Nas Pegadas do Mestre

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CAPÍTULO 36

O Calvário e o Tabor

Dois montes figuram na vida terrena de Jesus: o Calvário e o Tabor.

Um deles caiu no olvido. A celebridade do outro tornou-se notória, graças aos constantes e repetidos reclamos que a propósito têm feito e continuam fazendo as igrejas ditas cristãs.

No Tabor, Jesus é glorificado pelo Céu, que o recomenda como Ungido de Deus, a quem todos na Terra devem honrar e obedecer.

No Calvário, ele recebe o suplício que lhe infligiram os homens do século, visando com isso a destruir o supremo intérprete da soberana justiça, visto que ele atestava que as obras deles eram más.

Aparentemente aniquilado o Filho de Deus, começaram os homens, tempos depois, a render acendrado culto à memória do seu sacrifício. Criaram símbolos que representam aquele trágico acontecimento, fazendo gravitar em volta da cruz e do Calvário toda a história do Cristianismo, como se em tal ela se resumisse.

Com semelhante proceder tentam apaziguar as consciências, que, hoje como na época da crucificação do Justo, continuam surdas às admoestações do verbo divino.

De tal sorte, enquanto as atenções se voltam para o Calvário, jaz no esquecimento, desconhecido da grande maioria, e deturpado pelo sacerdotalismo interesseiro, o sublime ideal que o Cristianismo encerra. É um segundo atentado que o mundo pretende consumar friamente contra seu Redentor. No Cristo redivivo, exuberante de vida e fortaleza, não se fala. Aos acontecimentos do Tabor, bem como àquela expressa e positiva recomendação das vozes do Céu, ali notificadas, determinando que se ouvisse e se obedecesse ao divino Messias, não se concede o devido valor, carecem de importância para os veneradores da cruz.

Ora, é precisamente amoldar-se à moral cristã que os homens da atualidade, como os de outrora, não querem. Daí as homenagens ao Calvário, e o desdém pelo Tabor, em cujo cimo se ostentou a glória e a autoridade outorgadas ao Cristo de Deus.

O Calvário é a morte, o Tabor é a vida. No topo do primeiro está a cruz, e nela chumbado o Jesus vencido, inerme morto. No alto do segundo, destaca-se o Mestre e Senhor em plena atividade, inacessível às maquinações humanas. Aqui o juiz, lá a vítima indefesa. No Calvário, a vitória da perfídia. Apela-se para aquele e despreza-se este, justamente porque aquele é a noite, e este é o dia. Dos esplendores do Sol fogem espavoridas as aves noturnas, cuja rapinagem só nas trevas livremente se exerce. Atrás do madeiro agacha-se a tirania, o parasitismo, a iniquidade e o egoísmo humano com todas as suas baixezas, sem encontrar protestos nem autoridade que os profliguem.

Abroquelam-se à sombra da cruz os próceres do farisaísmo de nossos tempos. De símbolo da fé, fizeram-na, de novo, instrumento das maiores calamidades. É o espantalho dos humildes. É a arma predileta da hipocrisia requintada. Vemo-la na 1nquisição, promovendo perseguições e chacinas de milhares de vítimas; vemo-la nas cruzadas, semeando a desolação e a morte por toda a parte; vemo-la na noite de S.


Bartolomeu, encharcando de sangue as ruas de Paris; vemo-la em Ruão, atirando Joana d

'Arc às chamas de uma fogueira; vemo-la justiçando Giordano Bruno, João Huss e inúmeros outros mártires da razão e da liberdade; vemo-la manejada hábil e astuciosamente pelos exploradores de todos os matizes, apavorando os simples e fanatizando os ignorantes ;vemo-la finalmente através dessa política mentirosa e vil, hipócrita e pérfida, cuja ação nefasta tem arruinado as nações, mantendo os povos em perene atitude de desconfiança e de sobressaltos.

A tranquilidade do mundo e a paz dos corações exigem, pois, que se obedeça ao Cristo redivivo do Tabor, abolindo-se a exploração em torno do Cristo inerme do Calvário.

As vozes do Céu clamam e clamarão sempre. A palavra do Mestre não passará. A hora da reivindicação soou. O Tabor reclama, pelo verbo difuso do Paracleto, o lugar que lhe compete na história do verdadeiro Cristianismo.




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