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Capítulo XI

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A história, aliás autêntica, se desenrolou, na fase terminal de um bazar de caridade, promovido por uma instituição espírita com finalidade assistencial.

A festa desdobrava-se ao ar livre, num pedaço de campo, cedido por família ligada ao grupo que se esforçava no máximo de atividade, em benefício da promoção.

A reunião alcançava o fim da alegria que reinava em todos os corações, quando uma jovem, primorosamente vestida, foi convidada a comparecer no palco improvisado para comentar o empreendimento.

Muita gente. Música de câmara. Ambiente de paz e meditação.

A oradora, apresentou-se com esmero, exibia vários brilhantes raros, nos brincos, na pulseira e em outros enfeites a lhe adereçarem o fino vestido azul.

Usando expressões fascinantes, a comentarista explanou com segurança sobre a caridade, enfatizando o imperativo do amor ao próximo, por fator de harmonia entre os homens.

Depois da famosa alocução, a palavra livre foi concedida a todos os presentes que desejassem complementar as ideias que a jovem expendera.

Alguns minutos de silêncio e, logo após, um homem, ainda moço, pediu permissão para externar-se e, sendo atendido, dirigiu-se particularmente à oradora que havia suscitado grande empolgação no público e falou com sarcasmo:

— “Moça, você pregou a caridade a nós todos, os seus ouvintes, e mostrou a excelência dessa virtude, mas a sua apresentação é um contrassenso. Sou auxiliar de serviço em uma joalharia e sei que você está usando brilhantes autênticos. Isso não lhe dói no coração? Falar com tanta beleza sobre a caridade e parecer uma vitrine de joias, exaltando a beneficência?…

A comentarista não se deu por molestada e respondeu, graciosamente:

— “O senhor não me conhece. Já fui pior, muito pior. Meu pai é negociante de pedras, classificadas em alto preço e a minha apresentação de hoje chega a ser humilde, porquanto, em muitas ocasiões, aparecia em público, ostentando brilhantes, considerados os mais caros. A Doutrina Espírita é que está garantindo a minha renovação. Estou deixando o uso de joias aos poucos, até que não me veja atraída por elas. Penso que, muito breve, estarei mais comedida em meus contatos com os amigos que me ouvem.”

Destacaram-se aplausos em geral e os companheiros foram festejar o êxito da iniciativa na residência de um dos irmãos de ideal, não longe da instituição.

A jovem oradora, dirigindo o próprio carro, chegou em casa, na cidade grande, lá pelas onze da noite.

Guardou o veículo, convenientemente, e voltou ao jardim que precedia a entrada da mansão.

Preparava-se para girar a chave da porta que lhe daria acesso à intimidade doméstica, quando um homem mascarado abeirou-se dela e intimou-a a lhe entregar todas as joias em uso.

Muito calma, a oradora da tarde começou a desatarraxar os próprios brincos de modo a entregá-los ao assaltante, quando um guarda, armado de revólver, apareceu na cena e, com a melhor presença de espírito, ela disse ao mascarado:

— “Alfredo, retire o seu disfarce. O policial pode pensar que estamos agindo seriamente.”

O assaltante, colhido de surpresa, diante da arma que o recém-chegado lhe apontava, desfez-se da máscara e a moça reconheceu nele o mesmo homem que lhe havia reprovado o uso dos brilhantes, no entanto, com invejável serenidade, explicou ao policial:

— “O senhor, por obséquio, nos desculpe. Estamos, o meu primo e eu, ensaiando uma cena de comédia, em que ele faz o papel de lobo mau… Desejo, porém, esclarecer ao senhor que este meu primo atirou-se a tamanhas dívidas de jogo que estou oferecendo a ele as minhas joias que lhe darão a cobertura necessária.”

E, à frente do guarda espantado, entregou ao assaltante todas as suas joias do momento, uma por uma, e lhe falou em tom significativo:

— “Veja, primo, estes brilhantes são seus, como se pertencessem a uma festa da caridade.”

O guarda boquiaberto acompanhava toda a cena e o assaltante se retirou de carro, lançando àquela jovem corajosa e digna, um inesquecível olhar, qual se estivesse falando a ela, através dos olhos, que jamais esqueceria aquela inesperada lição.




Augusto Cezar
Francisco Cândido Xavier


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