Nas Pegadas do Mestre

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CAPÍTULO 90

O Cristo Redivivo

"Um pouco e Já não me vereis, e outra vez um pouco e ver-me-eis. O mundo não me verá mais, mas vós me vereis, porque eu vivo, e vós vivereis. "


(Evangelho.)

Observando-se atentamente o que se passa nos arraiais dos credos ditos cristãos, verificamos que todo o movimento ali sustentado e desenvolvido gira em torno do Cristo morto.

Nos tempos romanos se destaca, invariavelmente, logo ao primeiro golpe de vista, a imagem de Jesus, pendente do madeiro, fronte abatida, mento caído sobre o peito, olhos cerrados. Todos os altares, mesmo quando destinados a este ou àquele patrono, têm no sopé, infalivelmente, o Cristo morto. Os lares, onde predomina o romanismo, obedecem, por sua vez, à mesma praxe. Em todas as emergências da vida destes crentes, nos atos solenes, trate-se de acontecimento alegre ou triste, quer se chore, quer se ria, quem a tudo preside é, sem dúvida, o Cristo morto, cuja efígie chegam mesmo a trazer pendurada ao pescoço.

Os reformistas, neste particular, aboliram o ídolo, mas se mantiveram apegados à mesma ideia. A reforma que introduziram, neste caso, não foi além da idolatria.

Continuou vigorando o Cristo morto no dogma da redenção pela virtude do seu sangue;

aqui, como no Romanismo, se anuncia com toda a ênfase o Cristo Crucificado. É para a cruz que se apela em todos os tons. É a efusão do sangue, é o sacrifício cruento, é a morte em suma, que encerra todo o prestígio, todo o valor e toda a magia da obra messiânica.

Segundo este prisma, a missão de Jesus teve início na manjedoura de Belém e finalizou no topo do Calvário. A tal se reduz o alfa e o ômega do Cristianismo.

Se assim é, onde fica o Cristo vivo, o Cristo ressuscitado? Que é feito dele? Onde a sanção de suas promessas, dentre as quais se destacam as duas transcritas no inicio destes comentos?

Estaremos na orfandade, a despeito de nos haver Jesus prometido que se não daria tal?

Se não ficamos órfãos, porque então veneramos tão enfaticamente o Cristo morto, esquecendo o Cristo vivo que prometeu manifestar-se em nossos corações e aí fazer morada? Porque o buscarmos na cruz, impotente e morto, quando o podemos ter redivivo e forte atuando em nossas almas, compelindo-nos à conquista da vida eterna?

Que pretenderão do instrumento da sua morte? Qual será maior, o sacrifício ou o ideal que mereceu esse sacrifício? Jesus, vindo ao mundo, teve por alvo o martírio da cruz, ou a salvação da Humanidade? Onde o ideal por ele acalentado? Qual a sua missão? Teria encartado, no programa a desempenhar na Terra, o martírio da cruz? A crucificação do Filho de Deus não será antes, um crime, produto da cegueira e da maldade dos homens, crime, que, previsto por Jesus, foi por ele arrostado corajosamente no desempenho do mandato que lhe fora confiado? Não está claro que Jesus subordinou o sacrifício ao ideal, porque é na consumação do ideal que se acha todo o seu empenho? Como, então, as igrejas cristãs se esquecem do ideal para, eternamente, rememorarem o sacrifício, fazendo desse sacrifício o objeto máximo do seu culto? Não será certo que, assim procedendo, estão invalidando o próprio sacrifício pelo descaso ao ideal que encerra a razão desse sacrifício? A necessidade prevista por Jesus é a redenção humana. O ele ter sido sacrificado não representa, como se supõe, uma necessidade. Foi a pedra de tropeço que o egoísmo do século lançou para tolher-lhe os passos. Jesus removeu-a. A Humanidade não deve sua salvação à cruz, deve-a ao amor de Jesus Cristo. Nada justifica a adoração do madeiro, a veneração à pedra de tropeço. Não é na morte de Jesus que está nossa redenção: é na sua vida, é na sua palavra, intérprete da eterna verdade, é nos seus ensinos, é nos seus exemplos. A morte de Jesus obedeceu à vontade humana, enquanto que a obra da salvação do mundo obedece aos desígnios de Deus.

Como se vê, são coisas bem distintas. A missão de Jesus está em plena atividade. A tragédia do Calvário não é, de modo algum, o seu epílogo. O Missionário da Galileia continua em ação. Paulo, o maior apóstolo do Cristianismo, é filho de Jesus redivivo. Foi sob o influxo do Cristo ressuscitado que se fundou a igreja cristã, no dia de Pentecostes;

e é ele, o Redivivo, e não o Crucificado, quem tem, através dos séculos, promovido a redenção dos pecadores pela influência viva que sobre eles exerce, consoante a promessa dos Evangelhos.

OCristo de Deus não morreu. Sublime, forte e poderoso, tem vivido, vive e viverá no coração dos que têm fome e sede de justiça.

A ele e ao ideal que ele encarna —honra e glória!




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