Deus Conosco

Versão para cópia
Capítulo XXIX

O discípulo amado

31/03/1938


Meus amigos, muita paz. As vossas preces de amor se elevam ao Infinito em volutas divinas, estabelecendo o caminho claro e suave para as grandes revelações do sentimento e da fé. A personalidade do discípulo amado de Jesus, que foi Allan Kardec, foi lembrada por vós com as mais doces comemorações. O Plano invisível associa-se ao vosso esforço votivo. Também nós nos reunimos, em outros Planos, tentando projetar uma claridade nova sobre as sombras dos tempos ominosos que agora atravessais. Sim. A grande figura do mestre deve ser evocada. A sua vida de nobres exemplificações deve ser tomada como paradigma pelos obreiros novos. A sua obra foi a de um revolucionário divino, em complementação ao trabalho e ao sacrifício do maior revolucionário do mundo, que foi o divino Mestre. Allan Kardec é o hífen de luz, unindo os repositórios sagrados de todas as gerações. O seu esforço ainda é o trabalho permanente da evolução de toda a cultura humana no Evangelho de Cristo. E nunca, como agora, essa semeadura deve ser cultivada. O mundo retrocede a passos largos para todos os processos de força. Um novo espírito de rapina desenvolve-se no seio das nações imperialistas do globo. Os ditadores se reúnem, apressando o extermínio das conquistas penosas da civilização. Sobre a fronte da humanidade, os corvos da ambição se reúnem para a carnificina e para a morte, dentro dos bastidores trevosos do armamentismo internacional. Onde a cultura e a conquista moral? Os grandes pregadores da sociologia encarecem as necessidades dos tempos: apela-se para todas as fontes do conhecimento espiritual, mas a realidade positiva é que tudo se apresta para as lutas finais, nesse tenebroso apogeu da civilização. Semelhante fenômeno não tem suas origens na necessidade de matérias-primas, por parte dos países superlotados. Bem sabemos que das trocas depende toda a estabilidade da economia do mundo e o mundo produz o bastante em todos os seus setores para aquele que é o usufrutuário e não dono dos seus bens — o homem. Semelhantes fatos, de capital importância nos processos evolutivos da humanidade, têm os seus ascendentes no espírito de agressividade, no instinto de egoísmo do homem moral, que não soube elevar-se às altitudes do homem material, acompanhado das mais extraordinárias conquistas científicas. Os descendentes do primata antigamente cuidavam apenas do problema de viver, dominando, aos poucos, os segredos ocultos da natureza. A natureza foi, então, dominada. Criaram-se todas as facilidades e todas as comodidades da civilização no curso incessante dos séculos. O homem devassou o fundo dos oceanos, elevou-se à estratosfera, projetou viagens interplanetárias, organizou as ciências positivas, inaugurou inventos e devassou o recôndito do orbe, solucionando os seus enigmas, mas, voltando para si mesmo nos tempos que correm, quando a radiotelegrafia e o avião transformaram o globo numa pequena moradia, regressando ao seu mundo interior o homem das filosofias avançadas esbarrou com o dístico do templo de Delphos. Eis aí, meus amigos, a grande função da codificação kardequiana nos tempos modernos: apontar ao viajor extenuado do planeta o conhecimento de si mesmo e a estrutura de sua personalidade imortal e indivisível, alargando as suas possibilidades e ampliando a sua visão espiritual. O grande trabalho do Espiritismo atualmente é o de preparar a mentalidade humana para a revolução sociológica que teremos que conhecer, em tempo oportuno. Não à base da filosofia amarga do homem econômico, do comunismo marxista, nem à margem dos processos de força dos estados totalitários. Mas revolução espiritual, renovadora do homem, sem contribuição de ordem política, revivendo-se o socialismo cristão em expressões puras e simples, das quais o microcosmo Galileia foi o teatro imortal. Revolução do mundo interior de cada um para a compreensão da paz, sem as armas, e da fraternidade, sem estatutos e disposições de ordem econômica. É por isso que, saudando a era nova convosco, depois dos últimos massacres que a ambição e o egoísmo dos homens terá de viver, em anos próximos, trago-vos a expressão da minha fervorosa crença no divino Modelo, aguardando o porvir cheio de confiança na misericórdia de Deus, na direção de fato e de verdade para todas as nações do planeta terrestre. E lembrando a figura nobre do grande discípulo e mestre generoso, que agora recordais, confirmo a expressão de um dos nossos amigos, quando lembrou a figura de : apontando a universidade como salvação de sua pátria, aponto-vos igualmente o Evangelho restaurado, o estatuto de amor e de luz do Mestre, cuja prática, e de cuja observância, nascerá a grande verdade e a paz duradoura da felicidade humana.




Nota da Editora: Mensagem psicografada por Chico Xavier na União Espírita Mineira, em sessão comemorativa ao desenlace de Allan Kardec, realizada a 31 de março de 1938.


[A legenda — No frontão do templo de , em Delfos, está escrito: “Conhece-te a ti mesmo”, traduzido por Nosce te ipsum, em latim.]



Emmanuel
Francisco Cândido Xavier


Acima, está sendo listado apenas o item do capítulo 29.
Para visualizar o capítulo 29 completo, clique no botão abaixo:

Ver 29 Capítulo Completo
Este texto está incorreto?