Crianças no Além

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Capítulo III

A mensagem


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Minha querida mamãe, meu querido papai.

Estou obedecendo ao meu avô Joaquim que me trouxe para escrever.

Peço para que me abençoem.

Querida mamãe, a senhora pede notícias e rogou tanto, mas tanto, perante as orações, que me vejo aqui para trazer a esperança ao seu coração e fortalecer em meu pai a confiança na vida.

Não sei como fazer isso direito: escrever falando o que se passa.

Meu avô está me auxiliando, mas, por dentro de mim, estou como quem traz o pensamento tropeçando na vontade de chorar.

É preciso ser forte e ser um homem para receber um compromisso desses.

Papai sempre nos ensinou que devemos ser valorosos com a luz da coragem na frente de nossos passos, mas é tanta dor para vencer, querida mamãe, que eu não tenho forças para remover a situação.

Meu avô diz que não devo procurar desculpas e sim tomar o assunto sem mais demora.

Por isso, quero dizer a você, mãezinha, para confiar em Deus e na vida.

Papai é calado e tantas vezes sem manifestações iguais às nossas, mas para ele também estou garatujando esta carta.

Rogo a vocês para não se deixarem dominar pelo sofrimento, embora este conselho deva ser ditado para mim mesmo.

Estamos assim como num telefone direto, em que o fio do lápis vai formando as minhas palavras, sem que eu possa receber as palavras de meus pais queridos, ao mesmo tempo.

Sei tudo o que tem acontecido.

Sei, mãezinha, que a senhora está sendo considerada uma pessoa em perturbação mental. Mas nós entendemos daqui as suas aflições. Três filhos esmagados quase ao chegarem em casa… E a nossa separação de repente. Isso transtornaria o cérebro de um gigante, quanto mais os nossos corações sempre ligados pelo carinho.

Desde que acordei aqui, ouço os seus gritos do coração: suas palavras que não são faladas, suas preces de aflição no silêncio e suas lágrimas que aí na Terra ninguém vê…

Mas peço à senhora, em nome da nossa Sheilinha, do João Batista e em meu nome, para viver e viver com fé em nosso reencontro.

Mamãe, se não fosse a falta que a gente experimenta de casa, se não fosse a voz da senhora e do papai por dentro de mim, eu diria que tudo está bem.

Mas posso dizer agora que tudo melhorará, quando melhorarem na paciência e na confiança.

Estamos num parque de crianças que vieram para cá apressadamente.

Temos tratamentos, exercícios, lições e muito carinho.

Muitos meninos já crescidos ajudam os menores e são auxiliares de enfermeiras queridas que nos amparam, como sendo filhos do coração.

Temos repouso, mas o repouso é atravessado pelas recordações que se fazem tão vivas como se fossem relâmpagos coloridos e parados em nossas lembranças.

Nessas telas da alma, vemos o que se passa à distância e, além disso, suas vozes, mãezinha, nos alcançam por todos os meios.

Peço a você — a você que é nosso querido anjo da guarda — entregar a Deus os acontecimentos de fevereiro.

Não chore mais com desânimo e aflição.

A senhora, sempre carinhosa e sempre imensamente boa para nós, não choraria mais com tanta angústia se visse a nossa querida Sheila cair de aflição, querendo ir ao seu encontro sem poder…

Ajude-nos, querida mamãe.

Aqui temos muita gente dedicada ao bem.

A Irmã Luiza nos abençoa — benfeitora que não conheci — e um santo a quem devemos chamar por Irmão Ukuru nos cerca de muito amor, quase todos os dias.

O tio Diogo e o avô Joaquim são companheiros que tudo fazem por nosso auxílio.

De tia Maria nada sei. Pergunto por ela, mas recebo apenas a notícia de que ela vai bem.

De certo modo, ainda não estou muito em mim.

Se tivesse de retomar os estudos aí em casa, creio que não seria possível.

Tenho a cabeça assim aflita, como quem não saiu de um susto muito grande e não posso lembrar com muita insistência aquela Veraneio e nem a nossa casa em Perus, porque me sobe uma emoção ao cérebro que dá para tontear; mas o avô Joaquim me diz que tudo vai melhorar quando a senhora e papai estiverem mais fortes.

Nós estamos todos unidos sem que eu saiba como é isso.

O pensamento é uma força, mas não sei ainda explicar o que sinto.

Mamãe, não fique parando o olhar em nossas lembranças.

Tudo o que foi nosso — de nós três — dê a outras crianças em nosso nome.

Ficará para nós o coração inteirinho, porque a senhora, papai, João Batista, Sheila e eu não nos separamos.

Peça energias para nós nas preces do seu carinho de sempre.

Mamãe, as lágrimas são forças de Deus em nossa vida, e por isso, nenhum de nós está livre de chorar, mas as nossas lágrimas devem ser orações — orações de gratidão e amor, paz e fé.

Um dia estaremos todos juntos, mas não deseje vir para cá como quem força a entrada de uma casa desconhecida.

Pouco a pouco, entenderemos as razões de tudo o que sucedeu.

Rogamos para que a ninguém seja atribuída qualquer culpa pelo acidente.

O veículo poderia estar sendo guiado por nós.

Ninguém cria problemas de trânsito por vontade própria, como no caso em que nos vimos.

Mamãe, queremos a paz, a paz de todos.

Ajudem, a senhora e meu pai, a termos paz.

Não se queixem.

Vamos cultivar a saudade na igreja do amor ao próximo.

Temos tantos irmãos nas calçadas e nas ruas, pedindo auxílio! Sejam eles, filhos também de seu coração.

Aqui, muitos pais de meninos desamparados oram conosco pelos filhos que sofrem no mundo, mas eu sei que a senhora e meu pai serão auxílio e bênção para esses meninos, filhos de tantos amigos bons que nos amparam aqui.

Não posso continuar.

Mamãe, abençoe os filhos que somos nós aqui, sem você, mas contando sempre com a senhora para ficar mais fortes.

Deus nos auxiliará.

Hoje, tenho mais fé.

Em nome dos irmãos e em meu nome, deixo a vocês, em casa, o nosso beijo de respeito e de amor.

E recebam, com o abraço do avô Joaquim, todo o coração do filho, sempre filho reconhecido


Uberaba, 12 de dezembro de 1975.



Marcos
Francisco Cândido Xavier


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