Esperança e Luz

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Capítulo XIV

Rogativa


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No Golfo Pérsico é noite…

Revejo a nuvem da guerra,

Pairando, acima da Terra,

A espalhar-se na amplidão…


No bojo dos grandes barcos,

Em mesas enfileiradas,

Ouço frases cochichadas

Exprimindo inquietação.


Nos guerreiros veteranos,

Há silêncio, não há voz…


E vendo luz ao meu lado

Entro na bênção da prece,

Pedindo a Deus,

Fortaleça a todos nós.


Fitando o Alto, eis que imploro:

“Ah! meu Pai, por que, meu Deus,

Por que deste tanto ódio,

Aos teus filhos e irmãos meus?”


Sem que ninguém saiba de onde,

A voz dos Céus nos responde:

“A todos damos amor!…”


Invoco então Jesus-Cristo,

Amado Mestre e Senhor:

“Jesus, ante o teu Natal,

Livra-nos sempre do mal.”

E o Mestre disse em voz alta:

“Para o Bem nada nos falta

Amparai-vos uns aos outros,

Amai-vos qual vos amei.”


Sei que o conflito iminente

Pode surgir de repente…


De espírito transformado

Operando mentalmente

Volto ao meu próprio passado…

Vejo a Guerra das Cruzadas,

Homens munidos de espadas

Montam soberbos corcéis;

Crianças abandonadas

Procuram mães desoladas,

Sofrendo golpes cruéis!…

Eis-me também nas Cruzadas…

A guerra é longa e sangrenta,

O Homem não se contenta,

Crê no ódio, mais e mais;

Nada suprime a matança,

Morre a paz sem esperança,

Gerando embates fatais…


A batalha continua…


Volto a Jesus e pergunto:

“Como agir? Dize Senhor,

Perante o desequilíbrio

De nossos irmãos do mundo,

Rogamos que nos definas

Com Tuas lições Divinas:

Que fazer, perante a Lei?”

Fala, entretanto, o Senhor,

Quando a vida se desmanda

Precisamos cultivar mais trabalho,

Mais perdão e mais amor.


A guerra prossegue intensa,

Os homens nos lembram feras

No caminho de outras eras

Sem Luz, sem Paz e sem Crença…

E em vilarejo distante, embora vitorioso,

O cai exangue

E morre em poeira e sangue

Ferindo o mundo cristão!…


Tantas lembranças amargas!…

Afasto-me do terror,

Sempre o ódio em tantas cenas!…

Para ilações mais serenas

Em torno do hórrido evento

Coração em sofrimento

Mergulhado em grande dor!…


Quero pensar livremente,

Não suporto a grande luta;

Retiro-me quando escuto

Alguém a dizer-me, claro:

“Em Deus não há desamparo!…”

O mensageiro da Luz

Pedia-me paz e fé,

Na bênção do Herói da Cruz.

Consciente, ansioso e aflito,

Procuro guardar-me em prece,

Na paz de que necessito;

Vejo em torno a Natureza,

Tudo é Esperança e Beleza!…


O vento brinca na areia…

Noto onde o solo se alteia,

Terra verde e céu de anil!…

A dor quase me enlouquece,

Mas em paz reflito em prece:

— Deus nos preserve o Brasil.




(Poema recebido em reunião pública e comemorativa do Centro Espírita União, em São Paulo, na noite de 17 de Outubro de 1990)



Castro Alves
Francisco Cândido Xavier


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