Ideias e Ilustrações

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Capítulo XXVIII

Doentes e doenças

O respeito aos doentes é dever inatacável, mas vale descrever a ligeira experiência para a nossa própria orientação.

Penetráramos o nosocômio, acompanhando um assistente espiritual que ingressava no serviço pela primeira vez, e, por isso mesmo, era, ali, tão adventício em matéria de enfermagem, quanto eu próprio.

Atender a quatro irmãos encarnados sofredores, o nosso encargo inicial nas tarefas do magnetismo curativo. Designá-los-emos por números. Em arejado aposento, abeiramo-nos deles, depois de curta oração.

O amigo de número um arfava em constrangedora dispneia, suplicando em voz baixa:

— Valei-me, Senhor!… Ai Jesus!… Ai Jesus!… Socorrei-me! Ó Divino Salvador!… curai-me e já não desejarei no mundo outra coisa senão servir-vos!…

O segundo implorava, sob as dores abdominais em que se contorcia:

— Ó meu Deus, meu Deus!… Tende misericórdia de mim!… Concedei-me a saúde e procurarei exclusivamente a vossa vontade…

Aproximamo-nos do terceiro, que, mal aguentando tremenda cólica renal em recidiva, tartamudeava ao impacto de pesado suor:

— Piedade, Jesus!… Salvai-me!… Tenho mulher e quatro filhos… Salvai-me e prometo ser-vos fiel até a morte!…

Por fim, clamava o de número quatro, carregando severa crise de artrite reumatóide:

— Jesus! Jesus!… Ó Divino médico!… Atendei-me!… Amparai-me!… Dai-me a saúde, Senhor, e dar-vos-ei a vida!…

Nosso orientador enterneceu-se. Comovia-nos, deveras, ouvir tão carinhosas referências a Deus e ao Cristo, tantos apelos com inflexão de confiança e ternura.

Sensibilizados, pusemo-nos em ação. O chefe esmerou-se. Exímio conhecedor de ondas e fluidos, consertou vísceras aqui, sanou disfunções ali, renovou células mais além e o resultado não se fez esperar. Recuperação quase integral para todos. Entramos em prece, agradecendo ao Senhor a possibilidade de veicular-lhes as bênçãos.

No dia imediato, quando voltamos ao hospital, pela manhã, o quadro era diverso.

Melhorados com segurança, os doentes já nem se lembravam do nome de Jesus.

O enfermo de número um se reportava, exasperado, ao irmão que faltara ao compromisso de visitá-lo na véspera:

— Aquele malandro pagará!… Já estou suficientemente forte para desancá-lo… Não veio como prometeu, porque me deve dinheiro e naturalmente ficará satisfeito em saber-me esquecido e morto…

O segundo esbravejava:

— Ora essa!… porque me vieram perguntar se eu queria orações? já estou farto de rezar… Quero alta hoje!… Hoje mesmo!… E se a situação em casa não estiver segundo penso, vai haver barulho grosso!

O terceiro reclamava:

— Quem falou aqui em religião? não quero saber disso… Chamem o médico…

E gritando para a enfermeira que assomara à porta:

— Moça, se minha mulher telefonar, diga que sarei e que não estou…

O doente de número quatro vociferava para a jovem que trouxera o lanche matinal:

— Saia de minha frente com seu café requentado, antes que eu lhe dê com este bule na cara!… Atônitos, diante da mudança havida, recorremos à prece, e o supervisor espiritual da instituição veio até nós, diligenciando consolar-nos e socorrer-nos.

Após ouvir a exposição do mentor que se responsabilizara pelas bênçãos recebidas, esclareceu, bem humorado:

— Sim, vocês cometeram pequeno engano. Nossos irmãos ainda não se acham habilitados para o retorno à saúde, com o êxito desejável. Imprescindível baixar a taxa das melhoras efetuadas…

E, sem qualquer delonga, o superior podou energias aqui, diminuiu recursos ali, interferiu em determinados centros orgânicos mais além, e, com grande surpresa para o nosso grupo socorrista, os irmãos enfermos, com ligeiras alterações para a melhoria, foram restituídos ao estado anterior, para que não lhes viesse a ocorrer coisa pior.

Irmão X
(.Humberto de Campos)

II

Deus pôs a dor entre os homens,

Andando de déu em déu.

Para indicar o caminho

Que leva às portas do Céu. ()

Colombina

III

As penas chegam depressa

E vão-se devagarinho,

Pois somos sempre nós mesmos

Quem lhes prepara o caminho. ()

Sabino Batista

IV

Não há cura para as nossas doenças da alma, quando nossa alma não se rende ao impositivo de recuperar a si mesma. ()

Bezerra de Menezes


Esta mensagem foi publicada originalmente em 1969 pela FEB e é a 32ª lição do livro “”



Irmão X
Francisco Cândido Xavier


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