Nas Pegadas do Mestre

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CAPÍTULO 9

O sonho de Lutero

Conta-se que, certa vez, Lutero sonhara. Achava-se nos umbrais dos tabernáculos eternos. Interrogou então, sôfregamente, o anjo ali de guarda:

— Estão aí os protestantes?

— Não; aqui não se encontra um protestante, sequer.

— Que me dizes?! Os protestantes nao alcançaram a salvação mediante o sangue de Cristo?!

— Já lhe disse, e repito: não há aqui protestantes.

— Então, será que aqui estejam os católicos-romanos, os membros daquela Igreja que abjurei?

— Tão-pouco conhecemos aqui os filhos dessa Igreja; não existe aqui romanos.

— Estarão, quem sabe, os partidários de Maomet ou de Buda?

— Não estão, nem uns, nem outros.

— Dar-se-á, acaso, que o Céu se encontre desabitado?

— Tal não acontece. Incontáveis são os habitantes da casa do Pai, ocupando todas as suas múltiplas moradas.

— Dize-me, então, depressa: quem são os que se salvam, e a que Igreja pertencem na Terra?

— A todas e a nenhuma. Aqui não se cogita de denominações, nem de dogmas. Os que se salvam são os que visitam as viúvas e os órfãos em suas aflições, guardando-se isentos da corrupção do século. Os que se salvam são os que procuram aperfeiçoar-se, corrigindo-se dos seus defeitos, renascendo todos os dias para uma vida melhor. Os que se salvam são os que amam o próximo, e renunciam ao mundo, com suas fascinações.

Os que se salvam são os que porfiam, transitando pelo caminho estreito, juncado de espinhos: o caminho do dever. Os que se salvam são os que obedecem à voz da consciência, e não aos reclamos do interesse. Os que se salvam são os que trabalham pela causa da Justiça e da Verdade, que é a Causa Universal, e não pelo engrandecimento de causas regionais, de determinadas agremiações com títulos e rótulos religiosos. Os que se salvam são os que aspiram à glória de Deus, ao bem comum, à felicidade coletiva. Os que se salvam. . .

— Basta! — Atalhou Lutero. Já compreendo tudo: preciso voltar à Terra e introduzir certa reforma na Reforma.

Não sabemos se, de fato, é verdadeiro este sonho atribuído ao ex-frade agostinho.

Contudo, é o caso de dizermos: se ele não sonhou isso, devia ter sonhado.

Que se edifiquem nas palavras do anjo os espíritas e também os teosofistas com sua terminologia agreste; pois, se Lutero não indagou sobre os tais, é porque na época do sonho não existiam aquelas denominações. Se existissem, certamente o anjo teria dito delas o mesmo que disse das demais.




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