Mensagem do Pequeno Morto

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Capítulo XVIII

Reparação

Terminada a prece, recompus a fisionomia, pedindo ao professor me ensinasse o melhor recurso de resgatar o erro cometido por mim noutro tempo.

Recomendou-me, então, em preleção que servisse para todos os alunos da classe, a aproveitar o ensino e a experiência, dispensando o possível carinho aos animais, que são igualmente criaturas de Deus em marcha progressiva para o aperfeiçoamento, como todos nós, e exortou-me a renovar as recordações daquela hora, com orações fervorosas e sinceros propósitos de nunca mais destruir a vida dos seres frágeis e inofensivos da Criação Divina.

Em seguida, comentou as consequências desastrosas de nossos gestos impensados ou criminosos, que espalham desarmonias e perturbações.

Explicou que tem visto inúmeros meninos com os quais se verificou o que me ocorria, embora fossem outros os fatos lamentáveis recordados. Lembrou muitas crianças de grande porte, com bastante entendimento, que passam longas horas derrubando ninhos, prendendo aves ou matando-as sem consideração, perseguindo cães trabalhadores ou apedrejando, por perverso prazer, animais úteis e mansos.

Esclareceu que todos os jovens dessa espécie experimentam aqui provações bem amargas, sendo obrigados a reparar as faltas que levaram a efeito no mundo, com absoluto menosprezo das respeitáveis determinações dos pais ou dos bons conselhos das pessoas mais velhas.

Desde então, lembro-me de Bichaninho, sinto-lhe, ainda, a imagem dentro de mim; entretanto, com o poder da prece, meu pensamento tranquilizou-se, voltando ao passado em atitude de sincero arrependimento, pedindo perdão.

Humilhei os meus sentimentos caprichosos, dos quais sempre ocultara o lado mau, e, por isso, tenho melhorado.

Já não possuo mais ócios e nem horas desaproveitadas. Em todos os instantes consagrados a recreios e diversões, encontro árvores para cuidar e animaizinhos daqui, aos quais posso auxiliar com eficiência e proveito.

Eu, que tanto me alegrava vendo as aves perseguidas pelos meninos fortes, hoje me dedico a ajudar pequenos pássaros na construção de ninhos.

E observo que, diante da minha atitude interior transformada, todas as pessoas que me cercam como que se transformaram para mim. Recebo olhares afetuosos e agradecidos de toda a parte. Os professores e colegas parecem-me mais simpáticos, mais amigos.

Notando-me o sincero esforço para corrigir-me, ninguém me falou do gato apedrejado. O episódio triste foi esquecido bondosamente por todos.

Devo às árvores e aos passarinhos, aos quais me tenho consagrado nos últimos tempos, as alegrias que me enchem o coração.

Tenho quase a certeza de que Bichaninho me perdoou a maldade. Sinto que fiz a paz comigo mesmo e creio que, se eu voltasse presentemente para casa, seria melhor filho e melhor irmão.

Ó Dirceu, nunca atormente nem mate os animais úteis e inofensivos! Tenho chorado muito para reparar o erro que cometi.


Carlos
Neio Lúcio


Carlos
Francisco Cândido Xavier


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