Conversa Firme

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Capítulo III

Penas depois da morte


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Assunto difícil este,

Meu caro Gino Salerno,

Comentarmos de outra vida

O que existe sobre o inferno.


Em tempos que já se foram,

Eu também pensava assim:

O inferno, depois da morte,

Seria fogo sem fim.


Mais tarde, a luta crescendo,

Olvidei o mundo antigo

Mas nunca larguei de todo

De certo medo a castigo.


Acreditava que a morte

Depois de nossos fiascos,

Colocasse à nossa frente,

Algemas, troncos, carrascos…


Sofrimentos, em verdade,

Não faltam no Mais Além:

Impedimentos, prisões

E adversários do bem.


Espíritos infelizes

Inventam charcos e dores

Criando painel imenso

Das trevas exteriores.


No entanto, por mais abismos

A que a pessoa se lança,

A Lei de Deus determina

Que a ninguém falte esperança.


Tal qual sabemos na Terra,

Para além da sepultura,

O que se tem no caminho

É aquilo que se procura.


A culpa é desequilíbrio

Sob impulsos insensatos,

E a mente resguarda, ao vivo,

A conta de nossos atos.


O inferno, por isto mesmo,

Seja ele o mais atroz,

É o conflito dos conflitos

Que surgem dentro de nós.


Cada qual transporta em si

— Do mais crente ao mais ateu, —

O resultado infalível

De tudo quanto escolheu.


Por simples anotações

E ensinamentos gerais,

Recordarei com você

Vários casos infernais.


Você lembra a sovinice

Do fazendeiro Adão Noce,

Desencarnado, agarrou-se

Aos sofri mentos da posse.


Querendo vingar o filho

Enlouqueceu Dona França,

Mas vive depois da morte

Atarracada à vingança.


Morreu pisando nos outros,

Nhô Lino do Lumaréu,

Sem corpo, mora no barro

Mas pensa que está no Céu.


Finou-se atracado à gula

O nosso Antonino Lodi;

Agora, enxerga a comida,

Que tocá-la mas não pode.


Foi-se a tóxicos violentos,

Juquita de Dona Altina;

No Além, anda alucinado,

Reclamando cocaína.


De tanto excesso em bebida

Morreu Nhô Nico da Alfafa;

Hoje, vê tudo o que encontra,

Sob a forma de garrafa.


Morreu Nhô Juca, usurário

No Roçado da Moenda;

Mesmo assim, vive ligado

Nas porteiras da fazenda.


Ódio e briga? Escute esta:

Desencarnado, o João Fava

Foi chamado a proteger

O genro que detestava.


O assunto é isso, meu caro,

Sem engano e sem talvez,

Só se recolhe da morte

A vida que a gente fez.


Céu, inferno e purgatório,

Sejam daí ou daqui,

Cada pessoa carrega

O que buscou para si.




Cornélio Pires
Francisco Cândido Xavier


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