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Capítulo XXIV

Caso vulgar


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João comia. João dormia.

Tinha pouco o que fazer

Passeava, andava e ria,

Mas João queria morrer.


Dizia que o mundo é falso,

Despenhadeiro traidor,

Senzala de crueldade,

Toda cravada de dor.


Por mais que o guia buscasse

Despertá-lo para o bem,

Tudo inútil. João clamava

Xingando como ninguém.


O mentor rogava calma

No serviço meritório,

João respondia que o mundo

É um horrendo purgatório…


Afirmava ouvir apenas

Pragas, lamentos e ais.

E rematava: — “Meu guia,

Agora não posso mais…


“Quero a sua companhia,

Preciso mudar de sorte,

Colaborar, ao seu lado,

Na vida depois da morte…”


E tanto pediu repouso

Na chorança sem limite

Que o pobre desencarnou,

A toque de meningite.


Sob os cuidados do guia,

João acordou, foi tratado…

O mentor, ao vê-lo forte,

Anunciou-lhe, afobado:


— “João amigo, eis o momento!…

Você queria morrer,

Agora venha comigo,

Servir é o nosso dever”


O moço que detestava

Disciplina, horário e prova,

Começou desapontado

A imprevista vida nova.


Seguindo os passos do guia,

Entre surpresas crescentes,

Passava, dias e dias,

Doando força a doentes;


Amparava hansenianos,

Balsamizava feridas,

Corria sempre em socorro

De crianças desvalidas.


Gastava nos hospitais,

Às vezes, noites inteiras,

Garantindo a vigilância

De enfermeiros e enfermeiras.


O protetor sem repouso

Parecia não ter paz,

Onde surgisse em auxílio,

João devia vir atrás.


Certo dia, João, cansado,

Disse ao guia: — “Não aguento,

Não mais aguento a pedreira

De prisão e sofrimento…”


Pede o guia : — “Fala, filho!…”

E chorando gritou João:

— “Eu quero viver na Terra,

Prefiro a reencarnação…”




Jair Presente
Francisco Cândido Xavier


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