Fotos da Vida

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Capítulo X

Feliz dia das mães

Querida mãezinha.

Hoje deixei de lado o material do cronista anônimo que tenho sido, nem me interessei pela pena e pelo papel, de que me utilizo, a fim de escrever no endereço dos outros.

Sinto meu coração de tal modo ligado à lembrança do seu carinho, que não saberia gravar outros pensamentos que não sejam de saudade por viver aparentemente distante e de profunda alegria ao reconhecer que permaneço em sua própria alma, no aposento da memória…

Torno a encontrá-la em minha infância feliz. Vejo-a ao lado de meu pai, dirigindo os serviços da casa, quando um garoto da Vila entra em correria para comunicar-lhe:

— Dona Yolanda, o Augusto quebrou a vidraça do vizinho, atirando uma pedra…

Relembro o seu olhar de vigilante amor, depois de perguntar-me:

— Você fez isso, Augusto?

Respondi:

— Eu não senhora.

Volto a escutar as suas palavras, dirigindo-se ao mensageiro:

— Saia daqui, mentiroso! Meu filho não é moleque. Pobre criança! Esteve estudando, pela manhã inteira!…

E fazendo um gesto expressivo, deu a ordem definitiva ao pequeno intruso:

— Saia daqui de uma vez…

O colega de brincadeiras se afastou de imediato.

Então, comecei a chorar.

Lembrava-me de haver atirado a pedra à janela do vizinho, mas não sabia que violentara a vidraça.

Corri para o seu lado e coloquei a cabeça em seu colo, tentando enxugar as lágrimas.

Acontece que você, com a intuição das mães, penetrou nos meus recônditos pensamentos, admitindo a minha culpa provável, e, afagando-me os cabelos, acrescentou com carinho:

— Seja o que for que haja acontecido, não chore mais. Aqui estou, meu filho, para defender você!…

O quadro se me fixou nas reminiscências e o carro da vida avançou nas rodovias do tempo. Alcancei a juventude, abraçando o esporte e as festas sociais.

Você, porém, nunca me censurou as decisões e nem me reprovou as companhias. Vivíamos no clima da felicidade, quando a força da vida me parou o coração, estabelecendo a distância entre nós.

A morte!… Ah, mãezinha, quem resistirá a esse estranho poder? Creio que a saudade que passou a empolgar-me, era a mesma que lhe apunhalou o coração.

Trabalhamos nós dois, ferozmente, construindo o túnel para o reencontro, até que chegou o dia em que lhe pude falar da vida imperecível.

Começaram nossos diálogos, de coração para coração, e consegui transmitir lhe as minhas impressões, quanto ao amparo e carinho que devíamos aos filhos de outras mães, segregadas nas linhas da penúria. Roguei o seu apoio, em favor delas, nossas irmãs desvalidas e busquei segui-la, quando a vi, abandonando o conforto de nossa casa para se colocar, ao encontro dos sofredores, acreditando em minhas palavras nas quais pusera tanto empenho.

Seguimos juntos e, com a cooperação das companheiras que lhe consagram especial estima, descobrimos os lares sem lume, o refúgio de criaturas consideradas perdidas, as viúvas relegadas ao esquecimento, as mães sofredoras e os enfermos sem ninguém…

Iniciamos os serviços em que você me fez o mais feliz de todos os filhos, reconhecendo em todas as crianças necessitadas de amor, os companheiros que Jesus nos deixou, especialmente consagrados à nossa atenção e carinho.

É por isso que considero o Dia das Mães o mais belo dia do tempo. E é ainda por isso que me encontro aqui nesta noite para dizer-lhe:

— Mãezinha querida, eis aqui o seu filho!… Com alegria e saudade, venho até aqui desejar lhe um Feliz Dia das Mães!…




Augusto Cezar
Francisco Cândido Xavier


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