Correio Fraterno

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Capítulo XXXII

Bem-aventurado anônimo


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Bem-aventurado anônimo,

Ninguém te viu a mão vigilante e sábia

Quando semeavas a leira escura

Para que todos tivessem pão,

Nem te observou o esforço enorme,

Quando abrias caminho à água distante

Para que a sede não aniquilasse os homens da Terra!


Olhos humanos não te fixaram,

Quando levantaste o companheiro abatido,

Quando suportaste o espinho dos maus,

Chorando em silêncio para que outrem não chorasse.


Gastaste muitos anos,

Tecendo ninhos para as alheias asas,

Levantando palácios fulgurantes

Que jamais te acolheriam…


De mãos votadas

Ao labor mais humilde,

Traçaste roteiros

Dentro da Natureza agreste,

Ergueste cidades e parques

Para a alegria de todos.


Ninguém te conheceu, nem louvou…


E quase todos

Que se rejubilaram nos benefícios,

Através de teu suor,

Acreditaram que te bastavam

As moedas que lhes sobravam na bolsa

E esqueceram-te para sempre.


Entretanto,

Observas, mudo,

Que os grandes arautos do morticínio

Eram anunciados com ruído

No caminho das nações…

Muitos dos que destruíam as obras do bem

E os que falseavam a verdade

Eram incensados no galarim da fama,

Por milhões de vozes sedentas de poder!…


Bem-aventurado anônimo! Bem-aventurado anônimo,

E quando a morte chegou

A gratidão terrestre não veio socorrer-te,

Ninguém apareceu para enxugar-te o pranto.

Para os irmãos que te deviam

Não passava teu nome de palavra sem eco…

Somente a caridade

Envolveu-te em seu manto…


Mas, ó trabalhador desconhecido!

Para teus ouvidos venturosos,

Soou, na imensidão dos céus,

A frase inesquecível:

— Vem a mim, servo bom e fiel!


Num transporte de júbilo indizível,

Reconheceste, então,

A grandeza das vidas pequeninas,

A glória das tarefas obscuras,

Descobriste a ti mesmo nas alturas,

E, atravessando as amplidões divinas,

Abençoaste os dias teus,

À luz do Grande Anônimo que é Deus.




Alma Eros
Francisco Cândido Xavier


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