Nas Pegadas do Mestre

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CAPÍTULO 87

Provas externas e internas

"Celebrava-se a festa da dedicação em Jerusalém. Jesus passeava no templo, no pórtico de Salomão. Cercaram-no os judeus e perguntaram: Até quando nos deixarás suspensos? Se és o Cristo, dize-no-lo francamente. Respondeu Jesus: Eu vo-lo disse, e não crestes; as obras que eu faço, em nome do Pai, dão testemunho de mim; mas vós não credes porque não sois das minhas ovelhas. As minhas ovelhas ouvem a minha palavra, e eu as conheço, e elas me seguem; e eu lhes dou a vida eterna, e nunca Jamais hão-de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão. Mas ninguém vem a mim senão trazido pelo Pai. "


(Evangelho.)

Para nos convencermos das verdades reveladas por Jesus Cristo, e nele corporificadas, não basta que funcionemos com a mente, é indispensável que o coração tome parte desempenhando por sua vez a função que lhe compete.

Entender não é tudo: é preciso sentir a verdade. A inteligência, agindo desacompanhada do sentimento, não chega a penetrar a essência do Cristianismo, como, aliás, a de nenhum ideal transcendente cuja espiritualidade ascende às regiões elevadas do sublime. O Apóstolo das gentes, a propósito deste assunto, disse: "O homem material não pode compreender as coisas espirituais. " Razão e fé, intelecto e coração, devem marchar de mãos dadas na conquista da verdade redentora.

As provas mais convincentes não são as que entram pelos olhos, mas as que brotam do coração. O testemunho interno, a influência que o orvalho celeste exerce no recesso do nosso — Eu — tem muito mais força, convence muito melhor que os testemunhos externos, que os fenômenos ostensivos e insólitos. O efeito do primeiro nunca falha, enquanto que o do segundo, muitas vezes, deixa de produzir o devido resultado. No campo das investigações temos que empregar ambos os fatores, se quisermos atingir o desejado alvo.


Os judeus, contemporâneos de Jesus, tiveram copiosa e farta messe das provas mais evidentes, mais positivas, mais autênticas a respeito da individualidade do Cristo e sua respectiva missão. No entanto, duvidavam sempre. A doutrina do Divino Mestre, cujos postulados ficaram comprovados à luz insofismável dos fatos, foi e continua sendo rejeitada; foi e continua sendo, para muita gente, assunto controvertido. Daí a exclamação do incomparável Mártir da ignorância e do orgulho humano: "Pai, graças te dou por haveres revelado tuas verdades aos humildes e inscientes, escondendo-as dos grandes e dos sábios. "

Os grandes e os sábios de todos os tempos se têm incompatibilizado com as revelações do Céu, porque jamais as sentiram no coração. O orgulho afrouxa as cordas do sentimento, de modo que elas não vibram ao doce sopro da brisa celeste. O orvalho do céu só fecunda os corações onde a soberba não medra. Por isso é que nesta época de transição, portanto, de confusão que ora atravessamos, já se escreveu em letras redondas que o Cristianismo faliu e que as virtudes cristãs não devem ser cultivadas enquanto outras tarefas de maior vulto reclamarem nossas energias!!

Ao grande missionário Kardec não passou despercebido essa anomalia. Ele previu-a com admirável tino e subido critério, como demonstra o trecho que para aqui transladamos, impetrando para o mesmo a melhor atenção dos nossos generosos ledores:

"O Espiritismo não cria moral nova; apenas facilita aos homens a inteligência e a prática da moral do Cristo, produzindo uma fé sólida e esclarecida naqueles que duvidam ou vacilam.

Muitos dos que acreditam nos fatos das manifestações não compreendem, porém, as suas consequências e o alcance moral, ou, se os compreendem, não os aplicam a si. A que é isso devido? À falta de precisão da doutrina? Não, porque ela não contém alegorias nem figuras que dêem lugar a falsas interpretações; sua própria essência é a clareza e é isso o que lhe dá força, porque fala diretamente à inteligência. Nada tem de misterioso, e os seus iniciados não estão de posse de nenhum segredo oculto ao vulgo.

Para compreendê-la será, então, mister possuir-se uma inteligência superior? Não, porque há homens de capacidade notória que não a compreendem, ao mesmo tempo que inteligências vulgares de jovens saídos da adolescência lhe apanham com admirável precisão os mais delicados matizes. Isto se explica porque a parte, podemos dizer, material da ciência não exige senão olho para ver, ao passo que a parte essencial exige certo grau de sensibilidade, a que podemos chamar madureza do senso moral, madureza independente da idade e do grau de instrução, por ser inerente ao desenvolvimento, em um sentido especial, do espírito encarnado.

A crença nos Espíritos é para muitos simples fato, e em pouco ou quase nada lhes modifica as tendências instintivas; em uma palavra, vêem apenas um raio de luz, insuficiente para os guiar e dar aspiração poderosa, capaz de lhes vencer as inclinações.

Entregam-se mais aos fenômenos que à moral, que lhes parece banal e monótona, e pedem aos Espíritos para os iniciar em novos mistérios, sem indagar se são dignos de conhecer os segredos do Criador. Esses são espíritas imperfeitos, dos quais muitos ficam em caminho, ou se afastam dos irmãos em crença, porque recuam diante da obrigação de se reformarem, ou então reservam sueis simpatias para os que participam das suas fraquezas e prevenções.


Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que faz para domar as más inclinações. Ele é, em suma, impressionado pelo coração, e sua fé é inquebrantável. "


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