Nas Pegadas do Mestre

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CAPÍTULO 49

Últimos que serão primeiros

O valor de nossos feitos não está nas proporções vultosas desses feitos. Deus não olha para o volume, nem para a quantidade, mas para a qualidade. Ele não quer o muito, quer o bom, quer o melhor. É preferível, pois, o pouco bom, ao muito regular.

Nossas obras devem ser feitas com alegria e singeleza de coração, sem tédio nem cansaço, sem intenção reservada. A virtude exclui cálculos de qualquer espécie. Todo o bem que fazemos importa no cumprimento dum dever contraído. "Fazei tudo que puderdes e dizei depois: somos servos inúteis, fizemos semente o que devíamos" — tal é a palavra do Evangelho.


É um erro exaurirmo-nos numa labuta febril e penosa, com o propósito de nos tornarmos mais merecedores aos olhos de Deus: "Misericórdia quero e não sacrifícios. "

A vida, mesmo considerada sob o aspecto da existência terrena, é um dom precioso e como tal deve ser vivida. Destruir-lhe o encanto natural; reduzi-la a uma série de atos forçados; transformá-la, enfim, num fardo que se arrasta penosamente, não é virtude, é delito.

Os reclusos do claustro, furtando-se ao convívio social, incompatibilizando-se com a natureza em todas as suas manifestações, longe de se aproximarem do céu, como pretendem, distanciam-se dele; porque todo o móvel de seus atos se funda num requintado egoísmo. O reino dos Céus é daqueles que se tornam como as crianças, diz o Mestre. Onde a simplicidade e a inocência da criança, nessa atitude estudada, nessa vida egoística, cujo único fito se resume na conquista duma grande recompensa.

A verdadeira virtude é aquela que a si mesma se ignora. Os humildes jamais se julgam seres privilegiados. "Bem-aventurados os simples de espírito, porque deles é o reino dos Céus" — reza o Sermão da Montanha. Bem-aventurados aqueles que fazem o bem e não se lembram de que o fizeram. A recompensa é sempre grande para os que nela não pensam, e é sempre mesquinha para os que a têm como móvel de seus atos.

Agir por amor, sem aflições, sem ânimo excitado, fruindo desse mesmo amor um doce e suave prazer — eis o ideal da vida. Os que assim procedem são felizes. Nunca se queixam de ingratidões, nem de cansaço. O tédio e o mau humor jamais os atingirão.

Vivem com alegria de viver: não se esgotam, nem se consomem. Suas energias, tanto físicas como espirituais, são sempre renovadas, mantendo o equilíbrio geral.

Ao homem não compete fazer ajustes com Deus: cumpre-lhe amá-lo e obedecerlhe. Aqueles que prometem fazer isto ou aquilo, sob a condição de lhes ser concedida determinada mercê, desconhecem por completo o caráter da Divindade. Pretendem fixar a paga, estabelecer o galardão. Insensatos! deixai a Deus dar-vos o que bem entender, pois será sempre mais e melhor do que aquilo que concebeis em vosso egoísmo.

Não convém pedirmos a extensão dos nossos méritos: a Deus pertence esse mister.

Ninguém é bom juiz em causa própria. Trabalhemos com simplicidade, com alegria: Deus nos dará o que for justo.

Não convém, tão-pouco, correr com o fito de ganhar dianteira, porque muitos últimos serão primeiros, e muitos primeiros serão derradeiros.

Eis o que nos ensina Jesus através da Parábola dos trabalhadores da undécima hora, inserta no Evangelho segundo Mateus, capítulo vinte.




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