Filhos Voltando
Versão para cópia1ª Carta
José Roberto Pereira Cassiano, o Shabi, nasceu na capital paulista, a 19 de fevereiro de 1951, falecendo em acidente rodoviário na 5ia Anchieta, quando retornava de Santos para São Paulo, na noite de 9 de março de 1974.
Filho do Sr. Abigail Pereira Cassiano e de D. Maura Pereira Cassiano, deixou o convívio dos pais e amigos com apenas 23 anos. Dotado de invulgar sensibilidade artística, Shabi, como estimava que o chamassem, era desenhista-projetista, mas cultivava a pintura, a fotografia e a decoração. Como observamos no texto do outro Beto, também nas páginas assinadas pelo Shabi, destaca-se a exteriorização de sua alma sensível, construindo frases e expondo pensamentos, com a mesma firmeza e graça com que manejava o pincel e a paleta.
Filho único, sua partida mergulhou os pais em infindável tristeza, tendo se agravado sobremaneira o estado de saúde do Sr. Cassiano que permaneceu internado, nos primeiros dias de separação, na Terapia Intensiva da Beneficência Portuguesa de São Paulo.
O que representou a primeira e também as demais mensagens do Shabi, pela psicografia do Chico, aos pais saudosos?
O depoimento que se segue, recolhemo-lo ao Sr. Cassiano e D. Maura, cujas palavras pausadas e ternas dão a medida da grandeza dos pais estoicos e serenos, confiantes em Jesus, ante a adversidade que os atingiu.
“Estivemos pela primeira vez em Uberaba, para falar com Chico Xavier, sete meses após o falecimento do Shabi, orientados pela bondade de D. Yolanda Cezar. No ano seguinte, dezoito meses após o desenlace de nosso filho, voltamos a Uberaba e recebemos sua primeira carta.”
“Até então, a situação era de total desespero. Minha saúde a cada vez mais se agravava”, lembra o Sr. Cassiano. “As noites eram indormidas e quando chovia nosso desespero aumentava, pois temíamos que nosso Shabi, sepultado, recolhesse os rigores da chuva a encharcar a terra fria.” Os pais saudosos encontravam arrimo somente nos tranquilizantes que lhes aquietavam as forças.
E prosseguiu o Sr. Abigail com a palavra:
“A mensagem representou-nos um bálsamo para a alma e para o corpo. A saúde melhorou e eu passei, com minha esposa, a sentir o filho presente em tudo o que era dele e que guardávamos com carinho. Compreendemos, então, que o reencontro com ele somente poderia ser um reencontro espiritual. O sono começou a voltar e passamos a ir mais vezes a Uberaba, na esperança de receber novos recados ou, como nós entendíamos, mais uma carta do filho querido.
Hoje, vivemos mais felizes, oramos pelo Shabi e constantemente sentimo-lo conosco em espírito.
Pelas palavras de nosso filho compreendemos que a morte não existe.”
Querida mãezinha, meu querido pai, é tudo tão novo para mim, em nosso reencontro, que tenho dificuldade para registrar um assunto antigo: — pedir a bênção de Deus para nós. Mas peço esse auxílio da Divina Providência e conto com esse amparo em nosso favor.
Se pudesse, não escreveria e sim tomaria lápis e cores, tintas ou pincéis, para transmitir os meus pensamentos de agora num quadro em que lhes pudesse dar a ideia de toda a beleza e de toda a luz que nos rodeiam.
Entretanto, é preciso resignar-me às linhas cravadas no papel, tentando exprimir o que sinto. E tenho lágrimas dentro de minha alegria. E noto a alegria, dissipando-me o sofrimento em que se nos convertem as lembranças aqui nesta abertura entre duas vidas.
De qualquer modo, resumo as emoções novas em duas palavras que, de certa maneira, me quadram as expressões: estou bem. Isto, queridos pais, é tão pouco e, no entanto, diz tudo porque, na essência, quero explicar que todas as aflições passaram.
Aquele nove de março foi realmente um dia de duras provas.
Quando deixei a Beth em casa, voltei no mesmo veículo para tomar condução de volta. Conhecia o Expresso e não podia supor que seria surpreendido pela hora do adeus de que não cogitávamos. A viagem seguia o compasso da Anchieta, entre paradas de trânsito e marchas rápidas para ganho de tempo, quando, ao movimentar-me, caí num impacto de forças que não sei descrever.
Quis reagir, gritar por socorro, mas tive a impressão de que um suave anestésico me entorpecia as forças mentais. O pensamento escorria do cérebro, como se fora sangue a derramar-se de outros campos do corpo…
Sensação estranha de esvaziamento, compelindo-me a desfalecer, sem recursos de resistência. E dormi. Pelo menos, foi esta a convicção que me ficou na memória ao despertar…
Conflitos e providências, toques e chamamentos, em torno de mim, pareciam pesadelo no qual mergulhava, cada vez mais, até que entrei num nível de inconsciência profunda.
Acordei, queridos pais, numa sala de apresentação muito difícil com as palavras de que conseguiria dispor. Era eu e não era eu quem se achava ali numa dualidade que não podia reconhecer.
Ouvi conversações e apontamentos que me espantavam. No entanto, médicos e enfermeiros me administravam agentes sedativos que me impuseram mais descanso.
Em meio daquela penumbra da mente, em que todas as formas se expressavam desfiguradas ao meu olhar, acreditei-me acidentado e, por isso mesmo, doente.
Com muito esforço pronunciava os nomes de vocês dois, rogando para que me buscassem, até que um amigo, o Irmão Cassiano, amorável benfeitor, à feição de um pai a tutelar-me, explicou que representava a nossa família, a recomendar-me tranquilidade e confiança. A presença de semelhante protetor me acalmava…
A situação prosseguia, quando o Irmão Cassiano me avisou que traria meus pais para um reencontro.
Daí a instantes, notei-lhes a presença quase rente a mim. Mãezinha e você, papai, pediam notícias minhas.
Só então entendi que me achava em São Bernardo, não longe do quilômetro em que havia sofrido a queda.
Compreendi mais. Aquele não era um recinto de hospital, mas um refúgio de paz e silêncio, reservado aos que já haviam atravessado as fronteiras, das quais me vejo agora muito aquém…
Fiz tudo para fazer-me sentir, a fim de tranquilizá-los. Mas o amigo fiel que me assistia e ainda me protege, em todos os passos da Vida Nova, me sossegou o espírito atribulado, afirmando que estavam dados os primeiros passos para que recebessem minhas notícias.
A ideia da despedida, então, tomou corpo em mim e só aí, querida mamãe compreendi que seu filho havia deixado a veste física, à feição de alguém que se transfere de estrada ou de carro, a fim de tomar caminhos diferentes.
Confesso, meu pai, que a lágrimas me subiram do coração para os olhos, porque não me sentia preparado, quanto agora, para o exame do assunto. Era muito sonho e muita esperança a tombarem do alto de nossas aspirações e projetos.
Lembrei-me, porém, da energia de mamãe no trato da vida e da compreensão de meu pai nas dificuldades do mundo e, refletindo nos exemplos de amor e fé viva com que ambos sempre me facultaram o entendimento mais elevado e mais correto, busquei asserenar-me…
Ainda assim, a pesquisa que efetuavam, as perguntas que ouvi, sem que me fosse possível qualquer manifestação para esclarecê-los, me feriam o coração.
Observei que me procuravam com aflições iguais às minhas e percebi que a incerteza era o clima de nossos pensamentos e indagações.
Sofri ao vê-los na retirada com as mesmas dúvidas que me pairavam na alma e caí em crise de lágrimas como não podia deixar de ser.
Novamente, o benfeitor incansável promoveu os meios de socorro dos quais necessitava e um sono maior abençoou a minha cabeça cansada…
Depois, quando voltei de novo a mim, achava-me em outro lugar e em outra instituição. Um hospital-escola, ou melhor, um educandário de recuperação espiritual me abrira as portas e, desse recanto de paz e amor, consegui sair devidamente acompanhado para visitar papai na Beneficência Portuguesa. Desde então, melhorei, porque era preciso consolidar minha fé para ser-lhes útil.
Necessário esquecer-me para sustentar, quanto possível, o querido enfermo que abracei, contente, no dia em que o vimos de alta, em nossa casa da Alameda. E vou compreendendo que todas as nossas dificuldades vieram, mãezinha, do passado em que o seu Shabi contraiu dívidas a pagar.
Sei que você, minha mãe e minha luz, tem sofrido um calvário em que a subida é feita de pranto a encharcar o caminho de angústia. Mas peço a ambos para que a alegria nos retome os corações.
Mamãe, você foi sempre, é e será em nossa vida, a nossa fortaleza e o nosso carinho, a nossa confiança e a nossa paz. Continue, fervorosa na certeza de que Deus não nos abandona.
Realmente, não desejo lembrar as ocorrências estranhas que seu filho atravessou naquele março distante.
Mãezinha, agora, temos papai por nosso maior amor, por filho mesmo a quem precisamos doar toda a nossa ternura. Estejamos unidos em nossa esperança.
Sei tudo quanto empreendem em meu benefício e tudo agradeço. E creiam que a parte melhor do nosso culto de saudade, é a bênção de reconforto que estendem aos que necessitam de apoio, em dificuldades e provações maiores do que as nossas.
Ouço o que me falam em casa, quando as nossas recordações se completam na mesma faixa de saudade e de indagação; entretanto, rogo para que me tratem, como antes, desenhando ou fotografando, estudando a vida ou construindo mentalmente o futuro.
Peço a meu pai coragem e alegria. Medicar-se, sim, e sempre, mas situar a fé em Deus sobre os recursos humanos. E você, mãezinha, conserve aquela felicidade tão nossa, quando suas mãos queridas me guiavam nos estudos, abençoando-me as lições. Não deixe a alegria de lado quando me fite os retratos. Recorde-me, sorrindo.
Lembro todos os poemas de amor de seu amor para mim, suas expressões de ternura, suas páginas de carinho e seus bilhetes que sempre me alcançam e me alcançaram o coração por estrelas de felicidade e de paz.
Estamos todos mais juntos. E trabalharemos para o nosso reencontro, um dia, com as bênçãos de Deus, no Plano Maior.
Lembre-se, querida mamãe, de seus doces avisos quando os obstáculos surgiam: — meu filho, tudo está melhorando e amanhã nossa vida será sempre mais linda. Baseado em suas disposições, sempre venci e creia que estou vencendo… Pois até as barreiras da morte consigo atravessar, conquanto sob auxílio, a fim de lhes enviar as notícias de agora.
Penso, queridos pais, que não devo criar sugestões no ânimo das afeições que deixei. Todos estamos na bênção de Deus e hoje reconheço que Deus a nós todos conduzirá para o que nos seja mais aconselhável e mais justo. Mas envio, em silêncio, a todos os corações queridos, a mensagem de meu agradecimento e de meu afeto. Entrego-lhes, pais queridos, todo o meu coração nesta carta.
Companheiros queridos hoje me compartilham das novas experiências. Os colegas de ontem estão aqui de outra forma, porque tenho novos irmãos de trabalho e de ideal para valorizar os tesouros do tempo, enquanto melhoro a mim mesmo, a fim de auxiliá-los.
Querida mãezinha e querido papai, aqui o horário pede o ponto final.
E desejo reafirmar que a morte não é ponto final em cousa alguma do que pertence à vida. Que seria a morte? Sorriam comigo e imaginemos nela um ponto e vírgula. Aquele sinal que indica estação de pausa, sem ser fim no que se escreve.
Recebam meus melhores pensamentos, nos quais volto à prece, rogando a Deus por nossa felicidade.
Papai querido e querida mãezinha com vocês dois aquele abraço de três juntos.
E conservem a certeza de que este beijo que deposito aqui nesta folha simples, é o beijo de muito carinho e de muita saudade, de muito amor e de muita esperança do filho sempre mais de vocês dois, sempre mais reconhecido e sempre mais filho do coração.
20 de setembro de 1975.
ESCLARECIMENTOS
Os fatos são de desconcertante precisão, envolvendo detalhes e citações totalmente alheias ao conhecimento de Chico Xavier, como, aliás; sempre acontece em suas participações mediúnicas.
Destacamos ao leitor a precisa narrativa de Shabi, sobre os momentos primeiros, após a morte, lembrando que deixara a namorada Beth em Santos e, com o mesmo táxi, o que Beth posteriormente confirmou, voltara à Rodoviária, onde tomou o Expresso Zefir, rumo de São Paulo.
Fala do acidente e dos instantes que se lhe seguiram, quando foi transportado da Via Anchieta para o Necrotério de São Bernardo do Campo, sendo, então, sepultado na condição de um desconhecido.
Relata a exumação, em São Bernardo do Campo, já uma semana depois do acidente, quando foi possível a identificação dele, confidenciando que acompanhava a aflição dos genitores, na tentativa de localizar-lhe o corpo.
Lembra, também, que depois do novo sepultamento, realizado em São Paulo, visitou o pai na Beneficência Portuguesa, buscando socorrê-lo e, após a alta hospitalar, reencontra-o já em casa, na Alameda Jahu.
Chico Xavier ignorava nomes, fatos, o detalhe do táxi, os contratempos, envolvendo a identificação do seu corpo, a exumação, etc.…
Mãezinha do coração, pai amado.
Shabi. Sou eu, meus amores.
O fone está funcionando pelos fios da alma.
Quero falar de saudade e o amor toma a vanguarda. O carinho quer dizer que é maior. Noto a luta entre os meus próprios sentimentos. Faço a soma de todas as parcelas de vida que me compõem o ser e a média geral é amor sempre. Amor, saudade e gratidão.
Os assuntos são tantos! Mas, acima de tudo, querida mãezinha, quero informá-la de que estou lendo todas as páginas que você me escreve pelo correio da prece. O silêncio é o carteiro.
Agradeço por tudo e respondo:
— Sim, me lembro…
— Amo-a cada vez mais…
— Papai está em meu coração…
— A falta hoje é muito maior que a de ontem…
— Sim, mãezinha, as estrelas brilharão outra vez para nós.
— Seu filho está bem…
— Por que? Porque as leis de DEUS queriam que assim fosse…
— Mamãe, a saudade não é uma provação, é um convite de DEUS para trabalharmos com mais dedicação pelos que suportam dificuldades maiores que as nossas…
— A Primavera chegou, mas seu filho não está ausente…
— Trago flores para você e meu pai, flores perfumadas de carinho incessante…
— Nossos quadros são hoje mais belos…
— Mãe, as tintas do pensamento são muito mais lindas que as da paleta terrestre…
— E os nossos ideais estão sempre mais vivos…
— Só o bem, meditemos unicamente no bem, porque o bem triunfará…
Querida mãezinha, aqui estão algumas de minhas respostas às suas páginas de ternura.
“Fale conosco desta vez, meu filho…” Escutei o seu pedido que para seu filho é sempre uma lembrança querida e nunca uma solicitação, e estou aqui para dizer-lhes que estou melhorando.
Papai, você está melhor de saúde e precisa melhorar cada vez mais… Rogo ao seu espírito valoroso sobrepor-se aos estados negativos da tristeza sem significação. Estamos, presentemente, mais juntos.
Aqui, vivemos segundo o que pensamos e pensamos conforme a substância de nossa personalidade, nas faixas espirituais da vida.
Creiam, pais queridos, que estou trabalhando, ativamente, na preparação do futuro. Procuro renovar-me por dentro de mim mesmo, a fim de criar elevação por fora de mim.
Agradeço igualmente o esforço que fazem na colaboração comigo. Embora, por vezes, muito longe, espacialmente falando, recebo de imediato as ideias que me transmitem e com essas ideias as ações que elas produzem. Recursos que se transformam em alegria, amparo que se faz bênção, doações que se convertem na felicidade dos corações que as recebem e moedas que acabam parecendo luzes acesas nas sombras da necessidade. “Em memória”, “pela saudade de nosso Shabi”, “pela felicidade de nosso filhinho”, “pela reafirmação de nosso imenso amor” — tudo isso me vem aos ouvidos, com as preces que trocamos, pedindo a Deus, uns pelos outros.
Querida mãezinha e meu querido pai, não sei fotografar o meu reconhecimento com as palavras; se pudesse desenharia um coração amparado em duas estrelas, simbolizando eu mesmo, apoiado em ambos, amados meus.
A vida para mim, nos domínios diferentes da Espiritualidade, vai decorrendo em paz, não obstante as inquietações injustificáveis, mas compreensíveis da ausência. Digo “injustificáveis”, porque aprendi com meus pais queridos que os Planos da Bondade Divina se efetuam sobre os nossos próprios desígnios.
Meu avô José Henrique Pereira e a querida vó Dosolina são para mim benfeitores e guardiães. Outros protetores do campo familiar me reanimam e me auxiliam.
Estou deslanchando do cais de nossa profunda ligação para o mar alto da compreensão maior. Isso não significa mais extensão na distância e nem qualquer perda no tesouro de nosso afeto. Desejo apenas configurar que estou seguindo adiante, já que o tempo é uma força de Deus que não se pode interromper. Sigamos.
Para complementar os meus exercícios de ação espiritual, venho oferecendo a cooperação possível ao nosso irmão Carlos Alberto Fernandes, no Santa Rita, ante o pedido de nossa irmã Lucy, e podem acreditar que, apesar do longo processo quase comatoso, ele encontrou sempre, e está encontrando de nossa parte, o concurso que se nos faz possível. E as almas queridas agradecem o carinho e a assistência que o cercam.
Mãezinha, o amor é um mistério. Por mistério designamos o inexplicável. Começa em nós, de nós para alguém e depois somos três: pai, mãe e filho ou mais filhos a estendermos essa bênção do Céu, de uns para com os outros. Depois mamãe, o coração assemelha-se a uma concha de luz que se multiparte. E iniciamos um novo curso de entendimento. Esse curso bendito, em que vocês dois me instalaram, é a beneficência.
Eu que amava tanto as artes todas, principio hoje por penetrar na maior de todas — a do amor ao próximo, seja o próximo quem seja.
Mamãe, esses meninos descalços, que você me ensinou a ver melhor, poderiam estar conosco, em nossa casa e esses doentes todos que abraçamos, poderiam ser nossos parentes, amados por você e por meu pai, como vocês me amaram e me amam.
Mãe, é tão bela a claridade da gratidão nos que sofrem e é tão soberanamente lindo o reflexo estelar das mães que carregam os filhinhos nos próprios braços que, por vezes, seu filho imagina que Deus não teria outro lugar para colocar o império dos astros senão no regaço da noite, porque é no sofrimento humano que a Divina Providência traçou o caminho de luz para a felicidade.
Trabalhemos sim, esperando e amando-nos naqueles que nos estendem os braços sequiosos de paz e compreensão.
As recordações de São Bernardo desapareceram. Lembro-me do apóstolo de Jesus que se dedicava a salvar os que jaziam relegados à neve e ao desamparo e penso que ele também ter-nos-á estendido as mãos socorredoras, enviando recursos para que nos reencontrássemos na saudade e na oração, que hoje se renovam para nós, em forças abençoadas de esperança e serviço.
Agora são as áreas enormes de realização que nos esperam, a cada dia, para que nós, dia por dia, venhamos a construir a estrada de nosso reencontro.
Creiam-me presente. Não há separação entre os que se amam. O pensamento é uma tomada de poder divino ante os recursos prodigiosos da Criação. Basta a ideia, e a imagem voa ao nosso encontro com a velocidade sem acesso, por agora, ao conhecimento dos homens.
Chamem-me, sim. Estou disponível. Nossos mentores daqui me afirmam que posso cooperar de algum modo e que as ligações nossas se erigem por intercâmbio de ação sempre mais construtiva.
Sei que sou ainda tão pequeno, a fim de ajudar e preciso fazer esta ressalva; no entanto, é um privilégio ser lembrado por pais tão queridos e tão devotados ao bem, quanto os meus, para que eu aprenda a realizar algo de bom ou de mais útil.
Estou feliz com as lágrimas de alegria que esta carta me faculta verter. Quando o coração quer falar de amor e não encontra as frases próprias, encontra em si mesmo as pérolas do pranto de júbilo e de gratidão pela possibilidade de expressá-lo. As letras explicam e as lágrimas contam.
Mãezinha e meu pai, dou-lhes, de novo, todo o meu afeto com toda a minha alma, centralizada nesta mensagem. Muito grato por tudo, tento, quase diariamente, repetir-lhes estas palavras com os beijos que lhes entrego, no silêncio.
E, quando ambos conseguem algum repouso, no veludo da noite, muitas vezes, lembro-me de quando me embalavam em criança e peço a Deus, em oração, para que os conserve valorosos e felizes. Não consigo devolver as melodias com que me acalmavam no adormecer, mas posso transformar a prece que faço num hino sem palavras em que Deus sabe que a minha gratidão fala muito alto.
Fiquem fortes e contentes, é o que lhes desejo.
E, agradecendo o carinho de todos os nossos e a especial atenção dos amigos que nos compartilham da alegria deste reencontro, entrego-lhes o coração reconhecido, o filho e companheiro de trabalho e de esperança, hoje quanto ontem, agora quanto será sempre.
31 de outubro de 1976.
Mãezinha querida e papai sempre lembrado, abençoem-me.
A falta de escrita não é falta de saudade.
Nasser, Sidney e outros amigos, estamos aqui a desejar-lhes um Feliz Natal.
Um amigo nos solicita seja transmitido à Irmã Dona Célia uma rogativa — a rogativa para que ele se console e se fortaleça onde se encontra. É o nosso irmão Célio Onida Araújo, que veio para cá, de improviso, num processo de aneurisma que ele mesmo desconhecia. O rapaz chora e pede à mãezinha para que não se lamente, a fim de que ele possa reconfortar-se.
Não me esqueço, mãezinha, dos parentes e amigos. Vovó Cecília e a irmã Déa ainda estão com a prioridade em meus cuidados — depois dos cuidados com que sigo papai e você mesma.
Agora, faça seu filho sorrir e fique feliz. Com um beijo repartido entre ambos — você e papai — sou o seu filho enamorado de seu carinho e cada vez mais agradecido ao seu amor.
Sempre seu
26 de novembro de 1977.
Querida mãezinha, querido papai. Abençoem-me.
O aniversário está em minha lembrança. Luzes foram acesas nas preces e votos de felicidades que me ofertaram.
Flores de esperança em nossa festa da alma enriquecem-me a nova vida. Mãezinha, seria difícil, ontem para mim, fazer-me lembrado, de vez que a nossa comemoração a três com Jesus estava sendo levada a efeito. Não que seu filho menospreze a doce recordação de família e sim porque tenho visto o sofrimento sob novas modalidades.
A dor nas mães, aqui reunidas ontem, não me permitia manifestações de regozijo fremente. E a deixar de faze-lo com a espontaneidade e a extroversão que são minhas, julguei mais acertado votar a favor dos propósitos de nosso irmão Eurico Tadeu que precisava podar as angústias da senhora Mirthes que, entre nós, mostrava um coração agoniado e profundamente deprimido.
Hoje, ao que me parece, posso falar em nossa festa e agradecer, rogando ao papai fortalecer-se e viver tranquilo. Alegria é saúde. Reconforto é remédio. Carinho é tranquilizante. Amor é vida. Entendimento é renovação.
Peço a Deus para que em minha condição de filho tenha posto o ponto nos iiiis do caminho.
Agradeço por tanta ternura, tesouro que me faz infinitamente feliz. E agradeço ainda o bem que espalharam em favor dos nossos doentes e das crianças, pensando em mim.
Sou dos filhos mais ricos da Terra, porque os tenho no coração.
À vista disso entrego-lhes, com toda a minhalma, o coração do filho e companheiro reconhecido de todos os instantes,
11 de março de 1978.
Mãezinha querida, querido pai. Deus na bênção com que me fortalecem.
Estimaria escrever com pinceladas de luz estas frases de agradecimento e de amor. Enunciar o meu reconhecimento pelas flores deste mês de Maio que me ofereceram. Contar-lhes muito mais com carinho do que com palavras o júbilo, por vezes, orvalhado de lágrimas com que lhes recebo no coração as lembranças queridas.
Entretanto, nas grandes emoções, os vocábulos do mundo assemelham-se a pedras, naturalmente buriláveis para a execução de obras-primas, sempre frias, à maneira de tijolos preciosos e inertes, incapazes de exprimir a linguagem do coração.
Curvo-me, portanto, aqui, neste lápis amigo para restringir-me à convenção do “muito obrigado”.
Muito obrigado pela ternura com que me recordam, pelo devotamento com que me escrevem as mais belas páginas da alma, pelo apoio incessante com que me acompanham em plena vida espiritual, pela cobertura de abnegação com que me enviam tantas estrelas de bondade, através do caminho e da presença de tantas crianças e de tantos jovens, em cujo contato me rememoram a vida.
Querida mãezinha, acolho em espírito as memórias sublimes que a sua generosidade me endereça pela face de todos aqueles pequeninos e de todos os companheiros de juventude, em sorrisos e bênçãos de compreensão e de amor. Sei que a sua maravilhosa vida é um castelo encantado nas tarefas de educação a que se consagrou e através das suas lágrimas de saudade e esperança, ausculto a própria Humanidade.
Sempre ouvi dizer que o ouvido terrestre escuta, na concha, o idioma do mar, e um filho registra na dedicação maternal todas as forças que sustentam o mundo. Continue sim, abençoando e auxiliando…
Ao lado de meu pai, o companheiro incansável de nossa caminhada nas trilhas do Tempo, prossigamos doando à vida o que tenhamos de melhor. Não lhes firam os espinhos da marcha no chão da Terra. Ainda que as sementes do bem e da esperança venham a cair em glebas aparentemente estéreis, esses valores nunca desaparecem.
Chuvas de provações e canículas de angústia surgem nos climas da existência, erosões inesperadas convertem altos montes em vales e planícies, tempestades arrasadoras explodem, por vezes, e transformam as paisagens…
Rochedos se deslocam, desertos se fazem verdes, abismos alcançam alturas, fontes desabrocham de penhas esquecidas e as sementes de Deus erigem prodigiosos jardins…
Flores despontam por toda parte e perfumes inesperados buscam os céus. Tudo isso vemos daqui, deste “Mais Além”, que é continuidade da própria Terra. A morte pode trazer as sombras da noite, entretanto, a vida reinará sempre e ninguém lhe barra as fulgurações do alvorecer.
Nós, os que voltamos do mundo, somos unicamente viajores de retorno ao lar.
A saudade é a sentinela que nos guarda nos dois Planos. Aí nos faz chorar na sede de presença e aqui nos aflige no desajuste da distância… Mas, é da lei do Senhor, seguirmos sempre ao encontro do Bem Eterno e da Eterna Beleza, para a comunhão integral no Amor Divino.
Creiam, pais queridos, que não divago. Por vezes, a expectativa humana aguarda de nossas manifestações uma cornucópia de revelações, a derramar-se em valores indiscutíveis de identificação da verdade, no entanto, nem sempre a simbologia dos nomes e dos números usada na Terra consegue acender a luz que desejamos, porquanto, em muitos casos, é imprescindível que a revelação espere pela maturidade, a fim de ser útil.
Compreenderão quanto digo, à face dos problemas de nossas vivências no mundo. Quantas vezes anelamos falar de cimos resplendentes a corações queridos que em vão nos assinalam os conceitos, habituados que se acham à sombra respeitável em que se encontram, realizando o melhor que se lhes faz possível.
Não desejo dizer que estejamos num intercâmbio de ordem superior àquele que se verifica entre os entes amados. Não é bem isso. O problema é de amor que sabe compreender para saber esperar. Onde exista uma fagulha de amor, aí está a presença de Deus, e Deus é a própria paciência convertida em esperança no trabalho incessante do Bem a tudo e a todos.
Venho agradecer-lhes. Se posso atingir o objetivo a que me proponho, estou satisfeito. Entendemo-nos e isso vale mais que quaisquer argumentos tendentes à discórdia, porque a discórdia será sempre desequilíbrio e o desequilíbrio é sempre perda de tempo. Amemo-nos sempre mais e sirvamos quanto se nos faça possível.
Em nossa companhia temos o Irmão Cassiano que a identificação nos arquivos humanos não consegue a ficha talvez desejável. De onde vem o sol que nos ilumina, detido no Espaço, a fim de sustentar-nos a vida? Que nome doaremos ao firmamento, quando sem nuvens? Como exumar a memória dos anjos que esculpiram na Terra as flores primeiras? Quem saberá a procedência dos gênios tutelares que combinaram os agentes químicos no nascimento do mundo para a fabricação dos perfumes conhecidos do homem?
Assim também, aqui, vezes e vezes, defrontamo-nos com aqueles que nos embalaram nas noites do tempo, amparando-nos e amando-nos, muito antes que os conhecêssemos.
Irmão Cassiano será um ser assim celestial e terrestre que inspirou a existência de meu avô Cassiano, a união dele com a vó Cecília, para que meu pai aparecesse e me entregasse aos seus braços.
Mãezinha querida… Ele será o amor indefinível, o mensageiro que fala com o silêncio e que nos ama com a bênção do apoio oculto e incessante, para mim semelhante ao dos anjos.
Dessa atmosfera de alegria e de entendimento em que esse mesmo sublime benfeitor me recebeu é que tenho escrito, na ânsia de pintar com palavras os quadros de minha nova vida.
As cores, porém, não são figuras geometrizáveis e muitas vezes troco impressões com os pais queridos no domínio inabordável das ideias mais puras, com as quais operamos no caminho das horas em que seguimos juntos e separados, visíveis e invisíveis, felizes e aflitos, qual se nos mantivéssemos numa corrente sutil de sorrisos e lágrimas, de esperanças e desconsolos, de tristezas e alegrias…
Mas este é o acesso a vencer e não temos outro, porque as Leis de Deus determinam que nos ausentemos, por vezes, uns dos outros para amar-nos muito mais, aprendendo, ao mesmo tempo, a compreender e amar aqueles que ainda não amávamos e nem compreendíamos.
Agradeço por tudo o que nos deram neste mês de aniversários coloridos de imorredouras lembranças, tempo de mães e filhos, horas sagradas de lar e momentos de reaconchego nos ninhos de ternura em que evoluímos pela dor e pelo trabalho para o Amor Sempre Maior.
Agradeço à irmã Nury Dolores e aos seus filhos queridos pelos diálogos de fé renovadora e pelas bênçãos de cooperação em nossas tarefas; à irmã Lucy pela entrega dos brindes de paz e carinho em benefício dos corações maternos, tantas vezes desalentados e sofridos no mundo; à irmã Olga Duprat pelas preces de confiança em nossa colaboração, pedindo resistência nas provas redentoras; agradecemos, tantos amigos juntos e eu mesmo, por tudo o que fizeram e fazem por amenizar o sofrimento, onde encontram esse buril de Deus, esculturando o progresso espiritual.
Pai amigo, muito obrigado, querida mãezinha, muito obrigado. Minhas letras refletem saudade, mas essa saudade é um Sete-Estrelo de amor e esperança em meu coração.
Estou renascido e feliz por pertencer-lhes, reconhecendo que nós três pertencemos a Deus.
Sigamos juntos para diante. Hoje é o calendário humano a desfolhar os dias com números e siglas convencionais, no entanto, amanhã será a imortalidade vitoriosa e o reencontro sem adeus.
Muito amor com todo o coração e todos os sonhos do filho que os reúne no mesmo beijo envolvente de confiança e carinho na união em Deus, luminosa e sem fim.
Sempre o filho reconhecido.
20 de maio de 1978.
Mãezinha querida, querido papai Abigail. Unidos, peçamos a Deus nos abençoe.
Tempo vai, tempo vem… Correm as dificuldades no trânsito das horas. As provas seguem voando, embora, por vezes, com asas de chumbo… A renovação se processa. A mudança age com força inexorável. Entretanto, o amor é a presença de DEUS. Luz envolvente e imperecível. Por isso mesmo, a saudade deixa de ser um caminho de sombra para ser a chama da esperança, nas vias do reencontro.
Estas reflexões me ocorrem à frente do Natal, quando Jesus nos reúne a todos no mesmo ideal de solidariedade. Uma compreensão nova desponta por dentro de nós e inclinamo-nos, de uns para os outros, entendendo-nos por irmãos autênticos, viajores da mesma estrada e filhos do mesmo pai.
Mãezinha, embora as dificuldades de intercâmbio, estou feliz. Permutamos, diariamente, as nossas impressões e, momento a momento, endereço à Eterna Bondade a minha gratidão por haver encontrado nos pais amados, que me acolheram, os melhores companheiros do mundo.
Associo-me ao júbilo de nossa casa nas recordações de Jesus e compartilho do trabalho bendito em que surpreendo tantos irmãos nossos, nos mais variados setores da experiência na vida.
Muito grato, mãezinha, por matricular-me na escola bendita da beneficência em que as revelações da Bondade Divina se nos fazem mais acessíveis aos corações.
Penso na alegria dos amigos que recolhem, sob a neblina da provação, as notícias do Divino Benfeitor, com o anseio baldado de expressá-la em quadros de luz que nos dessem as dimensões do amor infinito do Cristo de Deus, vencendo as eras e dominando as circunstâncias do mundo, conquistando almas e comunidades, iluminando vidas e reajustando corações, cada vez mais.
Mãezinha, a sua bondade é o meu cartão de Boas Festas, que encaminho a quantos conheço, porquanto, em todos os votos que formulo, estão as sementes vivas dos seus exemplos de abnegação e carinho.
Que o Natal e o Ano Novo lhes ofereça — a ambos — pais queridos, tudo aquilo que a vida contenha de melhor.
De coração ligado à ternura com que se dedicam aos companheiros da retaguarda, levantando-lhes o ânimo, para que se ergam para Deus e se façam felizes, tanto quanto já nos sentimos esperançados de encontrar a alegria perfeita, com a vitória sobre nós mesmos, peço a DEUS nos conserve plenamente integrados na união fraternal, uns com os outros, a fim de aprendermos a servir com o Divino Servidor.
E estendendo os meus votos de paz e felicidades a todos os corações amigos que nos oferecem base e estrutura às tarefas em que nos comprometemos na Seara do Bem, entrega-lhes o coração reconhecido e feliz, o filho e companheiro que lhes segue os passos na jornada de elevação, reafirmando-lhes que sou e serei sempre o filho que os ama infinitamente e lhes deve cada vez mais,
16 de dezembro de 1978
Querida mãezinha e meu querido papai Abigail. Abençoem-me.
A noite recorda a outra de cinco anos de retaguarda. Depois do ofício religioso em que nos vimos consternados pelo sofrimento da separação, o recolhimento em casa, depois de tantos cerimoniais, para o silêncio.
Tudo recapitulado, temos hoje, a dor transformada em alegria. As notas do cântico de angústia são, neste momento, melodias de júbilo em nossos corações que o tempo transfigurou em relicários de esperança.
Lembro-me de todas as minudências e, nesta hora, associo a nossa querida Beth em minhas recordações, de vez que naquela alma de menina e moça os acontecimentos haviam assumido a face do horror.
Graças a Deus estamos longe daqueles dias, que medearam entre o 9 e o 16 de março, comprimindo-nos os sentimentos, qual se estivéssemos prensados numa estreita câmara de fogo. Quando pude abraçar o papai, em pleno tratamento intensivo, no hospital, num encontro, aparentemente, de sonho, já me encontrava, então, liberto de todos os laços negativos que me algemavam àquela sede de reencontro.
Agradeço a Deus e aos nossos mentores quanto aprendemos, em dias tão poucos, assimilando ensinamentos que apenas se recolhem no educandário de angústia.
Mãezinha querida, a vida continua… Os nossos diálogos dentro da vida são os mesmos. O amor jamais desaparece. A vida é luz perene. A morte será sempre a grande ilusão. Tudo vibra. Da estrela ao verme e do abismo ao espaço celeste, as marcas sublimes da Presença de Deus se destacam, indicando-nos os cimos que nos cabem atingir.
Ainda hoje, sei o preço que os pais queridos resgatam em saudade e pranto, no que se refere à minha suposta ausência; entretanto, reconforto-me ao pensar que celebramos o meu renascimento na 5ida Triunfante, onde todo gemido humano se converte num hino de esperança e onde as maiores tribulações se dissolvem na alegria perfeita, à maneira da nuvem que desaparece à frente do sol.
Agradeço aos pais queridos quanto fizeram e fazem a meu favor, creditando-me a felicidade, que sabem esculpir para os outros, em nome do filho que tanto lhes deve e peço ao Senhor da Vida enriquece-los de bênçãos sempre maiores.
Estamos aqui, alguns amigos, o Beto e eu, expressando o nosso reconhecimento a Deus pelos genitores que nos concedeu para a travessia da Terra. E o vovô José Henrique com a vovó Dosolina compartilham aqui de nosso contentamento.
Permitirá Jesus, venhamos a exteriorizar esta nossa felicidade, estendendo-a a todos os nossos corações queridos que, em se nos vinculando à família, são credores de nosso amor.
Mãezinha querida, muito grato pelas doces evocações de nossos registros mais íntimos.
Estou feliz por vê-los felizes e quanto possa, trabalharei para que esse pão bendito de paz e alegria não nos falte à mesa do coração em quantidade suficiente para que possamos torná-lo extensivo aos outros, especialmente os que trilham a mesma estrada de experiência, suportando as aflições e as lágrimas que lhes marcam a vida.
À nossa estimada irmã Lucy, os nossos corações agradecidos. Somos todos uma família só. Por isso mesmo, as palavras de gratidão e carinho a cada coração do nosso núcleo afetivo se faz mensagem de agradecimento a todos.
Prosseguimos trabalhando e nisso consiste a nossa realização maior. Sinto-me profundamente integrado nesse luminoso complexo de paz e amor e rendo graças ao Senhor por isso.
Mãezinha Maura, receba com o papai Abigail um painel de saudades, emoldurado em flores de esperança, dessa esperança que vibra imortal no coração de seu filho que lhes deseja o Céu na Terra, com todas as maravilhas de Deus a lhes brilharem no caminho de construtores do Bem.
Para ambos, a vida toda e todo o carinho do filho cada vez mais reconhecido.
16 de março de 1979.
Querida mãezinha Maura, com o papai Abigail, receba os meus votos ao Senhor da Vida pela paz e bom ânimo em nossas tarefas.
Mãezinha, em seu querido aniversário, se eu pudesse materializar uma rosa, seria ela a mensageira de meu reconhecimento, a envolvê-la no perfume dos mais lindos sentimentos que a sua dedicação me deu a guardar.
Se possuísse uma estrela, oferecê-la-ia ao seu querido coração, para que significasse meu próprio anseio de ser tudo aquilo que o seu amor sonhou para seu filho e que ainda não consegui efetivar.
Se conseguisse deter as bênçãos de uma fonte, decerto que solicitaria à corrente cantar para a sua alma os mais belos versos de ternura e gratidão que me fosse possível.
Se conseguisse um pedaço de céu azul, escreveria nele um poema em que se gravassem todas as minhas saudades e esperanças, tentando patentear quanto devo à sua presença constante em meu espírito.
Entretanto, mãezinha, já que seu filho não dispõe de semelhantes possibilidades e riquezas, ofereço-lhe o meu coração pobre, mas sempre seu, com as minhas súplicas ao Senhor para que a paz e a felicidade lhes iluminem todos os passos, ao lado de meu querido pai Abigail e no clima de todos os nossos.
Indiscutivelmente, cabe-me limitar as felicitações que lhes trago, tão só às luzes da alegria e às esperanças que nos abençoam a caminhada. No entanto, querida mãezinha, sei que o seu amor nos adivinha os cuidados da hora presente.
Com as suas mãos e com as mãos de nossos amigos, achamo-nos todos, os companheiros do nosso amigo Nasser, compartilhando-lhe o trabalho, no auxílio aos familiares.
Perdoe-me, se lhe digo que os nossos pensamentos destes dias estão encharcados com as lágrimas de nossa irmã Shirley, de nosso amigo Miguel, do companheiro Gugu, da nossa benfeitora Angelina, da Bebel e das irmãzinhas e com o zelo ativo, mas tisnado de inquietações do nosso Nasser, empenhado com outros familiares no socorro aos corações queridos.
Estamos trabalhando. Seu filho que passou por ocorrência tão difícil à frente de máquinas, se comove diante do quadro doméstico de nossos amigos em prova, associando-se às preces pela tranquilidade de todos.
Peçamos aos Mensageiros do Mais Alto, possam balsamizar os sofrimentos de nossos queridos companheiros. Isso faz parte da nossa festa, porque o seu carinho me ensinou esse dever de lealdade aos amigos que se nos fazem parcelas da própria alma.
Continuaremos agindo no tentame de fazer o melhor pelos queridos irmãos, reunidos na tribulação redentora.
Agradeço ao papai Abigail o carinho de sempre e colocando os pais queridos em meus próprios braços, imitando-lhes os gestos de proteção com que me afagavam em criança, entrega-lhes todo o coração, o filho reconhecido que prossegue pedindo a Deus por nossa paz e felicidade.
17 de novembro de 1979.
Querida mãezinha, abençoe-me.
Sem palavras para configurar todo o nosso amor numa longa carta, o amigo José Roberto e eu deixamos às queridas mãezinhas o nosso coração reconhecido com a certeza de que estamos bem, conquanto em serviço ativo no apoio aos nossos amigos que se transferiram para cá recentemente, em nos reportando ao irmão Miguel e ao companheiro.
Se poucas palavras podem dizer muito, queremos afirmar que o nosso carinho é cada vez maior, e que estamos a postos, a fim de nos reunirmos todos como sempre, na fé viva em Deus e no exercício do Bem:
Carinhosamente, o filho reconhecido.
08 de março de 1980.
Querida mãezinha Maura, receba com meu pai Abigail as minhas saudações de carinho no pedido de bênção com que me sinto o seu menino de sempre.
Dia das mães à vista! Achamo-nos todos na condição de viajores que retornaram do Exterior, avistando as primeiras paisagens da terra em que nasceram. É um grito de júbilo, esse que tantos de nós aqui desferimos, rogando aos Céus pela felicidade dos anjos maternos que nos refizeram a vida no Plano Terrestre.
Mãezinha, comigo está outra mãezinha — a sua pérola que lhe recebeu as irradiações de amor no poema que a sua ternura lhe endereçou. A querida vovó faz questão de nos partilhar a companhia, não só para festejar esta formosa antevéspera do Abençoado Dia, mas igualmente para me complementar a solicitação de paz que lhe fortaleça e revigore o coração.
Ela, a nossa doce benfeitora do lar, recorda a sua presença e a presença dos outros filhos queridos — tio Ivo, tio Oswaldo, tia Iracema, tia Ilda e tia Aurora, entrando em prece na qual recomenda todas as suas queridas crianças a Deus, porque especialmente para o carinho materno, os filhos não crescem. São sempre personagens de sonho que não se marginalizam nas sendas do amor puro.
Pois é, querida mãezinha Maura, vovó e eu vimos pedir-lhe alegria e tranquilidade, aliás, merecidas por seu espírito de devotamento e renúncia em auxílio a nós todos.
A nossa mensagem mais expressiva para a sua sensibilidade, mensagem quase cifrada pelas forças de nosso amor em família, se condensa numa simples frase — o seu não foi abençoado. A sua palavra criteriosa visou a defender amigos queridos que precisam de segurança para facear o futuro.
A sua compreensão elevada com o apoio de muitos amigos nossos, procurou preservar um abençoado ninho no qual aves ainda implumes — os primos queridos — necessitam preparar as energias próprias ante o grande porvir. A sua paz não pode ser quebrada por haver atendido a um dever que todos consideramos respeitável e justo.
E, nesse esquema, ficou uma questão: A ideia de que a nossa abençoada empresa doméstica, com o auxílio da Divina Providência permanecerá neste princípio: “O não é o limite”.
Efetuada a defensiva de nossas crianças, no sentido de lhes assegurar ambiente para o amanhã próximo, deixemos os assuntos correlatos entregues a Deus, através da responsabilidade das criaturas.
O caminho é longo para o aperfeiçoamento que demandamos e não precisamos apontar esse ou aquele espinho na trilha das pessoas amadas, porque já possuímos espinhos em quantidade suficiente para nos afastarem de qualquer repouso inadequado.
Mantenhamos o “não” que é “sim” para o bem do nosso grupo de corações queridos e sigamos para diante, na certeza de que o Senhor é o nosso Pastor e nada nos faltará, (Sl
Descanse com o papai Abigail e permaneça contente com a sua inspiração que solucionou antecipadamente um problema grave que certamente mais tarde apareceria.
Peço dizer ao tio Ivo e à tia Doroti que a bondade de Deus nunca falha e que não temos motivos para aflições. Trabalhemos e pelo filtro do serviço a Providência de Deus de tudo nos cercará, a fim de que nos vejamos na abastança precisa.
Rogo ainda seja dito à tia Aurora que acompanhamos a festa do nosso caro companheiro José Eduardo e que desejamos a ele, junto da companheirinha, todas as alegrias e bênçãos que a vida possa lhes proporcionar no clima da proteção do Mais Alto.
Aqui em nossa companhia está o nosso Beto e o caro Nasser que nos partilham a mensagem de filhos reconhecidos, desejando felicidade e saúde, paz e bom ânimo às mãezinhas queridas, nossa irmã Lucy e nossa irmã Shirley.
A ora, mãezinha Maura, é o momento de me recolher à câmara da saudade. Creia, porém, que a saudade de seu filho é sempre uma esperança crescendo no coração. Estamos juntos como nunca estivemos.
Papai, mãezinha, o seu coração e eu mesmo, somos um trio de fé viva em Deus na atividade incessante do bem, na qual vamos acumulando experiências das melhores.
Beijando-lhes as mãos reunidas nas minhas mãos enternecidas no reconhecimento por tudo o que lhes devo em carinho e proteção, segurança e bênção, sou o filho que permanece, sempre em casa e sempre no coração, na alegria de ser a criança para a qual os meus pais queridos construíram o caminho da felicidade e um mundo melhor.
Sempre o filho reconhecido.
09 de maio de 1980.
ESCLARECIMENTOS
O texto anterior tem cunho estritamente familiar, conversando Shabi com os pais, a propósito de ocorrências que, na época, os preocupavam, agora felizmente superadas.
Podemos, ainda uma vez, compreender a intensidade da participação dos filhos desencarnados na vida dos pais e familiares, buscando cooperar para a solução dos problemas que preocupam os entes amados.
Oportuno lembrar que, toda dor, tristeza ou desespero dos familiares se refletem diretamente nos entes queridos que partiram para a Vida Maior, causando-lhes sofrimento muito grande. Daí ser comum, nas mensagens psicografadas, a petição dos filhos rogando aos pais que procurem não chorar mais, vivendo tanto quanto possível mais felizes, pois a alegria e a felicidade deles são fundamentais para a sua readaptação no Além, após a morte física.
Os nomes citados são de familiares de D. Maura, além de menção ao outro Beto, ao Nasser, já nossos conhecidos, e a suas mãezinhas, Lucy e Shirley.
Querido papai Abigail e querida mãezinha Maura.
A noite avança e o tempo aqui é um condomínio de que os Mensageiros do Mais Alto são os síndicos.
Não posso alongar-me. Estou, no entanto, na companhia do vovô Evaristo, trazendo ao papai a nossa mensagem de gratidão e de alegria, formada por nossas preces a Jesus, a fim de vê-lo refeito e plenamente integrado em suas faculdades orgânicas.
A tempestade passou. Agora, apenas rogamos ao querido benfeitor paternal conduza o carro físico na consciência de que fomos agraciados com muitas bênçãos. Estou contente, marcando esse ponto de restauração que nos faz a todos mais felizes para a continuidade de nossas tarefas.
Mãezinha, tenho comigo todos os seus poemas e cartas, petições e votos. Respondi a tudo no silêncio de nossas meditações, resumindo muitas das minhas laudas imensas de amor com estas palavras: — Pais queridos, recebam o meu amor invariável! Sejam sempre felizes! É o pensamento incessante do filho que pede às tintas do sonho se agregarem para o mais lindo quadro de alegria, no qual eu lhes ofereça, como sempre, todo o coração do
24 de julho de 1981.
Querida mãezinha Maura e querido papai Abigail, agradeço a festa de aniversário que ambos enriqueceram de flores mil.
Aqui me encontro, à feição de um menino feliz que conquistou o que mais quis — uma árvore perene de Natal que se repete em todos os dias, com as mais lindas alegrias.
Realmente o amor é muito mais forte do que o tempo e vence a própria morte que deixa de existir, quando nos afastamos do presente no encalço do porvir…
Por tudo em que me rejubilo, sempre mais animado e mais tranquilo, à frente da ternura na qual ambos me trazem tudo aquilo de que vivi na difícil procura: amor, encantamento, regozijo e beleza, luz, vida e esplendor que em tudo vemos superar a riqueza soberana da própria natureza…
Sim, tenho tudo o que sonhei nos trechos de esperança, quanto a felicidade, e na plenitude de paz e de alegria que me envolve e me invade, peço a Deus os proteja sempre mais, na união benfazeja que deve iluminar os passos e caminhos dos melhores dos pais.
Mãezinha Maura, é verdade que vejo tudo quanto se faz por meu desejo. Vejo a Grécia querida por matriz de cultura e exaltação da vida, noto e , e Terêncio, nas imagens felizes em que se nos conservam as raízes…
Vejo Roma e as Sabinas, Rômulo e Remo e os juízes, formando o povo eleito que nos faria sobre a Terra a força do direito…
Vejo, ainda, a história linda e os lances de terror, quando os imperadores se mantinham por inimigos dos cristãos e fito de novo , alterando o destino de povos e nações…
Mas ouça, mãe querida… Tudo isso que contemplo está nas telas que visito, as formas sempre belas do que já foi, porquanto, na verdade, os senhores da História já sofreram bastante e partiram no rumo do Melhor e do Mais Alto…
Posso dizer-lhe ainda que não vou às estrelas, mas, posso surpreendê-las na formosura nova em que tudo o que somos se renova; entretanto, muito mais do que tudo isto, agora o que mais sinto, pela necessidade ou pelo instinto, é o desafio da Vida Espiritual a que me alteie e me refaça.
Acima de tudo isto — volto a dizer quero notar-me em Cristo, a fim de ser o filho agradecido que lhes deve o dom de ser sem parecer o coração que os ama, incendido na chama do amor em luz sem fim…
Agora para mim, só o amor é essencial e esse amor encontrei nos pais que Deus me deu para que eu descubra mais amor nos mais altos caminhos…
Agradeço aos amigos que vieram à nossa festa de saudade e alegria. José Roberto, o amigo e irmão, com muitos outros, saúda os pais amados a quem nós três somos reconhecidos.
Queria transmitir tudo o que tento expor numa tela de amor em que o rosa fosse a tônica do sonho… mas não tenho tinta alguma, nem qualquer palavra que, por fim, me resuma o coração que trago.
Recebam, pois de minhas mãos vazias a gratidão de todos os meus dias e essa ternura sem fronteiras, sem sombra e sem limites em que me reconheço unicamente a criança que os segue e não alcança. E, por mim Jesus dirá, nas estradas da vida, tudo quanto quero falar e não consigo…
Guardem, assim, esse pouco de mim, no afeto sem tamanho em que sou e serei para os dois, hoje, agora e depois, meus tesouros de amor, o filho sonhador e o companheiro de todos os instantes ante os queridos pais — o menino feliz que os ama sempre mais.
19 de fevereiro de 1982.
(Este poema de amor, psicografado na data do natalício de Shabi, responde, uma a uma, a indagações formuladas pela genitora — sem que o médium o soubesse — momentos antes de sua recepção.)
9 de março de 1974, data em que o jovem comunicante foi transferido para a Vida Maior.
Benfeitor Espiritual da família.
As palavras de Shabi confirmam o que os jovens desencarnados sempre reiteram, nos textos psicografados: permanecem muito próximos de seus pais e familiares, vivendo e sentindo os mesmos problemas, as mesmas alegrias. A separação da morte é apenas física; os Espíritos, frequentemente, continuam ligados conosco e sua aproximação é tanto maior quanto menor for o desespero dos que permanecem aqui na Terra, porquanto, o sofrimento que os familiares evidenciam lhes é diretamente transmitido pelas forças vivas do pensamento.
José Henrique Pereira e Dosolina Sponton Pereira, avós maternos, desencarnados, respectivamente em 1970 e 1974.
Carlos Alberto Fernandes, jovem que, na época, se encontrava internado na Casa de Saúde Santa Rita, em São Paulo-SP.
Cidade onde o corpo do jovem foi recolhido, após o acidente. Ver: .
Resposta de Shabi aos rogos maternos. D. Maura se queixava em pensamento ao filho que há algum tempo não recebia qualquer palavra sua, através do Chico. Sempre perto dos pais, apesar da ausência física, o nosso Beto “pescou” o lamento materno e respondeu: “A falta de escrita não é falta de saudade”.
Nasser já é nosso conhecido; Sidney Fava faleceu em 1976, atropelado, em São Paulo, aos 16 anos.
Célio Onida de Araújo, economista falecido aos 33 anos de idade, vítima de ataque cardíaco, em 1977, no Rio de Janeiro.
Déa Dias Schmulevitch, amiga da família, que perdera em 1973 um filho com 22 anos. Na época, ainda entre nós, Shabi a reconfortou muito, continuando a faze-lo, também do Plano Espiritual. — Vovó Cecília, avó paterna, Cecília Bonás Cassiano, sempre enferma, daí os cuidados do neto Shabi.
Dias antes, 19 de fevereiro, os pais comemoravam, em prece, o aniversário do filho que, em Espírito, estava presente.
Eurico Tadeu desencarnou em Manaus-AM, em acidente de automóvel, no ano de 1975.
José Pereira Cassiano e Cecília Bonás Cassiano, avós paternos.
Em comemoração ao Dia das Mães e em reverência à memória do filho, os pais de Shabi visitaram em Uberaba algumas Instituições Beneficentes, ofertando-lhes socorro material, a par do calor humano que lhes caracteriza a presença.
Amiga da família.
D. Olga Duprat se encontrava em grande sofrimento, com o filho e o marido enfermos. Ambos faleceram algum tempo depois.
Shabi fala do aniversário da mãezinha, justamente comemorado na data da psicografia da mensagem.
Shabi se refere às dificuldades da família Nasser, comentando as inquietações do jovem Nasser que do Plano Espiritual se via naturalmente incomodado com acidente recém-ocorrido, em que o pai, Sr. Miguel, e o primo Gugu deixaram a vida física. Bebel é irmã do Nasser e D. Angelma, sogra do Sr. Miguel.
José Roberto Pereira da Silva, co-autor desse livro.
Sr. Miguel Nasser desencarnado em companhia do sobrinho poucos meses antes. Ver mensagem anterior.
Evaristo Pereira Cassiano, bisavô paterno, falecido em 1942.
Preocupação do filho com o estado de saúde do pai. O Sr. Cassiano experimentara piora sensível, felizmente transitória, daí Shabi dizer: “A tempestade passou.”
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Salmos 23:1
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