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Capítulo III

Feminismo


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Pergunta-me você o que seja feminismo, talvez supervalorizando a minha capacidade de resposta.

O assunto, no entanto, me fez lembrar uma história, aliás, repetida por vários cronistas, interessados nas tradições populares.

Dou-lhe esta explicação para que você não me considere plagiário com adjetivos jocosos e zombeteiros.

Conta-se que Jesus, acompanhado por alguns discípulos, seguia, dos arredores de Jerusalém, demandando a cidade de Jericó. O Mestre alterara o plano da excursão, através de muitas veredas, a fim de visitar necessitados e doentes.

Em dado instante, o grupo não soube acertar com o verdadeiro caminho e apareceu acalorada troca de opiniões.

Nisso, salientou-se, não longe, a figura de um viandante cuja presença pareceu providencial aos companheiros da Boa Nova.

Notando que o desconhecido se abeirava dos circunstantes, Simão Pedro barrou-lhe a frente e interpelou-o:

— “Amigo, acaso poderá a sua bondade informar-nos quanto ao exato caminho para Jericó?”

O desconhecido trancou a face que lhe evidenciava o descontentamento e replicou em seguida:

— “Quem lhe falou que sou guia de vagabundos? Tenho mais que fazer. Não me arrisco a contato com malfeitores e ladrões. Sigam para onde quiserem…”

Dito isso, afastou-se, estugando o passo e Pedro, desapontado, dirigiu-se a Jesus, comentando:

— “Mestre, viu só que insolência? Não é justo suportar desaforos! Decerto que o Céu castigará esse brutamontes, impondo-lhe a punição que faz por merecer…”

O Cristo ouviu, apreensivo, e ponderou:

— “Pedro, não julgue ninguém sem o conhecimento preciso… Quem será esse homem? Talvez seja um doente ou um desesperado…”

A expectativa reapossava-se dos apóstolos, quando surgiu, à frente deles, bela jovem carregando um cântaro de água na cabeça.

Simão adiantou-se, interpelou-a, repetindo a petição que fizera ao viandante agressivo e exasperado.

— “O melhor caminho para Jericó?” — indagou a moça sorrindo.

De imediato, depôs no chão o vaso que trazia e passou a explicar com gentileza de que modo atingiriam a cidade sem obstáculos maiores. Além disso, encorajou os apóstolos à caminhada, com expressões de encantador otimismo.

Terminado o diálogo, ei-la retomando o vaso transbordante de água límpida, seguindo estrada afora…

Simão aconchegou-se a Jesus e lhe falou com intimidade:

— “Mestre, notou a diferença? O bruto que nos desconsiderou e essa menina generosa se parecem a um animal e a uma flor…”

Ante o Senhor, que se fizera pensativo, Pedro insistiu:

— “Senhor, qual será a recompensa que o Céu concederá a essa jovem que nos prestou um serviço tão grande?”

Jesus sorriu e falou ao apóstolo em voz alta:

— “Sim, Pedro, essa jovem será recompensada; e o prêmio dela será casar-se com o homem brutalizado que passou por aqui, a fim de que consiga educá-lo para Deus e para a vida.”

Surpresa geral encerrou o assunto.

É isso aí, meu caro. Se a mulher nos abandonar à própria sorte, negando-se a cumprir a missão que o Céu lhe atribuiu, com certeza, nós todos, os homens vinculados ainda à Terra, estaremos perdidos…




Augusto Cezar
Francisco Cândido Xavier


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