Depois da Travessia

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Capítulo LXXV

Anjos esquecidos

07|12|1985


Querida Lúcia e querida Luizinha, peço a Jesus nos abençoe e nos proteja!

Lúcia, parece que o deslumbramento dos primeiros dias em que me envolvi está passando, a fim de que me concentre em minhas reais necessidades. Estamos sofrendo e não existe contentamento nenhum em descrever ambientes e festas. Estamos descobrindo a nós mesmas na corrida de provações a que temos sido levadas pelos acontecimentos que nos rodeiam. Não veja seriedade em minhas palavras. Aqui me faço sentir a você como penso, sem desejar ir por este ou aquele ponto de vista.

Sei o que você tem sofrido e tem me escrito em papéis molhados de lágrimas. Querida filha, peço ainda a sua paciência para que possamos atuar em auxílio dos nossos em casa. Compreendo tudo o que você me diz e sei que mentalizando as situações como se aí ainda estivesse noto que você tem razão em cada argumento que a sua palavra me apresenta.

Entretanto, ao escrever-lhe daqui, de meu novo ambiente, as minhas opiniões diferem um tanto! Você sabe, querida Lúcia, que muitos costumes foram mudados e que se luta na Terra para guardar fidelidade aos princípios que reverenciamos na vida do lar. Tem havido progresso facilitando a vida de todos em toda parte, entretanto, você concordará que a dor em seu e em meu coração é igual ao sofrimento de nossas avós e bisavós, que se calaram e se sacrificaram por amor a nós, quando éramos as crianças com quem se entretinham para suportar os obstáculos de uma casa com grande número de parentes. Recordemos essas mulheres, que foram nos fogões e nos tanques de lavar, que muitas toleraram com paciência as observações ingratas de homens aos quais devotavam serviço e abnegação. Muitos problemas do lar se transformam em atos de delírio, e até de delinquência, quando as mães se omitem no trabalho de agir e auxiliar para o bem. Nada reclame!

Muito grata por suas flores de carinho, que nunca emurchecem, e Deus recompense a você por sua calma, refletida na velha mãe que continua ao seu lado. Olhe também a nossa Tuquinha, entregue a tantas sugestões difíceis de entender e apresentar. Luizinha ficou sob tantas incumbências nossas, conversando conosco, que presentemente não sei de que modo me comportar no diálogo com ela, já que é tão difícil conversar com quem desfruta um corpo jovem e, por isso mesmo, sob a mira de tantas extravagâncias de nosso tempo… Seja Deus a nossa bênção de cada dia para tudo falarmos e ajustarmos com o acerto preciso!

Nossa Cândida ainda não conseguiria escrever. Precisará de treino para desinibir-se. Diga isso à Célia e à Cleusa para que não se acreditem esquecidas. Tanto quanto possível, retribua por mim a generosidade de nossa Dirce, agora doente e necessitada de apoio. Muitas lembranças a todos os nossos, começando por Maria Alice e Luciano, Helena e Conceição, Chiquitinho e Julinho. Lembranças a gente envia, mas não sabemos como são recebidas. Entretanto, agradeço o discernimento que me faz ver que sempre colocamos amor em tudo quanto dizemos. Abrace a nossa Palmira e lembre-se com ela de nossas noites em claro.

Os amigos aqui me desculpam a demora no lápis. Eles, em maioria, não desconhecem que escrevo sob a inspiração da minha confiança de mãe. Querida filha, abrace Oscar e Caio, Sérgio e a todos. Você e Luizinha, comigo, fiquemos com Deus. Perdoe-me se chorei tanto ao lhe escrever.

Querida Lúcia, nós, as mães, choraremos sempre, nas alegrias e nas provações, nas tristezas que apareçam ou nos contentamentos pequeninos de nossa casa. Um beijo da vovozinha em nossa querida Sarita. E receba, filha querida, nesta carta de lágrimas, o coração de sua mamãe, sempre a sua,




[Ver da mensagem de José Xavier]



Luiza Xavier
Francisco Cândido Xavier


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