Educandário de Luz

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Capítulo VIII

IV. — Espiritismo.

— Como deveremos entender a sessão espírita?

— A sessão espírita deveria ser, em toda parte, uma cópia fiel do cenáculo fraterno, simples e humilde do Tiberíades, onde o Evangelho do Senhor fosse refletido em espírito e verdade, sem qualquer convenção do mundo, de modo que, entrelaçados todos os pensamentos na mesma finalidade amorosa e sincera, pudesse a assembleia constituir aquela reunião de dois ou mais corações, em nome do Cristo, onde o esforço dos discípulos será sempre santificado pela presença do seu amor.


— Como deve ser conduzida uma sessão espírita, de sua abertura ao encerramento?

— Nesse sentido, há que considerar a excelência da codificação kardequiana; contudo, será sempre útil a lembrança de que as reuniões doutrinárias devem observar o máximo de simplicidade, como as assembleias humildes e sinceras do Cristianismo primitivo, abstendo-se de qualquer expressão que apele mais para os sentidos materiais que para a alma profunda, a grande esquecida de todos os tempos da Humanidade.


— Nas sessões, os dirigentes e os médiuns têm uma tarefa definida e diferente entre si?

— Nas reuniões doutrinárias, o papel do orientador e o do instrumento mediúnico devem estar sempre identificados na mesma expressão de fraternidade e de amor, acima de tudo; mas, existem características a assinalar, para que os serviços espirituais produzam os mais elevados efeitos, salientando-se que os dirigentes das sessões devem ser o raciocínio e a lógica, enquanto o médium deve representar a fonte de água pura do sentimento. É por isso que, nas reuniões onde os orientadores não cogitam da lógica e onde os médiuns não possuem fé e desprendimento, a boa tarefa é impossível, porque a confusão natural estabelecerá a esterilidade no campo dos corações.


— Os agrupamentos espiritistas podem ser organizados sem a contribuição dos médiuns?

— Nas reuniões doutrinárias, os médiuns são úteis, mas não indispensáveis, porque somos obrigados a ponderar que todos os homens são médiuns, ainda mesmo sem tarefas definidas, nesse particular, podendo cada qual sentir e interpretar, no plano intuitivo, a palavra amorosa e sábia de seus guias espirituais, no imo da consciência.


— Será aconselhável a determinação de dias da semana para a realização normal das sessões espíritas?

— Qualquer dia e hora podem ser consagrados ao bom trabalho da fraternidade e do bem, sempre que necessário; mas, nas reuniões dedicadas ao esforço doutrinário, faz-se imprescindível a metodização de todos os trabalhos em dias e horas prefixados.


— Há estudiosos da Doutrina que se afastam das reuniões, quando as mesmas não apresentam fenômenos. Como se deve proceder para com eles?

— Os que assim procedem testemunham, por si mesmos, plena inabilitação para o verdadeiro trabalho do Espiritismo sincero. Se preferem as emoções transitórias dos nervos ao serviço da autoiluminação, é melhor que se afastem temporariamente dos estudos sérios da Doutrina, antes de assumirem qualquer compromisso. A compreensão do Espiritismo ainda não está bastante desenvolvida em seu mundo interior, e é justo que prossigam em experiências para alcançá-la.

O êxito dos esforços do Plano espiritual, em favor do Cristianismo redivivo, não depende da quantidade de homens que o busquem, mas da qualidade dos trabalhadores que militam em suas fileiras.


— Por que motivo a doutrinação e a evangelização nas reuniões espiritistas beneficiam igualmente desencarnados, se a estes seria mais justo o aproveitamento das lições recebidas no Plano espiritual?

— Grande número de almas desencarnadas nas ilusões da vida física, guardadas quase que integralmente no íntimo, conservam-se, por algum tempo, incapazes de apreender as vibrações do Plano espiritual superior, sendo conduzidas por seus guias e amigos redimidos às reuniões fraternas do Espiritismo evangélico, onde, sob as vistas amoráveis desses mesmos mentores do Plano invisível, se processam os dispositivos da lei de cooperação e benefícios mútuos, que rege os fenômenos da vida nos dois Planos.


— Como deverá agir o estudioso para identificar as entidades que se comunicam?

— Os Espíritos que se revelam, através das organizações mediúnicas, devem ser identificados por suas ideias e pela essência espiritual de suas palavras.

Determinados médiuns, com tarefa especializada, podem ser auxiliares preciosos à identificação pessoal, seja no fenômeno literário, nas equações da ciência, ou satisfazendo a certos requisitos da investigação; todavia essa não é a regra geral, salientando-se que as entidades espirituais, muitas vezes, não encontram senão um material deficiente que as obriga tão só ao indispensável, no que se refere à comunicação.

Devemos entender, contudo, que a linguagem do Espírito é universal, pelos fios invisíveis do pensamento que, aliás, não invalida a necessidade de um estudo atento acerca de todas as ideias lançadas nas mensagens medianímicas, guardando-se muito cuidado no capítulo dos nomes ilustres que porventura as subscrevam.

Nas manifestações de toda natureza, porém, o crente ou o estudioso do problema da identificação não pode dispensar aquele sentido espiritual de observação que lhe falará sempre no imo da consciência.


— É justo que o espiritista, depois de sofrer pela morte a separação de um ente amado, provoque a comunicação dele nas sessões medianímicas?

— O espiritista sincero deve buscar o conforto moral, em tais casos, na própria fé que lhe deve edificar intimamente o coração.

Não é justo provocar ou forçar a comunicação com esse ou aquele desencarnado. Além de não conhecerdes as possibilidades de sua nova condição na Esfera espiritual, deveis atender ao problema dos vossos méritos.

O homem pode desejar isso ou aquilo, mas há uma Providência que dispõe no assunto, examinando o mérito de quem pede e a utilidade da concessão.

Qualquer comunicado com o Invisível deve ser espontâneo, e o espiritista cristão deve encontrar na sua fé o mais alto recurso de cessação do egoísmo humano, ponderando quanto à necessidade de repouso daqueles a quem amou, e esperando a sua palavra direta, quando e como julguem os mentores espirituais conveniente e oportuno.


— Muita gente procura o Espiritismo, queixando-se de perseguições do Invisível. Os que reclamam contra essas perturbações estão, de algum modo, abandonados de seus guias espirituais?

— A proteção da Providência Divina estende-se a todas as criaturas.

A perseguição de entidades sofredoras e perturbadas justifica-se no quadro das provações redentoras, mas, os que reclamam contra o assédio das forças inferiores dos Planos adstritos ao orbe terrestre, devem consultar o próprio coração antes de formularem as suas queixas, de modo a observar se o Espírito perturbador não está neles mesmos.

Há obsessores terríveis do homem, denominados “orgulho”, “vaidade”, “preguiça”, “avareza”, “ignorância” ou “má-vontade”, e convém examinar se não se é vítima dessas energias perversoras que, muitas vezes, habitam o coração da criatura, enceguecendo-a para a compreensão da luz de Deus. Contra esses elementos destruidores faz-se preciso um novo gênero de preces, que se constitui de trabalho, fé, esforço e boa vontade.




Emmanuel
Francisco Cândido Xavier


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