Contos Desta e Doutra Vida

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Capítulo XXII

Pureza em branco


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Quando Anésio Fraga deixou o corpo físico, ele, que fora sempre considerado puro entre os homens, atingiu a Fronteira do Mundo Espiritual à semelhança de um lírio, tal a brancura de sua bela vestimenta.

Pretendia viver nas Esferas Superiores, respirar o clima dos anjos, alçar-se às estrelas e comungar a presença do Cristo — explicou ao agente espiritual que atendia ao policiamento da passagem para os excelsos Planos da Espiritualidade.

O zeloso funcionário, contudo, embora demonstrasse profundo respeito para com a sua apresentação, submeteu-o a longo teste, findo o qual, não obstante desapontado, explicou que lhe não seria possível avançar.

Faltavam-lhe requisitos para maior ascensão.

— Eu? eu? — gaguejou Anésio, aflito. — Como pode ser isso? Fui na Terra um homem que observou todas as regras do Santo Caminho.

— Apesar de tudo… — falou o fiscal, reticencioso.

— Não me conformo, não me conformo! — reclamou o candidato à glória divina.

E sacando do bolso uma lista, exclamou agastado:

— Pensando na hipótese de alguma desconsideração, resumi em dez itens o meu procedimento irrepreensível no mundo.

E leu para o benfeitor calmo e atento:

— Respeitei todas as religiões.

— Cultivei o dom da prece.

— Acreditei no poder da caridade.

— Nunca aborreci os meus semelhantes.

— Confiei sempre no melhor.

— Calei toda palavra ofensiva ou desrespeitosa.

— Calculei todos os meus passos.

— Jamais procurei os defeitos do próximo.

— Evitei o contato com todas as pessoas viciadas.

— Vivi em minha casa preocupado em não ser percalço na estrada alheia.

O mordomo da Grande Porta, no entanto, sorriu e comentou:

— Fraga, você leu as afirmações, esquecendo as demonstrações.

— Como assim?

O amigo paciente apanhou uma ficha e esclareceu que o Plano Espiritual possuía também apontamentos para confronto e solicitou-lhe a releitura da lista.

E seguiu-se curioso diálogo entre os dois.

Principiou Anésio:

— Respeitei todas as religiões…

E o examinador acentuou, conferindo as anotações:

— Mas não serviu a nenhuma.

— Cultivei o dom da prece…

— Somente em seu próprio favor.

— Acreditei no poder da caridade…

— Todavia, não a praticou.

— Nunca aborreci os meus semelhantes…

— Entretanto, não auxiliou a quem quer que fosse.

— Confiei sempre no melhor…

— Mas apenas em seu benefício.

— Calei toda palavra ofensiva ou desrespeitosa…

— Não se lembrou, porém, de falar aquelas que pudessem amparar os necessitados de consolo e esperança.

— Calculei todos os meus passos…

— Para não ser molestado.

— Jamais procurei os defeitos do próximo…

— Contudo, não lhe aproveitou os bons exemplos.

— Evitei o contato com todas as pessoas viciadas…

— Atendendo ao comodismo.

— Vivi em minha casa preocupado em não ser percalço na estrada alheia…

— Simplesmente para não ser chamado a tarefas de auxílio…

Anésio, desencantado, silenciou, mas o benfeitor esclareceu, sem afetação:

— Meu amigo, meu amigo! não basta fugir ao mal. É preciso fazer o bem. Você movimenta-se em branco, veste-se em branco, calça em branco e brilha em branco, mas a sua existência na Terra passou igualmente em branco… Volte e viva!

Angustiado, Anésio perdeu o próprio equilíbrio e rolou da Altura na direção da Terra…

(.Humberto de Campos)


Irmão X
Francisco Cândido Xavier


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