Feliz Regresso
Versão para cópiaÁlvaro Gonçalves
Querida mãezinha, meu querido papai, peço para que me abençoem.
Não sei se voltei a ser criança. A verdade é que me sinto sensibilizado, a ponto de me supor menino de novo, na ansiedade de me fazer sentir tal qual sou. Tenho a ideia de estar na condição dos rapazes que se viram à força retirados de casa, no momento em que se lhes fazem possíveis o noticiário e a presença, de maneira a se mostrarem inteiramente tais quais são no retorno à casa.
Saí naquela quinta-feira, sem o menor pressentimento de que não voltaria. Penso que não precisarei contar o que me sucedeu. Os pais adivinham tudo. E porque adivinham é que sofrem tanto pelos filhos que Deus lhes confiou, devo esclarecer alguma coisa para afirmar-lhes que fiz o máximo para evitar o desastre. Percebi que me achava diante de manobra difícil, entretanto, era preciso movimentar-me. Tudo seguia com meu pensamento erguido ao apêndice de minha própria atenção, quando senti um golpe na cabeça, uma luz ao mesmo tempo, forte demais, me envolveu a visão e perdi-me num descontrole que não sei descrever. Esforçava-me para reter a memória, falar, explicar-me, no entanto, minhas forças esmoreceram. Não se me fez possível qualquer impulso de retomada do próprio corpo, de vez que um sono estranho se apoderou de mim, sentia-me anestesiado, inconsciente, uma espécie de amnésia, possuía todas as faculdades mentais. Sentia-me vivo e inerte, inconsciente e insensibilizado. Se me perguntassem o próprio nome, não saberia responder, mesmo porque ignorava de que maneira conseguiria descerrar os meus lábios, estava em mim eu mesmo, sem possibilidade de coordenar quaisquer lembranças.
Um tipo de hipnose que ignorava mantinha sobre mim pesada influência até que o desmaio total (pelo menos é como classifico o estado mental em que entrei) me apagou todas as observações e resistência, era um sono de compulsão de que não conseguia desvencilhar-me. Quantas horas ou dias perdurou semelhante situação não sei dizer — até um instante surgiu no qual me pareceu sair das profundezas de mim mesmo. Tive a impressão de repousar no fundo de um poço enorme, com alguém a chamar por mim tentando alçar-me para cima.
O entendimento de que o nome da pessoa que se repetia era eu próprio, vinha aos poucos do mais íntimo do meu ser — gradativamente despendendo muita força consegui responder — foi então que despertei — não me achava em poço algum e sim num leito muito alvo, com o tio João à minha frente. Supus que me encontrava numa casa de tratamento ou socorro de emergência sem qualquer ideia de que o tio João Devecchi já não mais estava entre nós — essa impressão, porém, cedeu lugar a verdade em momentos rápidos.
Entretanto, embora a certeza de que me achava num outro Plano de vida, o corpo me doía qual se estivesse em meu próprio campo físico. O amado amigo me pedia calma e ponderação. Era muito o que o tio me solicitava, porque os pais queridos, as irmãs, a nossa querida Fátima, a vovó Terezinha, e todos os nossos, estavam em minhas inquietações. Queria notícias e queria dar notícias, falar de mim mesmo, rogar assistência imediata, no entanto, outras pessoas amigas foram surgindo e havia tanta serenidade naqueles rostos que me recomendavam coragem que não tive outro recurso senão acalmar-me. No entanto, à medida que me conformava, as minhas atenções vinham de fora para dentro e por dentro de mim comecei a ver mamãe e a nossa Fátima a me chamarem com lágrimas.
Então pude chorar também, chorar convulsivamente entre a saudade e o anseio impossível de reformar-me na veste estragada que ficara no mundo! Essas lágrimas, como que me lavaram a alma! Como a chuva quando desfaz montões de nuvens no céu para que o azul reapareça e com possível serenidade, venho realizando o meu próprio refazimento. Peço-lhes agora pais queridos para não me recordarem pelos sinais das fotos que estamparam a nossa provação. Tudo aquilo passou.
Pensemos uns nos outros como nos dias mais belos da vida. Sou o mesmo filho e amigo, cuja vida permanece no afeto e na gratidão com o que Deus nos uniu para sempre. Espero melhorar-me a fim de conhecer melhor o caminho a seguir. Por enquanto, estou sob a tutela de minha avó Marieta, que tem sido um anjo de bondade e carinho, com assistência do tio João e do meu bisavô Gonçalves e de outros familiares que vou conhecendo de vez, embora se saiba por aqui que a pessoa liberada do corpo físico está simplesmente voltando ao seu núcleo de origem, a memória não é instrumento que se possa acordar integralmente de uma só vez. Um amigo que se me faz conhecido por irmão e tio Antônio e que declara vinculado à família do papai, vem me prestando abençoados serviços e é meu companheiro a cuja dedicação muito devo nesta fase de minhas novas experiências.
Desejo rogar aos pais queridos reconfortarem, quando possível, a noiva querida que ficou na condição de filha em meu lugar. Vejo-a tão nobre e tão criança, que não me cansarei de pedir a Jesus a renovação de minhas próprias forças a fim de auxiliá-la a reencontrar-se no nível de nossas aspirações. A vida é luz divina em nós e a mudança de condição não transforma os sentimentos. Estarei amando-a com carinho de sempre, mas rogando aos Mensageiros do Mais Alto que me auxiliem para que eu possa auxiliá-la. Graças a Deus não fomos criados sob a inspiração do egoísmo e sim da compreensão. Deus nos ajudará a fim de que vejamos a nossa Fátima feliz, tão feliz como sempre desejamos.
Pai querido, agradeço ao seu amor e a bondade da mãezinha não se entregando a averiguações inúteis. Ninguém sofre ou faz alguém sofrer no trânsito porque deseja. As batidas, os acidentes, os capotamentos, o desenfreio em certas máquinas e as ocorrências infelizes, quais que sejam, decorrem de provas que nos cabem atravessar porque, depois de qualquer acontecimento infeliz na estrada, a luta e a inquietação passam a ser sofrimento de todos.
Rogo-lhes coragem e fé em Deus. A vida não termina e espero fortalecer-me e adquirir os conhecimentos necessários para ser o filho amigo, cooperador, que aguardava. Pai querido, creia que o senhor não me perdeu, estamos mais juntos na tarefas dentro das quais a sua fibra de organizador do trabalho e do progresso esperava por minha pequena colaboração.
Deus não nos separará. Diga, por favor, a todos os nossos que estou agradecido às preces e aos atos de fé e amor que me dedicaram. Estou quase feliz, não fosse a saudade que aos poucos saberei transformar em esperança no futuro melhor que virá.
Às irmãs queridas e a todos familiares as minhas lembranças de coração. Se Jesus permitir, de futuro trarei outras notícias. Por agora me sinto ainda na posição de um convalescente sem meios de me fixar como desejo em nossos assuntos.
Mãezinha, peço a Deus para que nossas lágrimas agora se façam preces de consolo e alegria pelo reconforto e pela emoção do nosso reencontro. São três meses de ausência e de um vazio no coração para nós que nos amamos tanto. Mas Deus nos reformará os sentimentos e saberemos confiar com mais segurança no amanhã.
Pai querido e querida mamãe, abençoem-me, recebam a alegria orvalhada pelo pranto da nova fé que me clareia a alma, com muitos beijos encerrados no coração do filho que lhes entrega a própria vida, pedindo a Deus a todos nos proteja e nos abençoe, que o futuro nos encontre sempre mais felizes por sermos uns dos outros na benção de Deus. Sempre o filho amigo, sempre e cada vez mais reconhecido.
COMENTÁRIOS
Com entusiasmo e alegria, encontramos Álvaro da Silva Gonçalves.
“Sou outro homem, minha vida e a de minha esposa receberam uma nova luz. Álvaro Gonçalves, meu filho, continua conosco. Só mesmo um profundo agradecimento a Deus, de coração, e trabalho para os que estão na dor pagarão todo o bem que recebemos.”
Das diversas cartas enviadas, destacamos, de sua primeira, a presença de um tio, que seu pai e ele não conheceram. Viveu na França e desencarnou há 22 anos. Dizia:
“Um amigo que se me faz conhecido por irmão e tio Antônio e declara-se vinculado à família do papai, vem me prestando abençoados serviços e é meu companheiro a cuja dedicação muito devo nesta fase de minhas experiências.”
Procuramos saber do reforço “à família do papai”: Esclareceu-nos ter um cunhado desencarnado por parte de sua esposa que também é Antônio. Desencarnado. Para não pairarem dúvidas, Álvaro identificou-o na sua vinculação.
PESSOAS E FATOS
Álvaro Gonçalves: Nascimento: 16.8.1953. Desencarnação: 25.10.1978.
Pais: Álvaro da Silva Gonçalves e Elza Devecchi Gonçalves — Rua Jaraguá, 290 — Jaraguá, São Paulo — SP.
Avós: Tereza Morales Devecchi. Bisavó Marieta Devecchi, desencarnadas, materna. Laurindo Gonçalves, desencarnado, paterno. Antônio Crespo, tio avô, viveu e desencarnou na França.
Fátima Silveira, na ocasião sua noiva.
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