Mensagem do Pequeno Morto

Versão para cópia
Capítulo III

O sono bom

Surpreendido, notava que nenhum de vocês fazia caso da presença de Tia Eunice, dando-me a impressão de que não na viam; e até o doutor Martinho, que lhe ficava defronte, mostrava absoluta indiferença. Ela, contudo, não estava menos satisfeita por isso.

Após acomodar-se à cabeceira, nossa tia pousou a mão macia sobre a minha cabeça é grande alívio me banhou o coração.

Tive a ideia de que raios de sol me penetravam o corpo em desalento. Não pude conversar como desejava, mas consegui pensar mais claramente. Desviei a atenção que concentrara na garganta dorida e raciocinei sem maior aflição.

Estaria menos mal? A morte permaneceria rondando-me o leito? Que aconteceria nos próximos minutos?

Quis endereçar algumas perguntas à Tia Eunice, explicando-lhe, ao mesmo tempo, que sentia imenso receio de morrer; todavia, meus lábios estavam quase imóveis.

Ela, porém, segundo minha observação, percebeu, de pronto, o que me passava no cérebro.

Sorriu-me, bondosamente, e disse:

— Você, na verdade, acredita que alguém possa desaparecer para sempre? Não creia em semelhante ilusão… É preciso tranquilizar-se. Afinal de contas, os dias de dor e as noites de insônia têm sido numerosos.

Sorriu, com ternura mais acentuada, inspirando-me profunda confiança, e tornou a dizer:

— É necessário que você durma sossegado, sem qualquer inquietação.

E como eu lhe ouvisse os conselhos, acrescentou:

— Descanse, Carlinhos! Ceda, sem temor, à influência do sono. Velarei por você…

Em seguida, passou a mão direita, de leve e repetidamente, sobre a minha garganta cheia de feridas. A transformação que experimentei foi completa. Acreditei que me estivesse aplicando deliciosa compressa de alívio. As dores que me atormentavam, havia tanto tempo, cederam, pouco a pouco.

Indizível tranquilidade dominou-me, por fim. Entreguei-me, confiante, aos carinhos de Tia Eunice, como me abandonava, comumente, à ternura de mamãe.

Logo após, a mão dela, carinhosa e boa, afagou-me o rosto, banhado de suor, detendo-se docemente sobre minhas pálpebras… Tentei, ainda, olhar para você; todavia, não pude.

A visitante inesperada cerrou-me os olhos, com brandura, e acentuou:

— Durma, Carlinhos! você está cansado…

Nada respondi com a boca; entretanto, concordei mentalmente, agradecido e reconfortado.

Tia Eunice observou-me a silenciosa atitude de satisfação, porque, nesse instante, curvou-se e beijou-me.

Recordei-me, então, do beijo de mamãe, cada noite, e, em vista do alívio que eu sentia, entreguei-me finalmente ao sono bom.


Carlos
Neio Lúcio


Carlos
Francisco Cândido Xavier


Acima, está sendo listado apenas o item do capítulo 3.
Para visualizar o capítulo 3 completo, clique no botão abaixo:

Ver 3 Capítulo Completo
Este texto está incorreto?