temperança. O comedimento, a medida exata na alimentação, no trabalho, no repouso, na vigília, no sono, no prazer, na aplicação mental, no exercício físico e em tudo o mais que constitui necessidades inalienáveis é de dificílima execução. A linha rigorosa do equilíbrio falseia, oscila como o fiel da balança, precipitando, ora a concha da direita, ora a da esquerda. É a consequência das constantes excitações, reclamando nossa atenção para exigências legítimas de nossa dupla natureza — física e espiritual. Em atender a essas naturais solicitações na proporção precisa, sem excessos nem insuficiências, é que está a magna dificuldade.
Não obstante, é forçoso superá-la, porquanto, a saúde, tanto do corpo como do espírito, depende desse justo equilíbrio cuja chave está conosco. A Providência, em sua sabedoria, colocou nas mãos do homem o seu bem e o seu mal, a sua dita e a sua desdita, fazendo-o arquiteto de seus destinos.
Não podemos ser felizes e venturosos enquanto não lograrmos aquele desideratum, enquanto não criarmos em nós mesmos essa harmonia que em tudo se verifica na natureza e em cujos fundamentos repousa a vida do Universo.
O bem-estar físico, ou saúde, prende-se ao fenômeno do metabolismo, que outra coisa não é senão o balanço exato entre a receita e a despesa de nosso organismo.
Os mundos mantêm-se girando em suas respectivas órbitas, graças ao equilíbrio impecável que resulta de suas forças: atração e repulsão. Em tal se resume a maravilhosa mecânica celeste. No macrocosmo como no microcosmo, o segredo está no equilíbrio.
A estabilidade social depende, a seu turno, de uma questão de equilíbrio entre dois fatores: a ordem e o progresso. Ordem de mais traz estacionamento. Progresso desmedido gera a anarquia. O concurso de ambos numa justa proporção determina e assegura a marcha regular da evolução.
A própria virtude degenera, deixa de ser virtude, quando lhe falta o equilíbrio. Zelo excessivo é intolerância. Paciência demasiada é indiferentismo. Dignidade em excesso é orgulho. Humildade que a tudo se curva é baixeza, é vilania. Daí o acerto do adágio latino: In medio virtus.
Finalmente: tudo na vida é harmonia, e harmonia é equilíbrio. Deus é a suprema harmonia das causas. Ele revela-se no Amor porque o Amor é a majestosa harmonia dos sentimentos apurados, assim como a música é a harmonia dos sons.
Estabeleçamos, pois, a harmonia do nosso ser, colocando-o em harmonia com o Infinito: de tal depende a nossa felicidade.
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