Educandário de Luz

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Capítulo II

IV. — Espiritismo.

— Poderemos receber um novo ensino sobre os deveres que competem aos espiritistas?

— Não devemos especificar os deveres do espírita cristão, porque palavra alguma poderá superar a exemplificação do Cristo, que todo discípulo deve tomar como roteiro da sua vida.

Que o espiritista, nas suas atividades comuns, dispense o máximo de indulgência para com os seus semelhantes, sem nenhuma para consigo mesmo, porque antes de cogitar da iluminação dos outros, deverá buscar a iluminação de si mesmo, no cumprimento de suas obrigações.


— Como se justifica a existência de certas lutas antifraternais dentro dos grupos espiritistas?

— Os agrupamentos espiritistas necessitam entender que o seu aparelhamento não pode ser análogo ao das associações propriamente humanas.

Um grêmio espírita-cristão deve ter, mais que tudo, característica familiar, onde o amor e a simplicidade figurem na manifestação de todos os sentimentos.

Em uma entidade doutrinária, quando surgem as dissensões e lutas internas, revelando partidarismos e hostilidades, é sinal de ausência do Evangelho nos corações, demonstrando-se pelo excesso de material humano e pressagiando o naufrágio das intenções mais generosas.

Nesses núcleos de estudo, nenhuma realização se fará sem fraternidade e humildade legítimas, sendo imprescindível que todos os companheiros, entre si, vigiem na boa vontade e na sinceridade, a fim de não transformarem a excelência do seu patrimônio espiritual na reprodução dos conventículos católicos, inutilizados pela intriga e pelo fingimento.


— O espiritista para evolutir na Doutrina necessita estudar e meditar por si mesmo, ou será suficiente frequentar as organizações doutrinárias, esperando a palavra dos guias?

— É indispensável a cada um o esforço próprio no estudo, meditação, cultivo e aplicação da Doutrina, em toda a intimidade de sua vida.

A frequência às sessões ou o fato de presenciar esse ou aquele fenômeno, aceitando-lhe a veracidade, não traduz aquisição de conhecimentos.

Um guia espiritual pode ser um bom amigo, mas nunca poderá desempenhar os vossos deveres próprios, nem vos arrancar das provas e das experiências imprescindíveis à vossa iluminação.

Daí surge a necessidade de vos preparardes individualmente, na Doutrina, para viverdes tais experiências com dignidade espiritual, no instante oportuno.


— Como deveremos receber os ataques da crítica?

— Os espiritistas devem receber a crítica dos campos de opinião contrária, com o máximo de serenidade moral, reconhecendo-lhe a utilidade essencial.

Essas críticas se apresentam, quase sempre, com finalidade preciosa, qual a de selecionar, naturalmente as contribuições da propaganda doutrinária, afastando os elementos perturbadores e confusos, e valorizando a cooperação legítima e sincera, porque todo ataque à verdade pura serve apenas para destacar e exaltar essa mesma verdade.


— Como deverá agir o espírita sincero, quando se encontre perante certas extravagâncias doutrinárias?

— À luz da fraternidade pura, jamais neguemos o concurso da boa palavra e da contribuição direta, sempre que oportuno, em benefício do esclarecimento de todos, guardando, todavia, o cuidado de nunca transigir com os verdadeiras princípios evangélicos, sem contudo ferir os sentimentos das pessoas. E se as pessoas perseverarem na incompreensão, cuide cada trabalhador da sua tarefa, porque Jesus afirmou que o trigo cresceria ao lado do joio, em sua seara santa, mas Ele, o Cultivador da Verdade Divina, saberia escolher o bom grão na época da ceifa.


— É justo que, a propósito de tudo, busque a espiritista tanger os assuntos do Espiritismo nas suas conversações comuns?

— O crente sincero precisa compenetrar-se da oportunidade, no tempo e no ambiente, com relação aos assuntos doutrinários, porquanto, qualquer inconsideração, nesse particular, pode conduzir a fanatismo detestável, sem nenhum caráter construtivo.


— Nos agrupamentos espiritistas devemos provocar, de algum modo, essa ou aquela manifestação do Além?

— Nas reuniões doutrinárias, acima de todas as expressões fenomênicas, devem prevalecer a sinceridade e a aplicação individuais, no estudo das leis morais que regem o intercâmbio entre o planeta e as Esferas do invisível.

De modo algum se deverá provocar as manifestações mediúnicas, cuja legitimidade reside nas suas características de espontaneidade, mesmo porque o programa espiritual das sessões está com os mentores que as orientam do Plano invisível, exigindo-se de cada estudioso a mais elevada porcentagem de esforço próprio na aquisição do conhecimento, porquanto o Plano espiritual distribuirá sempre, de acordo com as necessidades e os méritos de cada um. Forçar o fenômeno mediúnico é tisnar uma fonte de água pura com a vasa das paixões egoísticas da Terra, ou com as suas injustificáveis inquietações.


— É aconselhável a evocação direta de determinados Espíritos?

— Não somos dos que aconselham a evocação direta e pessoal, em caso algum.

Se essa evocação é passível de êxito, sua exequibilidade somente pode ser examinada no Plano espiritual. Daí a necessidade de sermos espontâneos, porquanto, no complexo dos fenômenos espiríticos, a solução de muitas incógnitas espera o avanço moral dos aprendizes sinceros da Doutrina. O estudioso bem-intencionado, portanto, deve pedir sem exigir, orar sem reclamar, observar sem pressa, considerando que a Esfera espiritual lhe conhece os méritos e retribuirá os seus esforços de acordo com a necessidade de sua posição evolutiva e segundo o merecimento do seu coração.

Podereis objetar que Allan Kardec se interessou pela evocação direta, procedendo a realizações dessa natureza, mas precisamos ponderar, no seu esforço, a tarefa excepcional do Codificador, aliada a necessidades e méritos ainda distantes da esfera de atividade dos aprendizes comuns.


— Seria lícito investigarmos, com os Espíritos amigos, as nossas vidas passadas? Essas revelações, quando ocorrem, traduzem responsabilidade para os que as recebem?

— Se estais submersos em esquecimento temporário, esse olvido é indispensável à valorização de vossas iniciativas. Não deveis provocar esse gênero de revelações, porquanto os amigos espirituais conhecem melhor as vossas necessidades e poderão prove-las em tempo oportuno, sem quebrar o preceito da espontaneidade exigido para esse fim.

O conhecimento do pretérito, através das revelações ou das lembranças, chega sempre que a criatura se faz credora de um benefício como esse, o qual se faz acompanhar, por sua vez, de responsabilidades muito grandes no plano do conhecimento; tanto assim que, para muitos, essas reminiscências costumam constituir um privilégio doloroso, no ambiente das inquietações e ilusões da Terra.


— Devem ser intensificadas no Espiritismo as sessões de fenômenos mediúnicos?

— São muito poucos, ainda, os núcleos espiritistas que se podem entregar à prática mediúnica com plena consciência do serviço que têm em mãos; motivo por que é aconselhável a intensificação das reuniões de leitura, meditação e comentário geral para as ilações morais imprescindíveis no aparelhamento doutrinário, a fim de que numerosos centros bem-intencionados não venham a cair no desânimo ou na incompreensão, por causa de um prematuro comércio com as energias do Plano invisível.




Emmanuel
Francisco Cândido Xavier


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