Maria Dolores

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Capítulo XVIII

A mensagem do Pântano


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Estaquei para ver, à margem do caminho,

O pântano esquecido,

Que ali me recordava um mendigo tristonho,

Paralisado à força, entre a penúria e o sonho.


Aqui e ali, a relva florescente,

Além, jequitibás de braços estendidos

Para as aves em festa…


Não longe, começava o mundo da floresta.


Fitando a água parada,

Ampliando no chão a cratera barrenta

Ou a ferida sangrenta,

A deprimir a estrada,

Indagava de mim: — “Por que haveria,

Um quadro assim na gleba desolada,

Em meio à tanta terra, esbanjando beleza,

Um pedaço de dor e de agonia,

Humilhando o esplendor da natureza?”


Foi quando o charco, então, me respondeu:

— “Ouve-me, coração! Houve tempo em que eu

Também, fui uma parte do jardim,

Que encontras neste bosque,

Um refúgio de paz, parecendo sem fim…


Mas aquele a quem Deus entregou este campo

Para ajudar, criar, erguer e produzir,

Ante a preparação do futuro melhor,

Nunca me viu chorando, em derredor

Da mata que trabalha em favor do porvir;

Talvez por distração ou por zelo no ganho,

Não pensa que eu exista em suplício tamanho…


Na posição mais baixa em que vim a nascer,

Tive de resguardar na intimidade

Enxurrada e detrito

Como quem sonha e chora em pesado conflito;

Moscas depositaram vermes em meu rosto,

Tornei-me, assim, um vaso descomposto,

Um recanto enfermiço;

Não encontro ninguém que me estenda socorro,

Para que eu também tenha um ponto de serviço.

Deus que não desampara cousa alguma

Deu-me algum verde … O verde que me alcança,

A fim de que eu não perca o resto da esperança.


Para que o homem note a penúria em que vivo,

Deu-me plantas que aguentam minha dor,

Que, às vezes, me recobrem de perfume,

Em camadas de flor,

E ajudando-me em tudo,

Manda que a vida espalhe em meus barrancos

Lençóis e mais lençóis de lírios brancos,

Como a dizer aos homens que eu também,

Quero aprender pureza e praticar o bem.


Escuta-me! Entretanto,

Muito de raro em raro,

Passa alguém por aqui a registrar-me o pranto

De pleno desamparo,

E muita gente crê

Que o Céu me fez por terra envilecida,

A fim de envenenar a grandeza da vida.


Onde está quem me possa libertar

Das algemas de lama,

Dos vermes que me empestam todo o ar,

Da morte que me arrasa,

Doando-me, por fim,

A minha condição de solo ou de jardim,

Capaz de ser o enfeite o brilho de uma casa?”


Depois de ouvir o pântano, pensei:

Quantos irmãos fora da lei,

Quanta gente sem paz a que se arrime,

Entregue à ignorância e à dor, à treva e ao crime,

Por falta de atenção!…

Então, pedi a Deus nos dê mais união,

Mais trabalho e mais fé,

Mais solidariedade e mais suor,

Paz e compreensão,

A fim de cultivar, no próprio coração,

A bênção de servir na seara do amor!




Maria Dolores
Francisco Cândido Xavier


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