Feliz Regresso

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Capítulo XII

Jorge Luiz Camargo

Querida mãezinha Iris, querido papai. Rogo-lhes a bênção de paz com que sempre me reconfortam.

Estou sim. Aqui mesmo. Como da vez passada. As palavras me explodem na memória, entretanto, o coração me parece um tradutor doente, no íntimo de mim mesmo.

Refiro-me às nossas dificuldades para asserenar os sentimentos de nossa querida Denise. Tenho lutado. Compreendo. A noiva querida significa em nosso coração de rapaz uma promessa de felicidade para sempre. Se isso ocorreu comigo, naturalmente com ela, menina sensível e afetuosa, isso estará sucedendo numa condição que não conseguimos imaginar.

Mãezinha, seja para mim a portadora da mensagem que lhe desejaria transmitir em sentido direto. Diga-lhe, mamãe, para não pensar em morte voluntária.

Nunca suporia que a nossa Denise viesse a pensar na deserção das provas em que Deus, pela Justiça que nos governa, nos oferece as melhores ocasiões de burilar o próprio Espírito na direção de uma Vida Maior e Melhor.

Faremos tudo para reerguer-lhe o ânimo abatido. Acompanho-a, por vezes desolado, as horas de desânimo e descrença. Ouço-a na acústica do meu coração a perguntar pelos planos que formávamos e noto-a respondendo a si mesma com a ideia da negação a queimar-lhe os pensamentos.

Peço-lhe, mãezinha, seja dito a ela que estou vivo e que compreender não é renunciar. Realmente, seu filho não pode, por agora, faze-la feliz nas mesmas linhas de compromisso em que nossos projetos se levantavam, mas posso ser o irmão e amigo a soerguer-lhe as forças, por vezes exaustas. Que ela retome a vida e que reflita na felicidade como dantes.

A formação de um lar com o braço valoroso de um companheiro correto e fiel não lhe deve ser estranha. Uma família nem sempre se constitui de dois corações unicamente. Os filhos contam. Amores que nascem do amor entre duas almas, eles nos falam de Deus e da beleza da vida.

Nada posso adiantar quanto ao futuro, porque o amanhã surge da Providência Divina, entretanto, quem sabe? Não poderei, de minha parte, sonhar em ser um filho que a ame tanto e que ame tanto ao novo pai que o Céu me conceda que eu seja um dia, capaz de ressuscitar nossas esperanças em outros níveis?

Por que haveríamos de pensar numa afeição exclusiva com os impulsos da posse absoluta a envenenar-nos a vida?

Um filho… Pensávamos nisso. Não serei eu mesmo, em tempo vindouro a criança para quem Denise cantará nossas melodias de ninar? Haverá algo de mais puro do que um beijo materno para sossegar um pequenino necessitado de paz?

Denise! por que a ideia da autodestruição, se nada destruímos senão a nossa própria felicidade, quando nos colocamos contra as Leis de Deus?…

Meu pai Oswaldo, diga àquela que o senhor igualmente ama por filha que não desapareci na estrada de Atibaia, que estou cada vez mais vivo para auxiliá-la a construir a felicidade que imaginamos conquistar. E essa conquista não será interrompida. Seguiremos ao encontro dela, vestindo as nossas aspirações em outros trajes. E é preciso reconhecer que uma existência na Terra, por mais longa, não passa de uma gota de calendário, no oceano do Tempo.

Aceitemos nossas provas com serenidade e confiança em Deus na fé em nós mesmos. Sei que a nossa querida Denise me ouvirá.

Peço-lhe seja dito que tenho aqui dois amigos em vovô Rafael e em vovô Clodomiro e ela possui um protetor dedicado em outro avô, o irmão Alcântara que vim a conhecer em minha vida nova.

Espero que o nosso empreendimento afetivo dê o resultado que esperamos. Não desejo que a nossa abnegada companheirinha julgue minhas palavras em termos de desistência e sim que me entenda nos propósitos de felicidade que desejo a ela, tanto quanto a nós mesmos.

Meu pai Oswaldo, o tio Alexandre está muito bem. Acompanhei-o na vinda para Cá, em fevereiro último e posso dizer-lhes que ele está se adaptando com segurança às novas vivências que a liberação do corpo físico nos compele a enfrentar.

Quero notificar ainda à querida Vera, presente ao nosso encontro, que muitos amigos daqui lhe apoiam o tratamento de saúde e que precisa continuar e que nós não nos descuidamos de cooperar em auxílio dos nossos queridos 5icente, Paulo e Olga.

Tudo prossegue. A família dos que se amam reciprocamente jamais se divide. Estamos unidos na colaboração pelo bem uns dos outros.

Agradeço por todas as bênçãos que recebo constantemente de nossa casa e peço a Deus nos guarde em abençoada comunhão espiritual.

Querida mãezinha e querido papai, lembrem-me como sempre forte e tranquilo. Estou aprendendo a agir melhor para melhor servir.

Recebam com todos os nossos as minhas afetuosas lembranças, das quais destaco muito carinhosamente para os dois um beijo de respeitoso amor, do filho sempre reconhecido,


Jorge Luiz

COMENTÁRIOS

Quando o Espírito entender que não se pertence, que é do mundo, a serviço dos semelhantes, e puder se reservar o direito de escolha para um companheiro ou companheira, não quer dizer que o amor não possa aliar-se pelos laços materno ou paterno, integrados no campo afetivo. Esse carinho, esse amor, transforma-se em consciência cristã, como na parábola de Jesus: “Todo aquele que faz a vontade de Deus, este é meu irmão, minha irmã e minha mãe.” (Mc 3:35)

Num recado, Jorge Luiz nos mostra:

“Uma família nem sempre se constitui de dois corações unicamente. Os filhos contam Amores que nascem do amor entre duas almas, eles nos falam de Deus e da beleza da vida. Nada posso adiantar quanto ao futuro, porque o Amanhã surge da Providência Divina. Entretanto, quem sabe? Não poderei, de minha parte, sonhar em ser um filho que a ame tanto e que ame tanto ao novo pai que o Céu me conceda, que eu seja, um dia, capaz de ressuscitar nossas esperanças em outros níveis? Por que haveríamos de pensar numa afeição exclusiva com os impulsos da posse absoluta a envenenar-nos a vida?”


PESSOAS E FATOS

Jorge Luiz Camargo: Nascimento: 16.4.1955. Desencarnação: 18.3.1977.

Pais: Oswaldo Camargo e Iris Motono Camargo — Rua Rocha, 318, São Paulo — SP.

Avós: Rafael Motono, materno. Clodomiro Camargo, paterno.

Armando Alcântara, avô de Denise Brosa Alcântara, na ocasião noiva de Jorge Luiz.

Tios: Alexandre Motono, Olga, Vicente Augusto, materno.

Vera Lúcia e Jorge Paulo, sobrinhos, materno.


Rubens S. Germinhasi


Jorge Luiz
Francisco Cândido Xavier


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Marcos 3:35

Porquanto qualquer que fizer a vontade de Deus esse é meu irmão, e minha irmã, e minha mãe.

mc 3:35
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