ENTRE DUAS VIDAS

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Capítulo VII

Paulo César de Almeida

Mamãe, abençoe-me. Abençoe seu filho que ainda sofre, mas sofre porque o sofrimento de seu coração e dos nossos por minha causa se represa em mim, como se fora terrivelmente condensado por mecanismos que ainda não sei compreender.

Deixei o corpo, não por vontade. Se pudesse, mamãe, teria ficado. Entretanto, quem de nós pode barrar o curso das Leis de Deus?

É verdade que a senhora e meu pai esperavam tanto do meu curso iniciante na Medicina, mas se o futuro não fosse o que aguardávamos, com tanto entusiasmo, impondo-nos dificuldades e tentações para cuja travessia não estivéssemos preparados, não terá sido melhor interromper o trabalho no presente para recomeçá-lo com mais segurança?

Auxiliem-me. Não chorem mais. A saudade é uma sombra entre nós.

Compartilhamo-la, juntos, porque ainda estou muito abatido, sem um entendimento claro ou tão claro quanto seria de desejar para resolver os meus próprios problemas. Ainda assim, rogo a todos paciência e conformação.

Nada de rebeldia ou de queixa. Somos cristãos e sabemos que Deus nos oferece o melhor.

Amanhecera o domingo, no derradeiro dia do corpo, sentindo-me alegre, feliz. Quando tomamos o Corcel para Araguari, meu coração estava contente, tranquilo. Era o descanso do estudo, a higiene mental…

E tudo o que sucedeu, após, no fundo, é a Vontade do Senhor, amparando-nos.

Quando senti a pancada na cabeça, não tive tempo para pensar. Foi como se eu dormisse muitas horas sem querer.

Ao despertar, a senhora simpática a abençoar-me, ao pé do leito muito limpo, era, sim, a vovó Maria Luísa.

Nunca poderia supor que a minha situação houvesse mudado tanto, mas, aos poucos, recebi a explicação acerca de tudo, porque comecei a sentir-me em casa com o sofrimento de todos a sufocar-me.

Não me achava no lar da Terra, mas o lar da Terra me requisitava para fazer-me ver e ouvir quanto se passava com a senhora, com papai e com os nossos.

Creia, mãezinha, que a dor dos que ficam, quando demasiada, é um martírio sobre os que partem.

Perdoe seu filho se falo assim. Não tenho outras palavras para adoçar a minha impressão. Conformemo-nos. Tudo passa.

No mundo, estamos na escola — esta é que é a verdade. Cada qual em sua lição e terminada a lição, outros educandários de Deus nos esperam.

Peço ao Celson para não pensar que a situação pudesse ser outra. A ele e ao Ricardo os meus pensamentos de gratidão.

Deixei a existência do corpo terrestre porque devia ser assim. Entreguemo-nos a Deus, em nossa fé que deve ser viva e sincera.

Estou melhorando, à medida que escrevo. É um desabafo, que vale por desinibição curativa.

Orem por mim, mas pensem acerca de nossas saudades com a esperança e a paz regendo os nossos impulsos. Se vocês me ajudarem, creio que vencerei as minhas crises em menor tempo.

Estou diante de um mundo novo. Ajudem-me a descobri-lo.

Tenho encontrado muitas dedicações, dentre elas a de nosso venerado Frei Raimundo, que será sempre o nosso herói silencioso de caridade espiritual em nossa Uberlândia.

Em nome de quantos me amparam, rogo o amparo de todos os meus familiares queridos.

Tomo, na presença das queridas tias Olentina, Lidormina e Ondina, o compromisso de auxiliá-la, mamãe, e ser mais útil a todos.

Quanto puderem, estudem os assuntos da alma. São eles os ingredientes capazes de nos trazerem a consolação e a energia pelas quais todos estamos agora profundamente necessitados.

Não posso escrever mais. Receba, querida mamãe, com meu pai e todos os nossos, todo o coração de seu filho

Paulo César

(Uberaba, 16 de outubro de 1970)



Paulo César de Almeida nasceu a 10 de agosto de 1948, em Uberlândia, Minas Gerais, desencarnado no dia 9 de agosto de 1970, num desastre automobilístico, na cidade de Araguari, Minas, em companhia de seu primo Celson Martins e do amigo Ricardo, que nada sofreram além de ligeiras escoriações.

Foi sepultado no dia de seu vigésimo segundo aniversário.

Fez o curso primário no Ginásio Cristo Rei, o curso ginasial no Colégio Brasil Central e o curso científico no Colégio Estadual de Uberlândia.

Quando desencarnou, atravessava o primeiro ano do curso médico, na Faculdade de Medicina e Cirurgia de Uberlândia, tendo sido aprovado, nos exames vestibulares, em primeiro lugar.

Era professor de um Curso Pré-Universitário, em Araguari. Inteligência brilhante, desde cedo revelou-se superdotado. Filho de Adair Gonçalves de Almeida e de D. Maria Borges de Almeida, deixou as irmãs Iara Silene de Almeida Barbosa, casada com o Sr. Valdonir Barbosa de Lima e D. Edna Lúcia Almeida de Ávila, casada com Wagner Romero de Ávila, e o irmão Carlos Alberto de Almeida.

Os dados acima foram-nos fornecidos, não apenas pela mãezinha do comunicante, mas pelo próprio rapaz que dirigia o carro, por ocasião do acidente, seu primo Celson Martins, todos católicos, que iam à Comunhão Espírita Cristã pela primeira vez.


De importante na mensagem, ressalta-se a referência à aparente ruptura do curso médico iniciante. Por que aparente? Muitos hão de perguntar.

Naturalmente, porque a vida continua no Além.

Lá, com efeito, Paulo César há de estar prosseguindo em suas atividades normais, preparando-se, agora, que conseguiu ressarcir o débito cármico, para retornar às lides terrenas, em momento oportuno, de modo a desenvolver as atividades a que se propunha.

“Nada de rebeldia ou de queixa”, diz Paulo César. Efetivamente. A vida não cessa.

Em toda prova, há uma razão de ser.

Que todas as criaturas possam seguir a orientação do comunicante, quando aconselha aos pais:

“Quanto puderem, estudem os assuntos da alma”, acrescentando: “São eles os ingredientes capazes de nos trazerem a consolação e a energia pelas quais todos estamos agora profundamente necessitados”.


Elias Barbosa


Paulo César
Francisco Cândido Xavier


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