Nas Pegadas do Mestre

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CAPÍTULO 56

O grão de trigo

"Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo caido na terra não morrer, fica só; mas, se morrer, dá muito fruto. "

Tais foram as palavras do Senhor referindo-se ao próximo martirológio que o esperava. Ele compreendia perfeitamente a necessidade de se sacrificar pelo ideal que encarnara, para que esse ideal vingasse e frutificasse.

Como de costume, usando aquele processo eminentemente pedagógico, o Mestre recorre às analogias para gravar seus ensinamentos. E que sabedoria profunda em tão singela semelhança?

A semente, para proliferar, há-de dar-se a si mesma em holocausto. Enquanto se mantiver ilesa, em estado integral, os germes que encerra permanecerão latentes, inativos. Para que entre em ação é indispensável o sacrifício. Quando a semente desaparece, imolada no seio úmido da terra, é precisamente quando a vida surge desse aparente aniquilamento, em largos e francos borbotões. A cova não se fecha sobre ela senão para se abrir em seguida, a fim de a restituir centuplicada.

Tal é o que se passa com o homem. Para que ele dê o que de melhor encerra, é necessário dispor-se ao sacrifício de sua personalidade. Enquanto esta não se oferece em holocausto, os altos poderes do espírito jazem improdutivos, no estado de simples germes, como as propriedades ocultas no âmago da semente. No fundo de nossas almas estão escondidos tesouros inestimáveis. O personalismo impede que nos apossemos desses bens. O egoísmo — misto de orgulho e sórdida ambição —, escravizando-nos às coisas externas, não nos deixa tempo para sondarmos nosso interior.

Imaginemos a semente sempre resguardada de toda e qualquer influência, mantida em perpétuo estado de conservação. Que utilidade teria? Donde vem o valor da semente senão de sua intrínseca propriedade de germinação? E como promover este fenômeno sem a sacrificar? Mas ponderemos: a semente que frutifica seria, porventura, aniquilada?

De modo nenhum. Apenas a aparência foi desfeita; a essência, a vida, porém, até então embaraçada e oculta na forma, transfundiu-se no broto, no caule, no tronco donde pendem ramos frondosos ostentando belas flores e sazonados frutos.

Eis a imagem do homem. Enquanto ele permanece egoisticamente encastelado em seu personalismo, nada pode produzir de elevado ou digno de nota. À medida, porém, que vai resolvendo dar-se em sacrifício pelas causas nobres, transforma-se numa fonte perene de bênçãos para si e para outrem. “Quem quer ganhar a vida, perdê-la-á; quem se dispuser a perder a vida por amor do Evangelho, ganhá-la-á. " É indispensável imolarmos nosso “eu": de tal depende todo bem presente e futuro. Não há sacrifício perdido: do menor ao maior, todos trazem consequências proveitosas à evolução de nosso espírito. Ofertemos, pois, em holocausto, nossas vaidades, nossas ambições, nosso personalismo e nossa própria vida, se tanto for preciso, para que de nosso interior resplandeça a luz divina que ali se esconde; para que nossas almas possam refletir, como límpidos cristais, a imagem santa de Deus a cuja semelhança fomos criados.

Sejamos como o grão de trigo que, morrendo, produz muito fruto.




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