Dádivas Espirituais

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Capítulo V

Celso Maeda


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Querida Sílvia e querida mãezinha Delfina, o Todo-Misericordioso nos abençoe.

Tivemos, enfim, a oportunidade de enviar à querida família um recado e mensagem. No entanto, hoje consigo expressar me com mais facilidade e amplitude.

Lamento que meu Takayuki não esteja presente, mas a querida mãezinha dará a ele notícias nossas.

Creio que nesta sala ninguém poderá compreender o que seja a longa tortura dos navegantes do ar. O que se sofre na expectativa da queda do veículo que nos serve à condução é indescritível. O que será? Como será? Ninguém sabe.

A máquina sob a orientação do piloto, baila na atmosfera agressiva, e dentro dela somos pigmeus suplicando um socorro que sabemos não se faz possível.

Viajamos tranquilos sob a perícia do nosso amigo Hélio, quando nos aproximamos mais propriamente do Sul. Começou, porém, uma ventania fantástica que nos movimentava no ar, qual se fôssemos crianças desajeitadas à frente de um perigo.

Francisco, meu irmão, olhava para mim ansiosamente. Para trás haviam ficado nossos país, nossas esposas e nossos filhos… Aqueles olhares de meu irmão gelavam minh’alma. O que fazer, não sabíamos.

Telepaticamente, nos entendemos que a oração aprendida em nossa casa era o derradeiro recurso, enquanto o avião parecia um gigante pensante a fazer reviravoltas que nos apavoravam.

O Hélio nos pedia calma. Entretanto, de que modo resguardar a própria serenidade se a saudade dos momentos queridos começou a fustigar-nos, obrigando-nos a pensar no pior que nos poderia acontecer? Meu Deus, haverá suplício maior para as criaturas da Terra? Não sei.

Estávamos à mercê dos acontecimentos que o furacão nos impunha. O piloto e o companheiro que o assessorava estavam pálidos, agravando-nos as dúvidas e o desconforto de que nos sentíamos possuídos.

Debalde procurávamos alguma nesga de céu azul. Achávamo-nos como que trancados por dentro de uma nuvem que parecia guardar o vento furioso que não encontrava uma saída a fim de expandir-se.

Instantes de pavorosa angústia exerceram sobre a nossa ansiedade quando o Hélio fez um sinal para o aeroporto mais próximo. Pedíamos pouso, no entanto, debalde a máquina se inclinou para baixo, como se procurasse conscientemente algum lugar para agasalhar-nos. O meu coração batia apressado.

Você, querida Sílvia, e nossas crianças, nossos queridos Milton, Marcelo e a irmãzinha pareciam uivos dentro de mim. Eu daria tudo o que possuíamos na vida material para que o avião pudesse encontrar o apoio desejado.

Nossas esperanças, porém, foram frustradas. A aterrissagem não se fazia possível. O aeroporto em Curitiba não tinha condições para receber-nos. Devíamos buscar algum processo de arremeter-nos de novo, para cima, o que foi feito com muita segurança dentro de nossa própria insegurança, por nosso Hélio que tentou a manobra ante a impossibilidade de pousar.

Subimos céus acima ou tentamos subir… Não era fácil raciocinar ante o perigo maior que se aproximava. Tentou-se a elevação da máquina, mas o vento prosseguia implacável qual se fosse um conjunto de forças maléficas interessadas em derrubar-nos.

Meu irmão devia estar pensando no mesmo angustioso problema que principiava a sufocar-nos. Havíamos trabalhado tanto para erguer um edifício econômico que nos assegurasse a paz no futuro, no entanto, a ventania nos furtava qualquer possibilidade de escape. Vendo o sofrimento no rosto de nosso Hélio que tudo fazia para salvar-nos, confesso à mãezinha Delfina e à querida Sílvia, que chorei prevendo a queda próxima.

O ciclone prosseguia avançando sobre nós, até que depois do esforço supremo do piloto e do companheiro, tendo conseguido voar até pequena distância, vimos o mar que se nos afigurava um outro inimigo a vigiar-nos.

Um sopro de esperança nos aqueceu por dentro, durante alguns instantes e o piloto julgou que a praia nos ofereceria refúgio, mas ao invés de descer, caímos sobre as águas…

Por dentro éramos a aflição de quem não eximiu-se da morte compulsória e por fora de nós vimos claramente que um enorme banco de areia nos aguardava, asfixiando-nos a todos.

Sei que apenas pude endereçar uma prece ansiosa, implorando a proteção de Deus e de nossos Maiores e mais nada.

A água marinha encharcada de areia penetrava-nos os pulmões e quando me vi totalmente esmagado, nada sabendo de meu irmão e dos companheiros que nos guardavam a viagem, quando no auge do meu desespero íntimo, vi que uma senhora caminhava naturalmente sobre as águas e, ao abraçar-me, solicitou-me concentrar na fé em Deus e me disse: “Meu filho, você está conosco. Sou a sua avó Ai, que venho retirá-lo da areia. Seu avô Tsunezaemon retirará seu irmão. Haverá socorro para vocês todos. O piloto e o co-piloto serão resguardados.”

Depois de pronunciar estas palavras, aquela mulher que me parecia tão frágil me carregou nos braços, colocando-me em terra firme. Francisco chegou depois ao mesmo local em companhia do avô. Os dois companheiros da orientação estavam amparados por parentes que não cheguei a conhecer.

Em seguida, conduzidos nos braços dos queridos avós, não sei ainda por quais processos, fomos transportados por outro avião mais complexo até um abrigo hospitalar que nos recebeu com espírito de inesperada beneficência, onde estamos até hoje em reajustamento, mas com a possibilidade de visitar as nossas famílias e confortar os nossos entes amados.

Esperamos para bom tempo a matrícula em uma legião de trabalhadores na Seara do Bem.

Querida mãezinha Delfina e querida Sílvia, vocês queriam notícias nossas, notícias que fossem tão claras, quanto possível. Aí estão as nossas informações relativamente a mim e ao Francisco e esperamos que as nossas famílias nos auxiliem com a paz e com a paciência justa perante os Desígnios de Deus.

Agradecemos aos nossos amados pais o que fazem por nós, amparando os entes queridos que ficaram.

E peço a todos nos recebam o carinho e a saudade. Carinho de muito amor e paciência deforma a compreendermos que a Misericórdia Divina está junto de nós e sobre nós, na Terra e nos Céus.

Com muita confiança e ternura pela querida mãezinha e pela querida esposa, e por todos os nossos, sou como sempre o filho, o esposo e o companheiro de rodos os dias,

Celso Maeda.

(Página recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier, em reunião da noite de 26 de fevereiro de 1993, em Uberaba, Minas Gerais).


Esclarecimentos


Celso Maeda

Nascido em 23 de janeiro de 1953 (Ituverava — SP).

Desencarnado em 18 de agosto de 1992 (Navegantes — SC) devido a acidente aéreo.

Pais: Takayuki Maeda e Delfina Tomie M. Maeda.

Rua José Moreira Coimbra n.° 1162 (ou 4
462) Cep. 14500-000 — Ituverava — SP.

Esposa: Sílvia Manjiro Maeda

Rua Sebastião Cursino, n.° 88, Cep. 75503-360 — Itumbiara — GO.

Filhos: Marcelo, Flávia e Milton.

Irmão: Francisco Maeda. Deixou esposa, Hilda e quatro filhos: Lígia, Angélica, Júlia e Fernando.

Avó paterna: Ai Maeda, desencarnada em 06 de maio de 1968.

Avô paterno: Tsunezaemon Maeda, desencarnado em 27 de junho de 1982.

Piloto e co-piloto: Hélio Lourenço Almenara e Wilson José da Silva. Ambos desencarnados no acidente.


“A partida inesperada dos irmãos deixou um enorme vazio e profunda tristeza no seio familiar, social e profissional.

Aproveitamos a oportunidade para agradecer o júbilo que o nosso querido Chico Xavier nos proporcionou, rogando a Jesus que o fortaleça, a fim de que possa continuar sua vida de dedicação e amor ao próximo.


Família Maeda.”


Os Editores


Celso Maeda.
Francisco Cândido Xavier


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