Jardim da infância

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Capítulo XVIII

Simão, o mendigo


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Doente, pobre, velhinho,

O desditoso Simão,

Arrimado a seu bordão,

Andava devagarinho…


Pés e mãos em chaga aberta,

Lá ia o velho, coitado!

Enfermo, desamparado

E humilde na estrada incerta.


Cabelo todo branquinho,

Rugosa a face morena,

O pobre metia pena

A vagar pelo caminho…


De onde viera? Ora, quem

Buscava saber ao certo?

Vinha de longe ou de perto?

Ninguém sabia, ninguém.


Só lhe sabiam do nome,

E que, em miséria, sem nada,

Ele esmolava na estrada,

A fim de matar a fome.


Estendendo seu chapéu,

Pedia, cheio de dor:

— Uma esmola, meu senhor,

Por amor ao Pai do Céu!…


Mas, oh! Deus, que desalento

Neste mundo de aflição!

Ninguém ouvia Simão

Nas horas do sofrimento.


— Passai de largo! é leproso!…

Diziam homens cruéis —

— Oh! não vos aproximeis

Deste ancião perigoso!…


— Ah! que graça! Põe-te à brisa!

Exclamava outro passante

Nada de esmola ao tratante,

Que este velho não precisa!…


O mendigo, nos seus ais,

Dizia: — Viva a saúde!

Trabalhei enquanto pude,

Agora, não posso mais…


Toda a gente lhe fugia,

Ninguém lhe dava uma sopa,

Nem um trapinho de roupa

Para a noite da agonia.


Muito tempo era passado,

E o desditoso velhinho

Sentia-se mais sozinho,

Mais doente, mais cansado…


Chegou, enfim, um momento

Em que o velho sofredor

Caiu de frio e de dor

Na estrada do sofrimento.


Caiu e sonhou, contente,

Embora a sede e o cansaço,

Que Jesus vinha do Espaço

Dizendo-lhe, docemente:


“— Escuta, meu bom Simão,

Não temas, querido amigo!

Sê forte! Eu estou contigo.

Chegaste à ressurreição.


“Não chores. Estou aqui!…

Terminou tua aflição,

Estás em meu coração!

Pensavas que te esqueci?


“Enquanto o mundo enganado

Atormentava-te ao peso

De zombaria e desprezo,

Eu sempre estive ao teu lado.


“Teus prantos e tuas dores

São, hoje, a luz que te veste

No campo do amor celeste,

Repleto de eternas flores.”


E Jesus, em voz mais terna,

Concluía: — “Vem, Simão,

À doce consolação

Do mundo de luz eterna!…”


E Simão, chorando e rindo,

A seguir, ditoso, o Mestre,

Esqueceu a dor terrestre,

No céu venturoso e lindo.


O caminho era de estrelas

De tão sublime matiz

Que o pobre ria, feliz,

Sem saber como entendê-las.


No outro dia, ao reconforto

Do sol de coroa erguida,

Acharam Simão sem vida…

O mendigo estava morto.




Essa é a 44ª lição do livro “Antologia Mediúnica do Natal”, editado pela FEB em 1966.



João de Deus
Francisco Cândido Xavier


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