Nas Pegadas do Mestre

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CAPÍTULO 37

Valor imperecível

"De que serve ao homem ganhar o mundo inteiro, e perder-se a si mesmo?"


(Evangelho.)

O homem vale mais que o mundo com as suas jazidas; os seus diamantes, e toda a sorte de pedras preciosas. Não obstante, o homem, esquecido de seu valor intrínseco, cujo preço é inestimável, consome-se e esgota-se na conquista do que é perecível, daquilo cujo valor é muito discutível, visto como só vale mediante certa convenção estabelecida pelos caprichos e veleidades do mesmo homem.

Assim, pois, ele dá subido valor ao que, de fato, tem valor muito relativo, ou quiçá não tem nenhum, olvidando o valor de si próprio, valor positivo e incalculável .

De tal vesânia resulta que o homem trata com grande zelo aqueles valores, menosprezando o tesouro inexaurível que em si mesmo encerra, que ele, o homem, em realidade, é. Ao dinheiro, à prata, ao ouro e a outros bens, tidos como preciosos, ele sacrifica o único bem real e inconfundível, que é o homem mesmo.

É por isso que se julga, no mundo, como perdida, a existência que transcorre na humildade dum lar ignorado, na reclusão dum hospital, nas dobras duma enxerga. Em tais condições, o homem se vê impossibilitado de buscar aquilo que se supõe valioso. No entanto, é possivel, é mesmo quase certo, que tais existências sejam preciosíssimas àqueles que as suportam; e, falando em tese, mais fecundas e brilhantes que as admiradas pelo século. O mundo admira o fausto, o luxo, a notoriedade, o exterior — numa palavra. Mas o verdadeiro valor está no interior do homem: está no seu caráter, nos seus sentimentos, na sua inteligência. Não é a forma que encerra o valor a que nos estamos referindo: é o espírito, é a alma, o eu imortal, sede das faculdades e poderes cuja origem é divina.

Educar, isto é, desenvolver tais predicados, é realizar o objeto supremo da vida.

Aquele que mais e melhor o desenvolve, mais aumenta o seu valor intrínseco. E é tão importante, tão santa e tão sagrada a conquista desse ideal, que Deus, em sua soberana justiça, mantém assegurada e intangível, em todos os homens, a possibilidade de realizá-la.

O paralitico, o cego, o leproso, o enfermo, enfim, de qualquer natureza, não está inibido de visar, com êxito, ao alvo grandioso da vida. Encerrem o homem num calabouço, escuro, infecto e úmido: aí mesmo ele conservará intacta a oportunidade de aprimorar seus sentimentos, de galgar novos degraus na escala intérmina da perfectibilidade moral e intelectual. Algemai-o, acorrentai-o, cravai-o numa cruz, como aquele ladrão justiçado à direita de Jesus Cristo; e vereis que o homem, mesmo crucificado, apelando para suas energias íntimas, logrará elevar-se, das misérias da Terra às grandezas do Céu.




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