Coração e Vida

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Capítulo IX

O poder da prece


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O jovem milionário

Adamastor Macário,

Rapaz rude e violento,

Derramando alegria,

Sentia-se feliz em seu mais belo dia,

Pois era o dia de seu casamento.


No palácio rural de sua habitação,

Tudo era festa em ascensão.


Pela manhã, porém, ele recebe à porta

Uma pobre viúva, a carregar nos braços,

Um filhinho de meses,

Portador de moléstia fulminante…

Sentindo a morte a lhe rondar os passos,

Dirige-se a Macário e pede suplicante:


— Socorre-nos, senhor,

Salve meu filho! Pague-lhe um tratamento…

E rematou com lágrimas na voz:

— Por amor a Jesus, tenha pena de nós!…


Com surpresa geral, Adamastor

Não se fez rude como de outras vezes,

Fitou o pequenino,

Compadecidamente,

Depois recomendou a um antigo empregado:

— Leve a criança ao médico… Ação pronta.

Em seguida,

Busque a farmácia com presteza,

Seja o gasto que for, qualquer despesa

Corre por minha conta…


A viúva, andrajosa e enternecida,

Agradeceu-lhe a caridade,

Qual se estivesse recebendo

No filho em tenra idade

Plena renovação da própria vida.


Adamastor, porém,

Mesmo casado

Continuou brutalizado

E um modelo completo de avareza…

Recolhia, ele próprio, as migalhas da mesa

Que sobrassem de cada refeição

Para fazer negócio, às escondidas…

E ei-lo, dia por dia, a repetir fremente,

Na mais estranha desesperação:

— Dinheiro, sim… Beneficência, não…

Nada me peçam que não dou vintém,

Não dou nem mesmo um pão à fome de ninguém.


O tempo foi passando,

Pedisse quem pedisse,

A resposta era não… Toda aquela secura

Parecia loucura

Em vez de sovinice.

Talvez decepcionada, alma triste e vazia,

Com as atitudes do marido avaro,

Breve, morreu a esposa em desamparo,

Sem deixar-lhe um só filho à casa enorme e fria…


Mais tempo decorreu

E Macário a lutar, sem qualquer companheiro,

Só queria dinheiro e mais dinheiro…

Até que, um dia, a morte veio arrebatá-lo.

Adamastor, velhinho,

Num lance do caminho,

Caíra do cavalo,

Fora pisoteado e, ante as perdas de sangue,

Gritava, agonizante, entre as pedras de um mangue:

— Eu não quero morrer, eu não quero morrer…

Mas a morte, por si, não queria saber

Se ele queria ou não

E, assim, agiu na hora…


Desencarnado agora,

O antigo milionário,

Sente-se louco, aflito e solitário,

Sob o fardo das lágrimas que leva…

Só pensava em dinheiro e via-se na treva…

Era um mendigo apenas

Que somente trazia

A lembrança vazia

De moedas terrenas…

Cego, desesperado, atônito, sozinho,

Fez-se triste fantasma, errando no caminho…

Até que, num momento inesperado,

Logo após largo tempo em profunda cegueira,

Sentiu algo a buscar-lhe os íntimos refolhos,

Uma luz que lhe dava outra luz para os olhos…


Fitou, em derredor, e notou espantado

Que uma pobre velhinha orava junto dele,

Quase que, lado a lado;

E ouviu-a murmurar, em voz segura e mansa,

Como se lhe trouxesse a bênção da esperança:

— Rogo, Deus de Bondade, ao teu imenso amor,

Concede a paz do Céu a “seu” Adamastor,

Ele foi para mim de uma bondade rara,

Não te esqueças, Senhor,

Que um dia ele salvou o filho que me ampara…

Abençoa, meu Deus,

Quem foi em nossa casa

O grande benfeitor!…


O antigo milionário,

Sob um clarão divino,

Recordou a chorar o passado momento

Em que ajudara a um pequenino,

No dia justo de seu casamento…


Banhado em nova luz

Ele gritou: — Por que? por que, Jesus?

Não dei tudo o que eu tinha e tudo quanto quis,

A fim de ser agora mais feliz?


Era tarde, porém… Precisava voltar…

Renascer sobre a Terra,

Aprendendo a servir, a compreender e amar…

Nesse instante, contudo,

Retratava na face,

Embora atarantado, ansioso e mudo,

O júbilo de quem se libertasse

Das algemas de longo cativeiro,

Pois percebia, enfim, que acima do dinheiro,

Mostrava mais poder e muito mais valor

A lembrança do bem numa prece de amor!…




Maria Dolores
Francisco Cândido Xavier


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