Nas Pegadas do Mestre

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CAPÍTULO 71

Dignidade e orgulho

"Se o teu irmão pecar contra ti, vai repreendê-lo entre ti e ele só. Se te ouvir, ganho terás teu irmão; mas se não te ouvir, leva contigo uma ou duas pessoas, para que por boca de duas ou três testemunhas toda a questão fique decidida. Se, apesar disso, ele recusar atender-te, dize-o à Igreja; e se também recusar ouvir a Igreja, considera-o como gentio. "


(Evangelho.)

Eis aí quanto esforço manda o Mestre que se empregue no sentido de anular uma desinteligência qualquer, antes que ela assuma o caráter de inimizade, tornando-se em causa de separação.

Muito vale, aos olhos do Senhor, a amizade de um irmão, para que nos aconselhe pôr em prática, em prol de sua conservação, todos os meios ao nosso alcance.

Desmanchar dúvidas, alisar nugas, dissipar essas nuvens que comumente se apresentam no horizonte da vida fraternal ou de relação, antes que essas nuvens degenerem em tormentosa procela, é dever primacial de todo aquele que aspira a seguir as pegadas do Filho de Deus.

Infelizmente, porém, longe estão os homens de proceder como ensina o Mestre.

Parece-nos que não haveria rusga que se não desfizesse, nuvem que se não dissipasse, uma vez posto em pratica o conselho do Salvador. Os homens, como as nações, viveriam em paz. A Terra não se embeberia mais de sangue, o mundo deixaria de ser teatro de homicídios e guerras fratricidas.

Mas, como se há-de procurar o ofensor empregando assim tanto esforço, buscando tantos meios de reconciliação, se tal atitude aparece aos olhos humanos como ato de covardia? Onde está, dizem a uma voz, a dignidade da vítima?

Assim raciocina o orgulho humano. Sim, o orgulho, porque não é a virtude, mas as vis paixões que sempre se antepõem, qual pedra de tropeço, no caminho que conduz o homem à realização dos seus gloriosos destinos.

Isso a que os homens chamam — dignidade — e cuja defesa espetaculosa fazem em duelos à pistola, à pena e à língua, é explosão do orgulho; nada mais.

A verdadeira dignidade requer defesa no interior e não no exterior. É dentro, e não fora de nós, que a dignidade reclama defesa. Ninguém pode atentar contra nossa honra e nosso brio, senão nós mesmos.

O homem não é digno nem indigno, bom nem mau, porque os demais o digam; o homem é digno e bom quando a dignidade e o apuro dos sentimentos constituem predicados de seu caráter. Ele será indigno e mau sempre que realmente existam máculas indeléveis em seu íntimo.

É do coração que vem a virtude como o vício, o bem como o mal. É à luz da consciência que o homem se engrandece ou se avilta. Nesse recesso, nenhum elemento tem ação.

O homem que opõe uma ofensa a outra ofensa, que fere ou mata por desforço, age sempre impelido pela tirania das paixões, jamais por princípio de legítima dignidade.

Aquilo que defende é precisamente o que deveria deixar morrer em si: o orgulho.

A verdadeira dignidade é calma e serena: tem comfiança em Deus e na sua Justiça.

É inacessível aos botes do inimigo. Não pede defesa de fora, porque se sente defendida e amparada sobejamente na força do próprio caráter, do qual faz parte integrante.

Deixemos, pois, que morra à míngua de defesa o nosso orgulho, e pratiquemos a sublime doutrina de Jesus Cristo, com respeito a tudo que serve de causa de separação e de odiosidade.


"Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus. "


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