Nas Pegadas do Mestre

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CAPÍTULO 8

Pai nosso

"Portanto, disse Jesus, orai vós deste modo: Pai nosso que estais nos céus. "

Uma das originalidades do Cristianismo está na concepção de Deus como pai.

Nenhum outro, além de Jesus, apresentara a Divindade sob aquele prisma. Este fato, à primeira vista banal, é, no entanto, da mais subida importância.

Graças a essa denominação dada a Deus pelo seu Messias, podemos saber hoje, com certeza, onde está o Cristianismo dentre os credos diversos, que se dizem portadores da genuína moral cristã.

O paganismo, atribuindo ao seus deuses interferência direta em todos os acontecimentos que se davam na Terra, fazia deles os juízos mais temerários.

O Judaísmo via em Jeová o rei absolutista e cioso; o senhor onipotente, cujo zelo inexcedível premiava ou punia, até à quinta geração; o chefe supremo e invisível, que, do alto, comandava os exércitos de Israel, assegurando-lhes a vitória sobre seus inimigos.

Jesus mudou completamente esse falso conceito, apresentando Deus aos apóstolos como o Pai de todos os homens. Foi uma verdadeira revelação, dadas as ilações que daí decorrem.

Os reis regem vassalos; os senhores dominam escravos; os generais comandam soldados. Escravos, vassalos e soldados são indivíduos passivos, sem vontade própria, dos quais se exige obediência cega. Tal condição, gerando a subserviência e o servilismo, degrada e avilta os caracteres.

O pai dirige e orienta os filhos, criados à sua imagem e semelhança, como seres livres, apelando para as suas faculdades espirituais.

Escravos, vassalos e soldados são explorados e escorchados pelos seus dominadores.

Os filhos são queridos pelos pais, que, à sua felicidade, tudo sacrificara.

Para escravos, vassalos e soldados, não existe liberdade, nem direitos: somente deveres. O melhor escravo é o mais servil; o melhor vassalo é o mais submisso; o melhor soldado é o mais passivo.

Aos filhos, o pai concede todos os direitos: o uso do seu nome, a herança dos seus bens.

O rei e o senhor têm seus favoritos aos quais concedem privilégios.

Para os pais não há filhos proscritos: amam a todos com igualdade. Ao enfermo da alma ou do corpo se voltam suas preferências, porque o coração lhes diz que é esse o mais dependente da sua misericórdia.

Escravos, soldados e vassalos são castigados severa e ab-ruptamente quando se insurgem contra o despotismo, ou quando transgridem ordens recebidas. A punição lhes é infligida a fim de os acobardar, para que jamais se sublevem, ou deixem de obedecer.

O pai nunca pune os filhos que erram: corrige-os, perdoando sempre. Do punir ao corrigir medeia um abismo. Quem pune, humilha para submeter. Quem corrige, aperfeiçoa para libertar.

Os reis e os senhores são temidos: só os pais são amados.

Escravos, vassalos e soldados obedecem a fórmulas especiais, vazadas nos moldes da bajulação e da sabujice, quando fazem suas súplicas e petições. Os filhos usam para com os pais linguagem simples e familiar, como se vê na oração dominical.

Da paternidade de Deus decorre a fraternidade e a igualdade dos homens. Sem igualdade não há justiça; sem fraternidade não há misericórdia.

Da ideia de Deus, como rei e como senhor, se origina a vassalagem e a hipocrisia, ou então a revolta e a descrença.

Onde, na atualidade, o credo que sustenta, à luz da razão e da lógica, os atributos de Deus como Pai da Humanidade? — Com esse está o espírito do Cristianismo.




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