Janela Para a Vida
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Ele casava a filha numa festa E o sitiante, em meio aos convidados, Explica sobre o filho que lhe resta: — Meu rapaz, um gigante de destreza, É criado, conforme a natureza. Vai por todos os lados, Estuda como quer e quando quer. Homem é diferente de mulher, Não se deve mostrar com ares de menina, Nada de contenção ou disciplina. Endimião, meu filho, é um atleta perfeito. Não só isso. É uma grande inteligência, Sem qualquer pensamento acovardado e estreito. É livre para toda experiência Em que deseje realizar-se, Sem máscara, sem freio, sem disfarce… Aparecendo a pausa, um amigo aparteia: — Mas, coronel, e a lei da educação? — A educação — replica o interpelado — Nunca foi o tabu que se receia, É caminho do impulso liberado Para elevar a civilização. Era assim o sitiante: um homem singular. A palestra, porém, fora rompida. A filha e o genro estavam a chegar, Morariam não longe do lugar E apresentavam-se contentes Para o abraço de terna despedida. Endimião, em plena juventude, Era dono da força e da saúde. Dois anos findos sobre o relatado No longo entardecer de um dia quente, Eis o rapaz surgindo, de repente, No sítio do cunhado. A irmã tanto se alegra quão se espanta, Estava a sós com velha governanta; O marido ausentara-se em serviço… Um dia apenas, breve compromisso. O rapaz se declara de passagem, Diz-se ansioso por seguir viagem… Mas a irmã, em diálogo escondido, Roga-lhe: — Fica, irmão, estou desorientada, Tenho medo da noite… Meu marido Deixou comigo, em caixa resguardada, Duzentos e cinquenta mil cruzeiros… A nossa governanta é pessoa cansada, Nossos poucos peões e alguns vaqueiros Não residem tão perto… Este sítio é um lugar quase deserto. Somente em nossos cães consigo companheiros… A noite se avizinha, Temo ficar sozinha, Tenho medo, confesso… O irmão sorriu e esclareceu: — Não posso. Agora me despeço, Tenho grande jornada Para vencer até o fim do dia… E acrescentou, num gesto de alegria: — Irmã, não tenhas medo. Ninguém sabe o que guardas em segredo. Deixando a moça amedrontada, Saiu no próprio carro em disparada. Mas, depois de uma hora, Eis que ali chega, inopinadamente, O conhecido pai da estimada senhora. Soubera o genro ausente, por um dia, E viera fazer-lhe companhia. Júlio, reencontro e lembranças do lar, O diálogo segue ativo e manso Até que se despedem, a buscar, No silêncio noturno, a bênção do descanso. Alta noite, em seu quarto, a senhora desperta, Tem pela frente um homem mascarado, Que lhe aponta um revólver, lado a lado, E lhe diz numa voz estranha e sibilante: – É um assalto, Quero todo o dinheiro, Toda a quantia por inteiro… Ouvi o seu marido a conversar na praça E exijo a soma toda… Atônita, a senhora, a tremer e a tremer, Ergue-se à luz do luar que vem pela vidraça E põe-se a obedecer… Segue na direção da caixa que lacrara, No entanto, o genitor já despertara… Pé ante pé, caminha armado, Faz luz que jorra, em cheio, no salão, E atira sobre o homem mascarado Que se estira no chão. Acorrem servidores prestimosos E o defensor da filha solicita, Ante a senhora, agoniada e aflita: — Que alguém me desmascare este sujeito, Não se importem com o sangue a borbulhar no peito, Quero ver esta cara de ladrão… Sob as mãos calejadas na lavoura, Primeiro, surge a cabeleira loura, Depois, em dolorosa exclamação, Todos gritam um nome: “Endimião!…” O pai que dera o filho à liberdade Sem ressalva, sem base, sem suporte, Cai sobre o filho, agora entregue à morte, Sobre quem arrojara o rápido gatilho E clama a estremecer em convulsivo pranto: — Oh! Deus, por que matei o filho que amo tanto?!… Socorre-me, Senhor!… Ah!… meu filho, meu filho!… |
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