Conversa Firme
Versão para cópiaAssunto de paz
Quer você saber agora Meu caro Zico Tomás, Que posso dizer do Além, Quanto ao assunto da paz. Quantas vezes, meu amigo, Supúnhamos nós na Terra, Que a paz morasse na rede Da “casa branca da serra!…” O quintal todo enfeitado De rosas e margaridas, O céu azul… As cigarras Musicando nossas vidas. O mundo ao longe… Os cavalos Com montaria a nós dois, A viola, o cigarrinho E a mesa farta depois… As histórias sobre a chuva O aroma do chão molhado, A conversinha de sempre, E os cães dormindo de lado!… Relendo as suas palavras, Tudo me volta à lembrança… Quanta beleza de sonho, Quanto sonho de criança!… Sem dúvida, tudo isso, É a paz da preparação, Memórias e ensinamentos De apoio à meditação! A paz que nunca se afasta, Domínio jamais desfeito, É aquela que se constrói, Por dentro do próprio peito. Hoje anoto esta verdade Que vejo mais clara agora! Segurança verdadeira Não se conquista por fora!… Buscando a paz muita gente Estraga-se, desvaria… E acaba sempre em mais luta Nas lutas de cada dia. Há quem rogue paz em ouro, Influência e reboliço, Sem entender que esses dons São forças para serviço. Muitos volvem morro abaixo, Após a ilusão nos cimos, Nesses enganos de paz Quantos fracassos já vimos!… Rogamos apenas repouso, Conhecemos Dona Cissa, Somente achou a moleza De quem morre na preguiça. Largou-se de todo encargo Nhô Tolentino do Avanço, Pedia paz e mais paz Depois morreu de descanso. Neco buscando sossego Foi residir no Espigão, Logo após voltou do sítio, Picado de escorpião. Saiu da cidade grande Nhô Marcelino Siqueira, Buscava a calma num morro, Caiu de uma ribanceira. Queria viver tranquilo, Nhô Benedito Morais, Adoeceu de repente Porque comia demais. Fugiu de trabalho e luta Nosso Antonico da Praça, Descansou… Ficou mais triste, Depois tombou na cachaça. Era feliz trabalhando Nosso amigo Hilarião Abandonando as tarefas, Perdeu-se na obsessão. Queixando-se de fadiga Aposentou-se Nhô Bento, Entretanto, morreu logo Por falta de movimento. Nhá Cota entrando em sossego, Regrava a própria comida, Em seguida enlouqueceu De tanto pensar na vida. Zizina querendo paz Foi para a Roça da Lebre, Mas escondida num rancho Morreu tomada da febre. Trabalhe quanto puder, Não largue a enxada do bem, Serviço ajudando aos outros Nunca feriu a ninguém. Não caia nesses enganos, Desses casos que já vi, Que descanso sem razão Onde esteja, é isso aí. |
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