Nas Pegadas do Mestre

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CAPÍTULO 74

A atração da cruz

De ingratidão, todos, neste mundo, mais ou menos se queixam. Comumente os pais, com relação à atitude dos filhos, experimentam o pungir acerbo desse espinho, embora nada deixem transparecer que o denuncie.

No entanto, a ingratidão, como, aliás, o mal sob qualquer modalidade, é uma nuvem fugaz. Em realidade, a ingratidão não existe; o que de fato se dá é maior ou menor delonga no reconhecimento do benefício recebido.

Quando o indivíduo recebe o bem, e de pronto se mostra reconhecido, dizemos que ele é grato. Quando, porém, o recebe e não oferece demonstração alguma de reconhecimento, menosprezando mesmo o benfeitor, dizemos que tal pessoa é ingrata.

Erramos com tal critério. Somos apressados. Julgamos que o reconhecimento não existe, porque deixou de se manifestar imediatamente.

Mas, quem nos afirma que se não manifestará mais tarde? Manifestar-se-á fatalmente, porque tal importa numa consequência de evolução, lei eterna e imutável que rege a Criação debaixo de todos os aspectos, estados, condições. A ausência de reconhecimento pelos benefícios recebidos é atestado eloquente de inferioridade moral. É prova de que o beneficiado não se acha no mesmo nível moral do benfeitor: daí a falta de correspondência, de reciprocidade no afeto e na dedicação.

Aqueles a quem fazemos o bem, ficam sendo nossos, ainda que disso não se apercebam; e, quanto mais pura tenha sido a nossa intenção, e maior o esforço empregado, mais nossos eles se tornarão. Não importa o tempo para a consecução das leis de Deus. Os dias da ingratidão passam como a sombra. Os ingratos deixarão de o ser desde o momento em que as cordas de seus sentimentos comecem a vibrar, tangidas pela força incoercível de uma consciência acordada. E que à noite da consciência sucede a aurora, quem ousará contestar?


O acerto deste enunciado ressalta destas palavras proferidas sentenciosamente pelo maior expoente da moral divina: "Quando eu for levantado, então atrairei todos a mim. "

Jesus reportava-se à sua crucificação, cujo objeto, à medida que fosse compreendido, iria atraindo a ele os corações daqueles por quem se devotara, promovendo-lhes o sumo bem à custa dos mais ingentes sacrifícios.

A cruz, de instrumento de suplício, tornar-se-ia ímã de amor. Mas, como se sabe, o ímã só atrai elementos que com ele tenham certa afinidade. É indispensável haver correspondência entre o corpo que atrai e o corpo que é atraído. Da mesma sorte, é mister que o nível moral do homem irreconhecido suba, que os sentimentos se afinem e se depurem no cadinho da dor, para que ele compreenda a natureza daquela obra de redenção consumada na cruz do Calvário, em seu benefício.

Desde que comece a reconhecê-la, ele irá sentindo necessidade de manifestar seu reconhecimento por aquele que o amou muito antes de ser amado, até que, dobrando os joelhos, se prostrara, como o Leproso Samaritano, aos pés do seu maior benfeitor e salvador — Jesus Cristo, rendendo-lhe assim o inalienável preito de imensa e imorredoura gratidão.




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